Vídeo sobre o presépio peruano na Praça de São Pedro (em espanhol).

Este 2021, o presépio que estará no Vaticano para o Natal sairá da comunidade andina de Chopcca, no Peru. Um dos artistas responsáveis é Manuel Said Breña Martínez, encarregado de fazer as esculturas da Sagrada Família.

Breña tem 47 anos de idade, e é artesão desde os 15. “Através dos presépios, sempre tentamos influenciar sobre quem é Deus, Jesus, sobre princípios, valores, através da religião católica”, explicou à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, o artesão e músico nascido em Huancavelica, na zona central andina do Peru.

“Nestes tempos, necessitamos que as pessoas se encham de muita paz, muita solidariedade e ainda mais nestes tempos de pandemia, quando as pessoas sempre necessitam do Senhor e de abrir seus corações para que Deus saiba reconhecer-nos como seus filhos, porque também caímos em depressão, em tristeza por estes momentos tão difíceis que estamos passando”, disse Breña.

Na sua carreira, Breña se dedica a pesquisar e usar tradições locais, como a “dança das tesouras” e o “vigawantuy”, um mutirão comunitário para colocar a viga principal do teto de uma casa ou igreja.

Em 2011, Breña fez um presépio inspirado na comunidade de Chopcca, um povoado de cerca de 10 mil habitantes, perto de Huancavelica, cidade a 3,5 mil metros acima do nível do mar.

“Ao ver que Chopcca era um lugar muito rico no tocante ao vestuário e porque eu via que eles eram muito ligados à religião católica. Eles têm cantos muito bonitos dedicados a Jesus, à Virgem e são José, eu disse a mim mesmo: vou fazer um presépio que tenha muito a ver com Chopcca. Por isso, em 2011, me atrevi a preparar um presépio desse tipo”.

Aquele presépio, que inspirou o que estará no Vaticano este ano, obteve o primeiro lugar no Concurso Nacional de Presépios “Natal é Jesus” do Instituto Cultural Teatral e Social (ICTYS), que organiza o evento desde 2005 e reúne artistas de todo o Peru.

A ideia de expor um presépio no Vaticano surgiu alguns anos depois, em 2019, em um diálogo com as autoridades de Huancavelica e o doutor Luis Repetto Málaga, museólogo e gestor cultural que morreu em junho de 2020. Três propostas foram enviadas a Roma e a de Manuel Breña foi escolhida.

Como será a Sagrada Família?

Manuel Breña explicou à ACI Prensa como será cada uma das figuras da Sagrada Família.

“O são José vai ter uma estatura de, mais ou menos, entre 1,7 e 1,8 metros” de altura e “terá um chapéu preto com todos os seus detalhes, bandeirinhas peruanas na parte bordada e seu ponchinho (manto de lã sem mangas) Chopcca, sua cinta, seu casaco e sua ´huaraca` (atiradeira) e vai levar uma vara de comando, representando os ´varayoc` que existem nas comunidades, que são as autoridades”, explicou Manuel.

As meias de são José serão coloridas e ele terá chinelos de couro de lhama que os chopcca usam tradicionalmente.

A Virgem Maria terá “um chapéu com bordados e vai levar um cobertor que terá, nas costas, o escudo pátrio” peruano, com a vicunha, a cornucópia e a árvore da quina.

Ela também vai vestir “um casaco e um corpete, resgatando a forma antiga de se vestir, e uma saia com sobressaia, que atualmente não são usados, mas, neste caso, estou tentando recuperá-la com meu presépio”, disse Manuel.

O anjo que acompanhará a Sagrada Família terá um vestuário parecido ao de são José e portará “um instrumento chamado ´pincullo` (de sopro) e uma ´tinya` (pequeno tambor)”.

“O Menino Jesus, que será o centro de todo esse presépio, irá ´hillpuska`, ou seja, envolto em um cobertor e enrolado”, explicou.

“Nas comunidades, as crianças são envoltas em faixas para que fiquem com a postura correta. Alguns dizem que isso é feito para que ela não se assuste, outros dizem que é para que seu corpinho, sua estrutura, seja bem formada nos primeiros meses de vida”, explicou.

As imagens serão feitas de fibra de vidro, resina e pintura acrílica, para resistir ao frio. Manuel contou que haverá um destaque para o vermelho, o verde e o amarelo como cores primárias, que estarão sobre um fundo preto para que haja contraste.

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O artista destacou que os chopcca “recebem a gente com um sorriso, com os braços abertos e sempre oferecem o que de mais delicioso possam ter nas suas humildes cozinhas, com todo o amor do mundo. Dão um prato de comida e alguma bebida. E tratei de retratar isso também nesses presépios que fiz”.

Uma das principais atividades dos chopcca é a agricultura, sendo a batata um dos seus principais produtos. “De acordo com o que eu estava descobrindo, só naquela área existem mais de 300 variedades” de batata. No Peru, existem cerca de três mil variedades de tubérculos.

Em 15 de outubro de 2014, o Ministério da Cultura declarou a cultura camponesa da comunidade de Chopcca como Patrimônio Cultural da Nação pela sua originalidade, representatividade e importância dentro da cultura andina.

Para concluir, Manuel Breña afirmou que “é uma alegria imensa que um trabalho que fiz em 2011 possa ter tanto destaque com tudo isto e tenha tido tanta repercussão, e sido tão atrativa para muita gente”.

“Também dá satisfação que Huancavelica e o Peru possam apresentar seus produtos e fazer com que estas comunidades também sejam conhecidas a nível nacional e mundial”, concluiu Manuel.

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