Embora o Presidente iraquiano, Jalal Talabani, tenha garantido ao Papa Bento XVI que "a lei islâmica não encontrará espaço na Constituição" recentemente ratificada no Parlamento e aprovada por um referendo popular, e "os cristãos têm os mesmos direitos que o resto dos cidadãos", os bispos caldeus continuam preocupados com a liberdade religiosa no país.

Em uma coletiva de imprensa organizada pelos bispos caldeus após sua audiência, Talabani respondeu à preocupação do Santo Padre pela liberdade religiosa no Iraque e sua inquietação sobre a implementação da lei islâmica ou "sharia".

"O Papa se mostrou satisfeito com minha resposta", acrescentou Talabani, que se encontra em uma visita oficial a Itália.

Segundo o Presidente iraquiano, o Papa manifestou muito interesse pelo processo democrático no Iraque. "Expliquei-lhe todos os projetos democráticos em curso, da Constituição, que poderá ser melhorada, até as próximas eleições, e além disso garanti um maior apoio aos cristãos", sustentou.

Do mesmo modo, Talabani disse que o Pontífice mostrou sua satisfação com o progresso democrático do Iraque e também estar "muito entristecido pelos sofrimentos e a situação que vive o povo iraquiano". O Papa ofereceu suas orações pela estabilização do país e o bem-estar de seus habitantes.

Ao referir-se ao papel que desempenha atualmente a Santa Sé no país, o Presidente iraquiano destacou sua importância para alcançar a paz "porque reconforta moral e espiritualmente todos os iraquianos".

Bispos iraquianos em desacordo

Alguns bispos iraquianos, entretanto, manifestaram seu desacordo com o oferecimento de tranqüilidade em relação à liberdade religiosa expressado por Talabani ao Papa. Com efeito, a atual Constituição assinala que "o Islã é a religião oficial do Estado e sua fonte básica de legislação", acrescentando que "nenhuma lei que contradiga os princípios estabelecidos pelo Islã poderá ser passada".

Durante a conferência de imprensa, o Patriarca caldeu de Bagdá e Presidente da Conferência Episcopal Iraquiana, Dom. Emmanuel III Delly, anunciou que a minoria cristã quer realizar uma "emenda em uma parte da Constituição" que esclareça princípios islâmicos citadosna Carta Magna ou se elimine o artigo que os menciona.

Segundo o Arcebispo de Kirkuk, Dom. Luis Sako, "é muito perigoso dizer que tudo é compatível com a lei muçulmana porque no Iraque existem outras religiões".

Do mesmo modo, denunciou que no Iraque os cristãos com dinheiro e os intelectuais estão abandonando o país com destino a Síria ou Jordânia porque se sentem ameaçados.

Dom. Sako explicou que existe uma grande proliferação de protestantes. "Existem já 16 novas Igrejas protestantes desde que chegaram as tropas norte-americanas, já que às vezes promete aos iraquianos tranformar sua casa em uma igreja protestante em troca de uma compensação econômica", denunciou o Arcebispo.

Cerca de vinte bispos se encontram nestes dias reunidos em Roma com ocasião do Sínodo extraordinário dos cristãos Caldeus.

O Iraque, país de maioria muçulmana, conta com uma minoria de cristãos calculada em 800 mil pessoas, quer dizer, apenas três por cento da população, dos quais 300 mil são católicos de rito caldeu.