O médico espanhol José María Simón Castellví, presidente emérito da Federação Internacional das Associações Médicas Católicas (FIAMC), criticou a repetida nomeação de "acadêmicos do aborto, defensores da eutanásia em algum grau ou detratores da Humanae vitae" como membros da Pontifícia Academia para a Vida. “Alguém convenceu o Santo Padre a isso", lamentou.

Em um artigo intitulado "Academia para a Vida: não posso mais ficar calado!", publicado hoje (19), o médico espanhol alertou que essas nomeações são "exatamente o oposto do que desejava João Paulo II", que fundou a Pontifícia Academia para a Vida em 1994.

Além disso, alertou que as nomeações vão contra "o que é razoável para o bem da Igreja peregrina nesta terra".

“E valiosos cientistas defensores da vida foram deixados de lado”, lamentou.

Embora Simón Castellví não mencione nomes em seu artigo, as mais recentes nomeações do papa Francisco para a Pontifícia Academia para a Vida foram feitas no sábado (15) e incluíram a economista ateia e pró-aborto Mariana Mazzucato, bem como monsenhor Philippe Bordeyne, teólogo crítico da encíclica de são Paulo VI Humanae vitae, que recolhe e explica a posição da Igreja Católica sobre o uso de anticoncepcionais.

Simón Castellví lembrou em seu artigo que no sábado (22) será celebrada a festa de são João Paulo II, "de muitas maneiras também chamado papa da vida e da família".

“Ele criou a Pontifícia Academia para a Vida para estudar a fundo as formas de defender a vida humana e sua transmissão desde a concepção até a morte natural”, disse o médico católico.

O presidente emérito da FIAMC lembrou que esta instituição “colaborou muitas vezes com a Academia e organizámos congressos conjuntos de altíssimo nível científico. Também publicamos em revistas científicas de alto impacto”.

“Eram tempos em que, deixando de lado as legítimas discussões acadêmicas ou organizacionais, tanto seus presidentes como todos os seus membros defendiam a vida humana como Deus os levava a entender”, afirmou.

Além disso, destacou que na Pontifícia Academia para a Vida “houve presidentes que sabiam o que era o DNA, a boa obstetrícia e a comunicação dos aspectos seguros da Doutrina e das leis da natureza”.

"O professor Jérôme Lejeune, descobridor da causa da trissomia 21 e defensor da vida do nascituro e da dignidade dos nascidos com a síndrome (N.d.R.: de Down), foi o primeiro presidente”.

O papa Francisco nomeou dom Vincenzo Paglia presidente da Pontifícia Academia para a Vida em 15 de agosto de 2016.

O médico Simón Castellví disse em seu artigo que “a presidência de uma academia pontifícia é um cargo muito adequado para um leigo ou para uma mulher. Ou será que não temos na Igreja uma mulher agradável de lidar, casada, com sete filhos, com sólida formação em Medicina, que fale línguas e que possa ir a Roma com frequência? Somos tão ruins assim?”.

"Não acho que seja bom para ninguém que as mulheres tenham cargos intermediários ou sejam chamadas de 'diaconisas'", disse.

“Sim, é verdade que o fato de um clérigo competente ser nomeado presidente não é pecado, nem perto disso. Mas é uma possível oportunidade perdida para um leigo ou leiga realizar um trabalho muito necessário com alguma visibilidade”, acrescentou.

O médico católico advertiu que “o aborto provocado é uma ofensa a Deus, às mães, aos filhos e à Medicina. É o antirremédio. Nunca pode ser aceito ou promovido”.

Simón Castellví destacou, então, a importância da revogação do suposto “direito” ao aborto legal nos Estados Unidos, com a anulação de Roe x Wade na Suprema Corte, em junho deste ano.

“É uma porta aberta para a proteção da vida em um país ocidental muito importante sob vários pontos de vista e acho que nos ajudará, com o tempo, a reverter o flagelo do aborto, apesar do lobby que lhe pesa”, disse.

"Não é tudo e nem tudo está ganho, mas ainda deveríamos estar comemorando”, disse.

O médico católico disse que entende “que devemos tentar dialogar com aqueles que são a favor de destruir a vida intrauterina e atraí-los para a causa da cultura da vida”.

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“Mas não podem ser oferecidos púlpitos para divulgar suas ideias. Eles já têm muitos no mundo civil e com uma esmagadora maioria”, afirmou.

Simón Castellví recordou que são Paulo VI “pediu aos médicos e ao pessoal de saúde que obtenham toda a ciência necessária para, no que diz respeito à transmissão da vida, dar aos esposos que nos consultam conselhos e orientações sábios que esperam de nós com todo”.

“Então, em vez de perder tempo e saúde com anticoncepcionais ou argumentos inúteis, deveríamos ajudar as mães com problemas e os casais que precisam espaçar um nascimento por razões graves”, disse, destacando a a recente polêmica causada por um livro da Pontifícia Academia para a Vida que visaria mudar o ensinamento da Igreja sobre os anticoncepcionais.

A ajuda aos casais, disse o médico católico, pode ser dada “usando os recursos que a natureza já nos oferece: os períodos inférteis das mulheres, que hoje podem ser reconhecidos de forma simples, por exemplo, com o método de ovulação do Billings”.

Além disso, destacou, “o fim da vida deve ser sempre acompanhado pela família, um ministro religioso e bons cuidados paliativos”.

“Não é a mesma coisa morrer que ser morto. Morreremos por doença ou velhice, talvez por guerra, mas nunca deveríamos morrer por um ato médico deliberado”, disse.

Ao final de seu artigo, Simón Castellví acrescentou “uma antiga oração em favor do Santo Padre e de seus colaboradores, um dos quais é o presidente da Academia para a Vida. Nós cristãos temos que falar, mas também temos que rezar: 'o Senhor o proteja, o abençoe e o guarde, o faça feliz na terra e não o entregue à fúria de seus inimigos'".

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