O arcebispo de São Francisco, dom Salvatore Cordileone, respondeu à presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, do partido Democrata da Califórnia, após ela ter mencionado sua fé católica para defender os esforços do governo federal para aprovar o financiamento dos abortos eletivos.

“Permitam-me repetir: ninguém pode pretender ser um católico devoto e aprovar o assassinato de uma vida humana inocente, e muito menos que o governo pague por isso”, disse o arcebispo à CNA, agência em inglês do grupo ACI.

A Emenda Hyde proíbe o uso de dinheiro do governo federal para o financiamento de abortos. Ela foi promulgada pela primeira vez em 1976, três anos depois da decisão do Supremo Tribunal dos Estados Unidos que legalizou o aborto em todo o país, em 1973, no caso Roe vs. Wade. Sendo a emenda uma lei não permanente, ela deve ser anexada ao projeto de lei sobre créditos individuais. Caso contrário, a emenda não entrará em vigor.

Dom Cordileone disse que “o direito à vida é um direito humano fundamental, o mais fundamental, e os católicos não se opõem aos direitos humanos fundamentais”.

Na coletiva de imprensa semanal realizada no Capitólio dos Estados Unidos, Pelosi manifestou, no dia 22 de julho, seu apoio à derrogação da Emenda Hyde. A parlamentar argumentou que esse é “um problema de saúde para muitas mulheres nos Estados Unidos, especialmente para as de baixa renda, nos diferentes estados” e “algo que tem sido tratado como prioridade por muitos de nós, durante muito tempo”.

Na coletiva de imprensa, Pelosi enfatizou sua fé. “Como católica devota e mãe de cinco filhos em seis anos, sinto que Deus abençoou meu marido e a mim com uma linda família, cinco filhos em seis anos, quase todos os dias”.

No entanto, a parlamentar afirmou que não se atreveria a tomar decisões no lugar de outras mulheres, no que diz respeito às suas famílias e ao aborto. “Não é meu papel determinar que isso é o que outras pessoas devem fazer, e [o financiamento do aborto no Medicaid] é uma questão de equidade e justiça para as mulheres mais pobres do nosso país”.

“Não posso estar mais orgulhosa dos meus companheiros católicos que se destacam na prestação deste serviço vital”, disse Pelosi. “E digo a eles: vocês são os únicos dignos de se chamar 'católicos devotos'!”.

Em resposta, dom Cordileone disse que “utilizar a cortina de fumaça do aborto como uma questão de saúde e justiça para as mulheres pobres é o resumo da hipocrisia. O que acontece com a saúde do bebê que está sendo assassinado? Que tal dar às mulheres pobres uma opção real, apoiando-as na escolha da vida?”

“Isso lhes daria justiça e igualdade com [relação às] mulheres que tem recursos, que podem permitir-se trazer um filho ao mundo. Pessoas de fé são as que administram clínicas pró-vida de gravidez em crise. Elas são as únicas que oferecem às mulheres pobres alternativas pró-vida”, em vez de “terem bebês assassinados em seus ventres”.

A Conferência Episcopal dos Estados Unidos pediu aos legisladores que preservem a Emenda Hyde e prepara um abaixo assinado em apoio da política pró-vida que, atualmente, conta com mais de 130 mil assinaturas.

Há muito tempo que Pelosi apoia a legalização do aborto. Em junho, ele disse a um jornalista: “Sou uma grande defensora da Roe vs. Wade. Sou mãe de cinco filhos em seis anos. Eu acho que tenho uma posição sobre esta questão, que é respeitar o direito de decidir da mulher”.

Em maio, Pelosi disse que estava “encantada” com uma carta do Vaticano aos bispos dos Estados Unidos, que falava da comunhão aos políticos favoráveis ao aborto. Ela afirmou que o Vaticano havia dado instruções aos bispos para que não fossem “divisores” nessa questão.

Em resposta, dom Cordileone afirmou que o Vaticano, na realidade, promovia o “diálogo” entre os bispos e os políticos pró-aborto “para ajudá-los a entender o grave mal que estão ajudando a cometer e acompanhá-los na sua mudança de coração”.

“Fico feliz em saber que a presidente da Câmara dos Representantes, Pelosi, disse estar satisfeita com a carta”, disse o arcebispo. Segundo ele, “a reação positiva da presidente Pelosi” à carta “aumenta a esperança de que possamos avançar nesta gravíssima questão”.

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