O cardeal Gerhard Müller prestou homenagem ao papa emérito Bento XVI, que morreu hoje (31), descrevendo-o como um "grande pensador" e um "verdadeiro doutor da Igreja para hoje".

O cardeal Müller, prefeito emérito do Dicastério para a Doutrina da Fé, também descreveu Bento XVI como um homem de grande sensibilidade, humor e humildade, que tinha "profunda sabedoria como participante do amor de Deus".

Entrevistado por National Catholic Register, o cardeal alemão, que fundou o Instituto Bento XVI para divulgar os trabalhos de Joseph Ratzinger, falou sobre o legado de Bento XVI para a Igreja, respondeu a alguns de seus críticos e refletiu sobre como sua morte pode afetar o criticado Caminho Sinodal Alemão.

Consultado sobre as obras mais relevantes de Bento XVI sobre teologia e doutrina, o cardeal destacou que “os melhores livros são sua ‘Introdução ao Cristianismo’ e ‘Escatologia: Morte e Vida Eterna’, e sua trilogia de Jesus para um público em geral bem educado”.

“Os livros sobre Agostinho e Boaventura requerem uma formação teológica acadêmica para uma melhor compreensão”, disse.

O cardeal Müller recomendou ainda a leitura de “suas muitas homilias edificantes e fortalecedoras da fé, que também são facilmente acessíveis nas Obras Completas (16 volumes)”.

Em relação aos que criticam Joseph Ratzinger por uma teologia supostamente incoerente que tenta conciliar posições contraditórias, como a modernidade e a tradição, e aos que dizem que ele é rígido e conservador, o cardeal destacou que "só os ignorantes ideologicamente de mente estreita podem dizer isso”.

“Santo Irineu de Lyon, a quem o papa Francisco declarou 'Doctor Unitatis' (Doutor da Unidade), fala contra os gnósticos de todos os tempos que querem aprisionar o mistério de Deus em suas mentes limitadas, e que com e em Cristo toda a novidade e incomparável modernidade de Deus veio ao mundo”.

“A modernidade não é idêntica ao imanentismo antimetafísico do Iluminismo e às ideologias anti-humanas dos ateísmos filosóficos e políticos dos últimos três séculos”, disse.

“Só a fé cristã é moderna, isto é, ao nível das questões fundamentais reais sobre o sentido da vida e os princípios morais da sua formação”.

"Porque nenhuma teoria e nenhum ser humano pode nos redimir e nos oferecer suporte na vida e na morte, e sim a Palavra de Deus, que em seu Filho assumiu nossa humanidade e por sua cruz e ressurreição nos redimiu do pecado e da morte e nos deu a esperança de a vida eterna (Gaudium et Spes 10; 22)”, disse.

Sobre como Bento XVI será lembrado, garantiu que “foi um grande pensador e pessoalmente um cristão crente. Ele é um verdadeiro doutor da Igreja para hoje”.

Para o cardeal, a encíclica mais profunda de Bento XVI é Deus Caritas est (Deus é amor), "porque aqui está a soma e o ápice da autorrevelação do Deus Uno e Trino em sua essência, e a relação das três pessoas divinas, apresenta-se o contemporâneo no mais alto nível magistral”.

O cardeal Müller também destacou que Bento XVI “era uma pessoa muito boa, muito sensível, bem-humorada, humilde e, sobretudo, um homem de profunda sabedoria como participante do amor de Deus”.

Sobre o efeito da morte de Bento XVI no polêmico Caminho Sinodal Alemão, que suscitou acusações de heresia e temores de um possível cisma, o cardeal disse: “Temo que esses protagonistas de uma antropologia distante de Cristo não se impressionem por um dos maiores estudiosos cristãos de nosso tempo”.

“Com eles, se o Espírito Santo não causa diretamente uma profunda conversão dos corações, uma ideologia ateia sufoca todas as sementes da fé sobrenatural e revelada”, lamentou.

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