A reunião anual de outono da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB, na sigla em inglês), que acontece de 15 a 18 de novembro, é a primeira assembleia com os bispos de fato presentes desde novembro de 2019.

Grande parte da atenção deste encontro se centra no documento sobre a eucaristia e a dignidade dos políticos católicos pró-aborto para recebê-la, em particular o presidente Joe Biden e a presidente da Câmara, Nancy Pelosi.

A seguir, há oito dados a serem considerados na tentativa de entender o que promete ser uma das assembleias episcopais mais analisadas dos últimos tempos.

1. Um começo pouco ortodoxo

Para começar, o primeiro dia da assembleia, que foi ontem, segunda-feira, foi totalmente fechado aos meios de comunicação por ser uma “sessão executiva”, coisa que normalmente fica reservada para o último dia.

Espera-se uma troca aberta sobre o documento “Coerência eucarística”, que deve ser aprovado ao final, mas talvez não antes de algumas discussões acaloradas.

A origem da expressão “coerência eucarística” está no documento final da V Conferência Geral dos Bispos da América Latina e do Caribe, realizada em Aparecida, no Brasil, em 2007.

O documento foi elogiado pelo cardeal Mario Jorge Bergoglio, seu redator principal, e autorizado pelo papa Bento XVI, que enfatizou as suas “numerosas e oportunas recomendações pastorais, motivadas por ricas reflexões à luz da fé e do contexto social atual”.

2. Voltando a se acostumar com as reuniões

Voltar às reuniões reais, e não por computador, certamente será um reajuste para os bispos, como tem sido para todos os demais. As pessoas tendem a se comportar de maneira diferente com o Zoom do que na vida real.

Certamente, é mais fácil estar em seu próprio escritório do que em um salão cheio usando uma máscara. O mero cenário da reunião tem impacto sobre o ritmo e a velocidade da assembleia.

3. Eleições de alguns cargos em vista

Além do documento de coerência eucarística, haverá eleições para os presidentes das comissões permanentes, bem como a eleição do tesoureiro e, provavelmente, um novo secretário-geral da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB) para substituir dom Jeffrey Burrill, que renunciou em julho após a divulgação do suposto uso do app para homossexuais Grindr.

Embora falte um ano para as principais eleições, já que o presidente, o vice-presidente e o secretário serão eleitos na assembleia de 2022, as eleições das comissões são vistas como uma referência em termos de influência ideológica da conferência.

A eleição para tesoureiro coloca o arcebispo Paul Etienne de Seattle, que é visto como um dos arcebispos mais "liberais", contra o bispo James Checchio de Metuchen, que está solidamente no campo moderado.

Para a presidência da Comissão de Adoração Divina a disputa está entre o arcebispo de St. Louis, dom Mitchell Rozanski, e dom Steven Lopes, do Ordinariato Pessoal da Cátedra de São Pedro. O arcebispo Rozanski foi repreendido pela comissão que agora busca liderar em março de 2020, depois de brevemente tentar permitir a unção para as pessoas que estão morrendo fosse dada por não sacerdotes. Lopes, um padre de rito latino, é o bispo do Ordinariato Anglicano, uma comunidade com seu próprio conjunto de tradições litúrgicas. O presidente desta comissão terá a tarefa de supervisionar a implementação do motu proprio Traditionis custodes do papa Francisco que restringe o uso da missa tradicional em latim.

Com exceções extremamente limitadas, a maioria da USCCB pouco fez para restringir a celebração da forma extraordinária em suas dioceses. Alguns disseram que vão "estudar" o assunto antes de tomar uma decisão sobre o que fazer.

4. Possíveis desempates nas eleições

As eleições da USCCB para cargos de liderança costumam ser bastante disputadas. A eleição para vice-presidente em 2019 foi dividida em vários segundos turnos e um critério de desempate "quem é o maior" foi usado para eleger dom George Murry S.J., como chefe da Comissão de Liberdade Religiosa.

Se for necessário usar um critério de desempate durante a reunião de 2021, o arcebispo de Seattle, dom Paul Etienne, seria o tesoureiro; o arcebispo Thomas Wenski de Miami venceria o bispo Mark J. Seitz, de El Paso, para a comissão de migração e o arcebispo Rozanski venceria o bispo Lopes para o culto divino, para citar alguns cargos importantes.

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5. Haverá atividades além da assembleia

Nem toda a ação para esta assembleia acontecerá dentro do Baltimore Marriott Waterfront, onde os bispos se reúnem.

St. Michael's Media Inc., a empresa matriz do site Church Militant, organizou um encontro de oração na terça-feira, 16 de novembro, para pedir que os bispos se arrependam do encobrimento de abuso sexual e outras ofensas.

Com o tema: "Bispos: Já é suficiente", o encontro está programado para incluir discursos do ex-estrategista de Donald Trump, Steve Bannon, e do comentarista político Milo Yiannopolous, entre outros.

6. Será desenvolvida uma atividade em defesa do nascituro

Além da reunião de oração mencionada, a “Marcha dos Homens” em oposição ao aborto, ocorreu ontem, começou do lado de fora das instalações da Planned Parenthood na 330 N. Howard St. e terminou do lado de fora do hotel dos bispos.

A propaganda no site do evento manifesta o espírito da marcha: “Há um homem conectado a cada aborto. Os homens são uma grande parte do problema, é hora de que todos os homens assumam a responsabilidade e sejam uma grande parte da solução”.

7. Documento sobre a Eucaristia

Em junho, os bispos votaram a favor da redação de um documento sobre a coerência eucarística.

Em meados de outubro, vazou o esboço do documento intitulado "O mistério da Eucaristia na vida da Igreja".

Uma análise de suas 26 páginas revela que não contém nada que possa ser considerado, mesmo remotamente, uma "reprimenda" a Joe Biden, ou a qualquer político de qualquer orientação política que, como o presidente, seja católico e atue firmemente em favor do aborto.

A única referência aos políticos veio na forma de uma reafirmação da declaração da USCCB de 2006 sobre os católicos na vida pública.

Além disso, não havia critérios no esboço sobre o que proibiria uma pessoa de receber a Eucaristia. O documento centrou-se principalmente na presença real e na eucaristia como instrumento de conversão.

Ainda é possível para os bispos modificar o documento antes de ser votado em sua totalidade. Uma maioria de dois terços é necessária para aprovação, e ainda precisaria da aprovação da Santa Sé antes de se tornar um documento de ensino.

8. Outras partes da assembleia estarão abertas aos meios

As partes da assembleia abertas à mídia - 16 e 17 de novembro - serão transmitidas ao vivo no site da USCCB, que publicará uma programação completa de reuniões e discursos.

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