O tribunal do Vaticano decidiu não anular o julgamento do cardeal Angelo Becciu e outros nove acusados no caso de investimento de dinheiro da Secretaria de Estado e do Banco do Vaticano na compra de um prédio em Londres, mas mandou repetir uma parte das diligências por causa de erros cometidos durante a investigação.

Na terceira audiência do processo sobre a gestão de fundos da Santa Sé, o presidente do tribunal, Giuseppe Pignatone, recusou o pedido da defesa de declarar nulo o julgamento dos acusados, e do promotor, que pediu que o julgamento fosse reiniciado.

O tribunal ordenou que todos os documentos do processo, inclusive as escutas telefônicas, fossem postas à disposição da defesa dos acusados. Também ordenou a devolução parcial dos documentos ao promotor de Justiça para que se repitam interrogatórios, a pedido do próprio promotor.

Da mesma forma, ordenou redefinir a situação de monsenhor Albero Perlasca e esclarecer se sua declaração foi feita como réu ou como testemunha. Perlasca, colaborador do cardeal Becciu na Secretaria de Estado, fez uma declaração em um interrogatório por vídeo cujo conteúdo é considerado de importância crucial para o desenvolvimento do processo.

A causa principal que está sendo julgada se refere ao desvio de recursos da Secretária de Estado e do Instituto de Obras da Religião (IOR), conhecido como Banco do Vaticano, na compra em 2014 de um prédio em Londres para transformá-lo em apartamentos de luxo.

Quando o investimento ocorreu, o cardeal Becciu era o substituto da Secretaria de Estado do Vaticano. Segundo a acusação, ele teria usado sua posição para desviar US$ 300 milhões da Secretaria de Estado e de um empréstimo do IOR, para a compra da propriedade de Londres.

Também teria usado outros US$ 200 milhões obtidos em um empréstimo concedido pelo banco suíço BSI. Para esconder essas operações, o cardeal teria tentado manipular os balanços do Vaticano.

O cardeal Pell, então prefeito do Secretaria de Economia, teria detectado o movimento e pedido explicações ao cardeal Becciu. No entanto, pouco depois, o cardeal Pell teve que enfrentar um julgamento por abuso na Austrália, um julgamento no qual foi condenado em primeira instância, preso e, por fim, absolvido e libertado.

Durante o processo contra Pell, segundo a declaração de monsenhor Perlasca, o cardeal Becciu teria feito a transferência de 700 mil euros do Vaticano para a Austrália.

Finalmente, a operação de Londres fracassou, resultando na perda do investimento do Vaticano. No entanto, os sócios de Becciu, os também acusados Enrico Crasso, Raffaele Mincione e Gianluiggi Torzi, teriam obtido grandes benefícios.

O processo tem muitas ramificações e não se limita apenas à operação de Londres. O cardeal Becciu deve enfrentar a acusação de enviar dinheiro do Vaticano para iniciativas privadas de seus irmãos.

Também é suspeito de enviar dinheiro do Vaticano a uma de suas colaboradoras, Cecilia Marogna, também acusada, por supostos serviços diplomáticos. Marogna teria usado o dinheiro do Vaticano dedicado a instituições de caridade para comprar itens de luxo valiosos.

René Brülhart e Tommaso Di Ruzza são acusados ​​de saberem sobre a operação de Londres e não a terem impedido, apesar de dirigirem o órgão de controle financeiro interno do Vaticano e de terem capacidade para impedi-la.

Na Secretaria de Estado, Fabrizio Tirabassi, com a colaboração de monsenhor Mauro Carlino, são acusados de terem supervisionado os investimentos.

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