O bispo de Limoeiro do Norte (CE), dom André Vital, pediu aos vereadores de Aracati (CE) que aprovem uma lei que proíba a realização de “eventos de estilo carnavalesco no período da Semana Santa”. O pedido foi feito em virtude do evento intitulado “Paixão no Aracati”, com shows promovidos pela prefeitura local, em dias do Tríduo Pascal.

Na quinta-feira, 7 de abril, dom Vital se pronunciou na tribuna da Câmara de Vereadores de Aracati. Durante a sessão, estiveram presentes padres e outras lideranças cristãs, além de diversas pessoas que seguravam cartazes com frases como “Respeite a minha fé”, “Sou cristão e não abro mão”.

Dom Vital destacou que os cristãos não são “uma associação cultural em torno de uma figura mitológica que não gosta de shows, de carnaval”, mas sim “parte do Corpo de Cristo”. “E nós reconhecemos o Deus que se encarnou há mais de 2 mil anos, que deu a sua vida pregado na cruz numa sexta-feira que nós chamamos a Sexta-feira Santa, que permaneceu no sepulcro, no silêncio no Sábado Santo, mas que rompeu as cadeias da morte na madrugada do Domingo da Ressurreição”, disse.

“Celebrar esta verdade durante a Semana Santa há séculos não é um teatro alternativo aos eventos anunciados inicialmente intitulados ‘Paixão no Aracati’, ‘a melhor Semana Santa do Estado’”, completou. Para o bispo, o fato de o poder público realizar os shows no Sábado Santo e no Domingo de Páscoa “é promover o escárnio da fé cristã”.

O próprio bispo pediu para falar na Câmara de Vereadores após a divulgação dos shows promovidos pela prefeitura de Aracati. O cartaz de divulgação anunciava “a melhor Semana Santa do Estado”. Inicialmente, os shows estavam programados para os dias 15 a 17 de abril. O evento recebeu críticas de vários representantes da igreja, entre as quais dom André Vital. Após essa repercussão, o prefeito Bismarck Maia anunciou que não haveria carnaval na cidade, apenas shows e que o show da madrugada de sexta-feira para sábado seria adiado. Mas, confirmou os shows nas noites de sábado e domingo.

Durante seu pronunciamento na Câmara Municipal, dom Vital apresentou dois pedidos aos vereadores. Primeiro que, exercendo “a missão que o povo confiou a esta casa, de controle externo dos atos políticos e administrativos em frontal desacordo com a vontade popular”, os vereadores “tomem as devidas medidas para o cancelamento de tais eventos neste momento totalmente inapropriado”.

Em seguida, pediu que “aprovem uma lei que torne proibido permanentemente a realização de quaisquer eventos de estilo carnavalesco no período da Semana Santa, incluído o Tríduo Pascal”. “Infelizmente a algumas pessoas até mesmo que se declaram católicas parece lhes faltar um catecismo básico. Semana Santa é a semana, não é um dia. Começa no Domingo de Ramos e termina no Domingo de Páscoa”, disse o bispo Por isso, acrescentou, “incluam a Semana Santa no calendário municipal por uma lei municipal, também como patrimônio cultural e imaterial”.

Dom Vital disse que, “como cristão, católico, bispo diocesano da diocese Limoeiro do Norte à qual pertencem as paróquias de Aracati”, tem a “missão de proteger e defender os valores e a tradição cristã, o povo de Deus e cada pessoa desrespeitada em seu direito de viver a sua fé”. Por isso, pronunciou-se em repúdio a este evento e conclamou as pessoas a se posicionaram através das redes sociais e de um abaixo-assinado físico e virtual, que já conta com mais de 100 mil assinaturas apenas na internet. “Creio que [esse número de assinaturas] é um sinal muito claro do que pensa o nosso povo”, disse o bispo.

Para o bispo, a Semana Santa, “momento tão sagrado da nossa fé”, exige “uma atmosfera apropriada, o que naturalmente implicaria no adiamento de todos os referidos eventos como foram previstos”. Entretanto, ressaltou que em nenhum momento foi pedido o cancelamento dos shows, apenas que não acontecessem na Semana Santa.

“Infelizmente, apesar de toda uma grande manifestação contrária, até o momento este pedido não foi ouvido ou considerado, nem atendido pelo senhor prefeito”, disse dom Vital. Pelo contrário, “o senhor prefeito pensou que poderia conciliar o inconciliável”, com o adiamento apenas do show da madrugada de sexta-feira para sábado e manutenção dos demais.

Dom Vital afirmou que, além do “caráter religioso, que representa a base da vida e da sociedade”, a promoção dos shows envolve também “aspectos sociais e econômicos”. Segundo ele, a prefeitura gastará “apenas para os artistas mais de 1 milhão de reais”, enquanto a população não é atendida em “necessidades básicas”, como “saúde, educação”. Além disso, afirmou que ainda há “as consequências da pandemia de covid-19”. “Certamente, há outras maneiras eficazes de aplicar tais verbas fomentando a economia local, a fim de beneficiar o povo de forma digna e sustentável”, declarou.

Carnaval na Semana Santa em Pernambuco

Também na quinta-feira, 7 de abril, o arcebispo de Olinda e Recife (PE), dom Fernando Saburido, repudiou festas de carnaval feitas pela iniciativa privada durante a Semana Santa e pediu que os fiéis não participem.

Dom Saburido afirmou que nos últimos dias circulou nas redes sociais informações “de que o governo do Estado estaria promovendo carnaval fora de época durante o período da Semana Santa”. O arcebispo disse que procurou o governador Paulo Câmara para se informar e recebeu como resposta a declaração de que “o governo de Pernambuco não vai patrocinar qualquer manifestação carnavalesca neste período”.

“Infelizmente, não apenas desta vez, mas em anos anteriores, festas como esta têm acontecido. Naturalmente, como cristãos, por um lado, repudiamos esses eventos da iniciativa privada neste período santo e apelamos para que pessoas de fé não prestigiem esses festejos. Por outro lado, respeitamos a liberdade dos que pensam diferente e não têm escrúpulo em ferir os sentimentos das pessoas de fé”, concluiu dom Saburido.

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