O papa Francisco dispensou o ex-cardeal Giovanni Angelo Becciu, que está sendo julgado por peculato, da obrigação do segredo pontifício, disse Giuseppe Pignatone, presidente do Tribunal do Vaticano ontem (30). O segredo pontifício protege informações confidenciais sobre o governo da Igreja universal. Sem o segredo, Becciu, que renunciou ao cardinalato quando foi acusado, pode depôr contra Cecilia Morogna, que também é acusada no julgamento do escândalo financeiro.

São dez acusados ​​de peculato, especialmente por causa da compra de um prédio de luxo em Londres como investimento da Secretaria de Estado, na qual Becciu era o segundo homem da hierarquia.

A audiência de ontem foi o interrogatório de monsenhor Mauro Carlino, ex-funcionário da Secretaria de Estado, acusado de extorsão e abuso de poder. Carlino serviu como secretário pessoal de Becciu e depois de dom Edgar Peña Parra, substituto do secretário de Estado.

O cardeal Becciu invocou o segredo pontifício sobre suas relações com Marogna, uma italiana de 40 anos acusada de desviar mais de 500 mil euros (cerca de R$ 3,1 milhões) que recebeu da Secretaria de Estado por meio de uma empresa registrada na Eslovênia em 2018 e 2019.

Marogna disse ter trabalhado para a Secretaria de Estado como consultora e estrategista de segurança, sob a autoridade de Becciu.

Em seu depoimento, monsenhor Carlino fez inúmeras referências a Deus e ao seu sacerdócio, contando inclusive a história de sua vocação como padre católico

Ele enfatizou a promessa de obediência que fez ao seu bispo no dia de sua ordenação e disse que sempre seguiu as ordens de seus superiores durante seus anos de serviço à Santa Sé.

Monsenhor Carlino disse que dom Peña Parra pediu que ele se envolvesse, como seu intermediário de confiança, para finalizar as negociações da Secretaria de Estado sobre a propriedade de Londres.

O prédio na 60 Sloane Avenue, em Londres, foi comprado em etapas de 2014 a 2018. Mas Gianluigi Torzi, o homem que negociou a última parte do acordo, vendeu as 30 mil ações majoritárias da empresa à Secretaria por meio da qual a propriedade em Londres foi vendida; mas manteve mil ações com direito a voto, através das quais o corretor mantinha o controle sobre o imóvel londrino.

Segundo monsnehor Carlino, o papa Francisco esperava que a Secretaria de Estado assumisse o controle da propriedade e fechasse a negociação com Torzi com o menor valor possível.

O padre disse que dom Peña Parra pediu sua ajuda, em obediência e confidencialidade, para resolver o "erro grave" das mil ações com direito a voto.

Carlino denunciou monsenhor Alberto Perlasca, que também trabalhava na Secretaria de Estado na época e que não foi acusado em troca de se tornar testemunha-chave no caso.

Perlasca foi o chefe do escritório administrativo e o funcionário que assinou os documentos de autorização que levaram à atribuição das ações com direito a voto a Torzi.

O interrogatório de Carlino continuará na próxima audiência, marcada para 5 de abril.

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