“Gostaria de lembrar aos turistas que as origens da nossa fé estão aqui. A primeira Igreja entre as nações nasceu aqui. Os primeiros concílios ecumênicos que moldaram a fé católica ocorreram na atual Turquia. A missão para a Europa partiu daqui”, disse dom Martin Kmetec, arcebispo de Esmirna, Turquia, à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN). Para o arcebispo, é importante que os cristãos que visitam a Turquia também visitem as igrejas.

Kmetec disse que a comunidade cristã de sua diocese tenta “ser uma Igreja viva” com uma missão de portas abertas, em meio a um país com 98,3% de muçulmanos na população.

Embora atenda só cinco mil católicos, o arcebispo disse que “tentamos estar presentes e ser uma igreja viva. Nossa missão é uma missão da igreja de portas abertas”.

“Por isso, temos horários em que todas as nossas igrejas estão abertas. Às vezes, há adoração ao Santíssimo Sacramento e sempre há alguém para receber os visitantes e fornecer informações caso tenham dúvidas. Esta é a nossa forma de evangelizar nesta situação”, explicou o arcebispo, que pertence à Ordem dos Frades Menores Conventuais.

“Como franciscano, minha primeira prioridade é o testemunho de vida, a vida fraterna. São Francisco disse: Se há uma forma de pregar a palavra, então podem pregar. Estamos tentando fazê-lo, por exemplo, nas redes sociais e no novo site da diocese”, disse Kmetec.

O cristianismo tem dois mil anos de história na Turquia e é muito anterior à chegada dos turcos. A região que no início da Cristandade era a província romana da Ásia, era habitada majoritariamente por gregos. Os turcos só chegaram lá no século X. Tarso, onde nasceu o apóstolo são Paulo, fica hoje na Turquia. Éfeso, cidade em que viveram Maria e João, também. As sete cidades que são João cita no Apocalipse ficam, hoje, na Turquia. Mira cidade natal de são Nicolau de Bari, também é lá.

Após o desaparecimento do Império Otomano em 1922, com a perda dos territórios que hoje formam Síria, Israel, Iraque, entre outros países–, a atual Turquia começou um processo de secularização. No entanto, nos últimos anos, está experimentando um renascimento islâmico incentivado pelo presidente Recep Tayyip Erdoğan.

Apesar disso, o arcebispo de origem eslovena disse que “não diria que os cristãos são expressamente discriminados. Mas há experiências negativas no trato com autoridades e administrações. A Igreja Católica não é reconhecida como pessoa jurídica”.

“Mas se pensarmos no diálogo, eu diria que há um diálogo da vida. Se penso na Cáritas, por exemplo: a Cáritas faz parte da Igreja, faz parte da nossa diocese. Há um escritório em cada diocese. E ajuda a todos, cristãos, muçulmanos e todos que estão indefesos", disse ele.

“Também temos reuniões com os imãs [líderes religiosos muçulmanos] em nossa área, por exemplo, no ‘Dia da Fraternidade’. Alguns padres e eu visitamos o prefeito da cidade e lhe demos um presente na ocasião: a tradução turca da encíclica Fratelli tutti do papa Francisco. A encíclica Laudato si’, que trata dos problemas ecológicos que afetam toda a humanidade, também foi traduzida para o turco”, acrescentou.

Dom Kmetec trabalhou no Líbano por quase onze anos e mora na Turquia desde 2001. Em 2020, o papa Francisco o nomeou arcebispo de Esmirna, no oeste do país.

Sobre o diálogo ecumênico, o arcebispo disse que “as relações com as outras Igrejas cristãs são geralmente boas. O patriarca ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, por exemplo, mantém bons contatos com o Movimento dos Focolares e com o novo vigário apostólico de Istambul, dom Massimiliano Palinuro”.

"Aqui em Esmirna, nos encontramos com cristãos ortodoxos, mas também com cristãos anglicanos, em várias festas cristãs", disse.

Ele contou que “recentemente, padres armênios celebraram uma liturgia armênia em nossa igreja católica de são Policarpo, porque eles não têm sua própria igreja em Esmirna. Além disso, junto com os armênios em Esmirna, abrimos uma pequena loja para a Sociedade Bíblica vender livros. Portanto, há bons sinais de diálogo ecumênico”.

Ele também disse que para o trabalho pastoral eles têm um padre alemão que atende seus compatriotas que vivem em Esmirna.

“Eu ficaria feliz se pudéssemos encontrar outro padre para outras paróquias, pelo menos no verão para turistas. Mas isso também é um problema financeiro. Talvez o Conselho Europeu das Conferências Episcopais possa nos ajudar”, disse.

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