Os líderes dos institutos católicos cujo carisma é a celebração da missa tradicional pediram aos bispos franceses mediadores num “diálogo humano, pessoal cheio de confiança e distante das ideologias e dos decretos administrativos” sobre o motu proprio Traditionis custodes com o qual o papa Francisco restringiu a celebração da missa na forma anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

“Com confiança, voltamo-nos antes de tudo aos bispos da França para que um verdadeiro diálogo possa ser aberto e que um mediador seja designado que seja para nós a face humana desse diálogo”, disseram numa declaração conjunta assinada em 31 de agosto, os chefes de institutos de issa tradicional.

A França é um dos principais centros do tradicionalismo católico. No dia seguinte às restrições do papa Francisco à licença dada por Bento XVI a todos os padres de celebrar a missa com o Missal Romano de 1962, os bispos franceses elogiaram as comunidades ligadas à missa tradicional. Os bispos disseram “querer expressar que habitualmente celebram segundo o Missa de são João XXIII e aos pastores deles, o cuidado e a estima que têm pelo zelo espiritual desses fiéis e a determinação deles em continuar sua missão juntos em comunhão com a Igreja e de acordo com as normas vigentes.”

Na carta dirigida aos bispos do mundo com que justificou as restrições que impôs à missa tradicional, o papa Francisco disse que se sentiu forçado a agir porque o uso da forma tradicional da missa era “frequentemente caracterizado por uma rejeição não só da reforma litúrgica, mas do próprio Concílio Vaticano II, alegando, com afirmações infundadas e insustentáveis, que ele traiu a Tradição e a ‘verdadeira’Igreja’.”

Os chefes dos institutos tradicionais, conhecidos coletivamente como comunidades Ecclesia Dei, disseram que seus membros não compartilham dessas atitudes.

“Os institutos signatários querem, acima de tudo, reiterar seu amor pela Igreja e sua fidelidade ao Santo Padre”, diz o comunicado conjunto. “Esse amor filial está hoje maculado por grande sofrimento. Sentimo-nos sob suspeita, marginalizados, banidos. No entanto, não nos reconhecemos na descrição dada pela carta que acompanha o motu proprio Traditionis custodes de 16 de julho de 2021.”

“Não nos consideramos a ‘verdadeira Igreja’ de modo algum. Ao contrário vemos na Igreja Católica nossa Mãe, em quem encontramos salvação e fé. Somos lealmente sujeitos à jurisdição do Supremo Pontífice e à dos bispos diocesanos, como as boas relações nas dioceses mostraram”.

Eles observaram que no motu proprio Ecclesia Dei, de 1988, são João Paulo II estabeleceu uma comissão para ajudar indivíduos e comunidades religiosas antes ligadas à Sociedade São Pio X “a permanecer unidas ao Sucessor de Pedro na Igreja Católica, ao mesmo tempo que preservam suas tradições litúrgicas e espirituais.”

“A eles foi prometido que ‘todas as medidas seriam tomadas para garantir a identidade de seus institutos em plena comunhão com a Igreja Católica’ ”, observaram os líderes.

“Os primeiros institutos aceitaram o reconhecimento canônico oferecido pela Santa Sé em completa adesão às pedagogias da fé, especialmente no campo litúrgico.”

“Esse compromisso solene ficou expresso no motu proprio Ecclesia Dei de 2 de julho de 1988, e depois de várias maneiras para cada instituto, em seus decretos de ereção e em suas constituições definitivamente aprovadas.”

Eles sublinharam que seus membros “fizeram votos ou assumiram compromissos segundo essa especificação.”

“Dessa forma, confiando na palavra do Sumo Pontífice, eles deram suas vidas a Crito para servir a Igreja”, disseram. “Esses padres e religiosos seviram a Igreja com dedicação e abnegação. Podemos privá-los hoje daquilo com que eles se comprometeram? Podemos privá-los do que a Igreja prometeu a eles pela boca dos papas?”

Os dirigentes dos institutos observaram que há rumores que a Santa Sé pretende enviar visitações apostólicas a suas comunidades em sequência a Traditionis custodes.

“Pedimos encontros fraternais em que possamos explicar quem somos e as razões de nossa adesão a determinadas formas litúrgicas. Acima de tudo desejamos um diálogo verdadeiro humano e misericordioso.”

A carta foi assinada em uma reunião em Courtalain, no norte da França por padre Andrzej Komorowski, superior-geral da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro; monsenhor Gilles Wach, prior-geral do Instituto de Cristo Rei Sacerdote Soberano; padre Luis Gabriel Barrero Zabaleta, superior-geral do Instituto Bom Pastor; padre Louis-Marie de Blignières, superior-geral da Fraternidade São Vicente Ferrer; padre Gerald Goesche, superior-geral do Instituto São Felipe Neri; padre Antonius Maria Mamsery; superior-geral dos Missionários da Santa Cruz; dom Louis-Marie de Geyer d’Orth, abade da abadia de Barroux; padre Emmanuel-Marie le Fébure du Bus, abade da abadia de Lagrasse; dom Marc Guillot, abade do mosteiro de Santa Maria de Lagarde; madre Placide Devillers, abadessa da abadia de Nossa Senhora da Anunciação, em Barrouox; e madre Madeleine-Marie, superiora das Irmãs Adoradoras do Coração \Real de Jesus.

A carta foi entregue a representantes dos bispos franceses no dia 1 de setembro.

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