Pe. Tadeusz Pacholczyk, doutor em neurociências da Universidade de Yale e pós-doutorado na Universidade de Harvard, explicou as razões pelas quais um católico sim pode receber uma vacina derivada de uma linhagem celular de um feto abortado.

“À raiz dos resultados de várias empresas farmacêuticas sobre a eficácia e segurança das vacinas Covid-19, muitos estão se perguntando se administrar essas vacinas é eticamente correto. Os católicos têm o dever moral de se recusar a ser vacinados se a vacina foi produzida de forma antiética usando uma linhagem celular derivada do aborto? A resposta curta é 'não'”, explica o sacerdote, que também é diretor de educação do National Catholic Center for Bioethics na Filadélfia.

Isso significa que um católico pode receber uma vacina feita com uma linhagem de células de um feto abortado.

No artigo intitulado “Os católicos devem rejeitar uma vacina Covid-19 feita com uma linhagem celular derivada de um aborto?”, o sacerdote recorda que a Congregação para a Doutrina da Fé publicou em 2009 o documento Dignitas personae, sobre algumas questões de bioética.

Nesse texto é estabelecido que "razões graves poderiam ser moralmente proporcionadas para justificar a utilização do referido ‘material biológico’. Assim, por exemplo, o perigo para a saúde das crianças pode autorizar os pais a utilizar uma vacina, em cuja preparação foram usadas linhas celulares de origem ilícita, permanecendo firme o dever da parte de todos de manifestar o próprio desacordo em matéria e pedir que os sistemas sanitários disponibilizem outros tipos de vacina”.

Isso, diz o Pe. Pacholczyk, significa que “por razões graves, os católicos podem receber uma vacina Covid-19 relacionada ao aborto. Um motivo grave poderia incluir uma ameaça à saúde e ao bem-estar da pessoa”.

Por exemplo, "ser idoso ou sofrer de diabetes, obesidade ou outras condições de saúde que pioram seu prognóstico frente às infecções pode constituir claramente uma razão grave".

O doutor em neurociências explica depois que "usar vacinas Covid-19 fabricadas com linhagens celulares derivadas do aborto provoca fortes objeções morais e alguns podem e irão rejeitar as vacinas por este motivo".

“Embora seja uma decisão pessoal de consciência aceitar ou não a vacina, é importante deixar claro que a Igreja, por sua vez, não nos obriga a rejeitá-la devido às graves razões já explicadas, como na situação do idoso ou alguém com múltiplos problemas de saúde que enfrentará riscos significativos se contrair Covid-19”, continua.

Este fato, “evidentemente, de nenhuma maneira absolve ou diminui a falta grave daqueles que, em primeiro lugar, utilizaram linhagens celulares de abortos para fabricar vacinas”, esclarece o sacerdote que serve na Diocese de Fall River, no estado de Massachussets.

O que a Igreja diz?

O que o especialista disse está de acordo com o texto da Congregação para a Doutrina da Fé intitulada "Nota sobre a moralidade do uso de algumas vacinas anticovid-19", de 21 de dezembro de 2020.

Este documento explica que “quando não estiverem disponíveis vacinas contra a Covid-19 eticamente questionáveis (por exemplo, em países onde não forem postas à disposição dos médicos e dos doentes vacinas desprovidas de problemas éticos, ou onde a sua distribuição for mais difícil por causa de particulares condições de conservação e transporte, ou quando forem distribuídos vários tipos de vacinas no mesmo país, mas as autoridades médicas não permitirem aos cidadãos escolher a vacina a inocular), é moralmente aceitável utilizar as vacinas anticovid-19 que tiverem utilizado linhas celulares de fetos abortados no seu processo de investigação e produção”.

Isso significa que a Igreja Católica permite que uma pessoa receba uma vacina que tenha algum tipo de relação com um feto abortado.

O documento então explica que “a razão fundamental para considerar moralmente lícito o uso destas vacinas é que o tipo de cooperação para o mal (cooperação material passiva) do aborto provocado do qual derivam as mesmas linhas celulares, por parte de quem utiliza as resultantes vacinas, é remota”.

Assim, “o dever moral de evitar esta cooperação material passiva não é vinculativo, se houver um perigo grave como a propagação, de outro modo incontornável, de um grave agente patogênico: em tal caso, a difusão pandêmica do vírus Sars-Cov-2 que causa a Covid-19”.

O documento vaticano especifica então que “considere-se que neste caso podem ser utilizadas todas as vacinas reconhecidas como clinicamente seguras e eficazes, com a consciência certa de que o recurso a tais vacinas não significa uma cooperação formal para o aborto do qual derivam as células com que as vacinas foram produzidas”.

“Contudo, é bom frisar que o uso moralmente lícito destes tipos de vacina, em virtude das condições particulares que o tornam tal, não pode constituir em si mesmo uma legitimação, nem sequer indireta, da prática do aborto, e pressupõe a oposição a esta prática por parte de quem a ele recorrer”, especifica o texto.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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