A irmã Shahnaz Bhatti é uma religiosa paquistanesa das Irmãs da Caridade de Santa Joana Antida Thouret que trabalhou no Afeganistão até 25 de agosto, quando conseguiu sair do país.

Sua missão era “a assistência espiritual e material aos pobres”, disse a irmã à fundação Ajuda à Igreja que Sofre.

Em agosto passado, as irmãs foram embora do país por causa da volta dos talibãs ao poder, depois da retirada das tropas americanas do Afeganistão. A religiosa lembrou que foram “momentos muito difíceis, pois estávamos trancadas em casa e tínhamos medo. Há mais de um ano éramos apenas duas [irmãs na comunidade]. Mas foi possível. A religiosa que me acompanhava foi embora e eu fiquei sozinha até o final”.

“Ajudei as irmãs da madre Teresa, nossas vizinhas, a sair com suas catorze crianças gravemente deficientes e sem família e a embarcar no último voo para a Itália antes dos atentados. Se eles não tivessem sido resgatados, não teríamos partido”.

A irmã Shahnaz estava desde 1999 no Afeganistão, com outras duas religiosas: a irmã Teresia, da congregação de Maria Bambina, e a irmã Irene, da congregação das irmãs da Consolata.

Em 2001, sua Congregação decidiu unir-se ao projeto “Salvem as crianças de Cabul”, animado por um apelo do papa são João Paulo II.

A Igreja na Itália respondeu ao apelo de são João Paulo “com generosidade através da UISG (União Internacional de Superioras Gerais) de congregações religiosas”, disse a religiosa.

“Tínhamos uma escola para crianças com deficiência mental e síndrome de Down de 6 a 10 anos, que eram preparadas para que ingressassem no sistema escolar público. Colaboravam conosco professores, cuidadores e cozinheiras nativas. Com a ajuda das autoridades italianas, pudemos trazê-los com suas quinze famílias à Itália, onde foram recebidos por congregações religiosas que foram muito generosas e acolhedoras”, explicou a religiosa.

Quando chegou ao Afeganistão, a primeira dificuldade que a irmã Bhatti enfrentou “foi aprender o idioma local, porque no Afeganistão não aprendem inglês e nem sequer é possível ensinar”.

Uma dificuldade para adaptar-se ao país “foi familiarizar-se com seu mundo, seus costumes e sua mentalidade para poder dialogar e estar perto deles. A maior dificuldade foi não poder nos movimentar livremente, porque sempre tínhamos que estar acompanhadas por um homem”, explicou.

“Eu, que tinha que fazer trâmites nos bancos e em outros lugares, tinha que ir acompanhada de um homem nativo. Duas mulheres não significam nada e, naturalmente, não contam”, disse ela.

O que mais lhe marcou, disse, foi “o sofrimento ao ver as mulheres tratadas como coisas. Dava uma dor indescritível quando víamos as jovens sendo obrigadas a casar-se com a pessoa indicada pelo chefe de família, contra a sua vontade”.

A irmã Shahnaz afirmou que não havia liberdade religiosa no Afeganistão mesmo antes da retirada dos militares ocidentais e da volta dos talibãs ao poder.  “Porque, para os afegãos, os estrangeiros ocidentais são todos cristãos. Então, eles sempre nos controlavam e não permitiam nenhum sinal religioso. As religiosas tinham que se vestir como as mulheres nativas e não podíamos usar um crucifixo visível”, explicou.

A religiosa agradeceu a ajuda do Ministério das Relações Exteriores italiano e à Cruz Vermelha Internacional “por nos ajudar a chegar ao aeroporto, e ao padre Giovanni Scalese, representante da Igreja Católica no Afeganistão, que esteve conosco até que fomos embora”.

“Foi um deslocamento difícil de Cabul até o aeroporto, com duas horas de espera e com tiroteios. Mas chegamos, finalmente”, lembrou ela.

A irmã Shahnaz Bhatti disse que as famílias das crianças que as religiosas atendiam em Cabul e que não puderam sair do país “continuam nos ligando e pedindo ajuda, ficaram em suas casas e correm perigo”.

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