Começa hoje o julgamento do cardeal Angelo Becciu, primeiro cardeal na história a ser julgado pela Justiça do Vaticano, por crimes financeiros. Na primeira audiência será ouvida a acusação contra os dez réus que poderão alegar se são culpados ou inocentes. O julgamento será em uma sala dentro dos Museus do Vaticano, reformada para permitir maior espaço para audiências.

O caso será julgado por três juízes do tribunal de primeira instância do Estado da Cidade do Vaticano. Os juízes são leigos nomeados pelo papa Francisco. O presidente do tribunal é Giuseppe Pignatone, promotor italiano aposentado. Os promotores Alessandro Diddi e Roberto Zannotti representam os interesses da Santa Sé.

O cardeal Angelo Becciu, que até 2015 foi substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé, o segundo cargo mais alto do órgão, é acusado de desvio de fundos e abuso de poder. O principal escândalo é a compra de um prédio de luxo na 60 Sloane Avenue, em Londres, pela Secretaria de Estado. Os empresários italianos Raffaele Mincione e Gianluigi Torzi, que negociaram e intermediaram a compra da propriedade pela Secretaria de Estado e o advogado Nicola Squillace, que trabalhava para Torzi, são acusados de desvio de fundos, fraude, apropriação indébita e lavagem de dinheiro.

Fabrizio Tirabassi, encarregado de investimentos da Secretaria de Estado e o monsenhor Mauro Carlino, tabém funcionário do órgão, são acusados de corrupção, extorsão, desvio de fundos, fraude e abuso de poder.

René Brülhart e Tommaso Di Ruzza, respectivamente o ex-presidente e ex-diretor da Autoridade de Informação Financeira (AIF), o órgão de combate à lavagem de dinheiro da Santa Sé, são acusados de abuso de poder, desvio de função e violação de confidencialidade.

A consultora italiana de segurança Cecilia Marogna é acusada de desvio de fundos por ter recebido meio milhão de euros da Secretaria de Estado através de Becciu e tê-los gasto em artigos de luxo e viagens.

Nenhum dos réus admitiu culpa. Brülhart, Di Ruzza e Becciu disseram à imprensa estar ansiosos para provar sua inocência no tribunal.

Cecilia Marogna disse ter interagido com agentes dos serviços secretos italianos e que foi paga pelo Cardeal Becciu para criar dossiês de informações incriminatórias sobre o pessoal do Vaticano. Becciu nega.

A equipe de defesa de Marogna inclui um ex-agente da inteligência italiana, Riccardo Sindoca, como consultor jurídico. Por meio dele, Marogna disse ao jornal italiano La Reppublica no mês passado que sua "relação de confiança" com Becciu "permanece inalterada". Ela também questionou as declarações do Secretário de Estado da Santa Sé, Cardeal Pietro Parolin, que disse desconhecer o que ela fazia pela Secretaria de Estado.

Brülhart teria tido um acordo de consultoria na Secretaria de Estado ao mesmo tempo em que era presidente da Autoridade de Informação Finanaceira, que também tem a função de notificar às autoridades judiciais sobre má conduta financeira. Seu advogado disse que o acordo era legítimo e aprovado pela Secretaria de Estado.

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