Em resposta à rejeição de alguns fiéis à publicação do testemunho de uma sobrevivente de abuso sexual cometido pelo clero, o Arcebispo de Saint Paul e Minneapolis (Estados Unidos), Dom Bernard Hebda, indicou que as histórias de abuso são compartilhadas “não por vingança, mas por veracidade” e pediu orações pelos sobreviventes.

Em fevereiro, a entrevista que o jornal diocesano The Catholic Spirit realizou com Gina Barthel, na qual ela relatou seu testemunho como sobrevivente de abuso, foi compartilhada no Facebook de sua paróquia, St. Michael's Catholic Church em St. Michael, Minnesota.

A publicação foi eliminada poucas horas depois por reclamações a respeito, fato que deixou Barthel consternada, pois o objetivo de contar sua história era trazer esperança e mostrar que alguém “pode ser ferido no coração da Igreja e encontrar cura no coração da Igreja".

Barthel disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que não está preocupada se sua história foi compartilhada ou não, mas ficou magoada quando foi rapidamente removida e ficou preocupada com a mensagem que essa decisão enviou aos sobreviventes de abuso.

“Que esta publicação de Facebook tenha sido eliminada, e que tenha surgido a controvérsia sobre voltar a colocá-la, me deixou muito triste porque essa não é a Igreja que eu conheço e amo”, acrescentou.

Barthel destacou que a Igreja que conhece é aquela que ensina a não termos vergonha da vítima, “não manter suas histórias em segredo e certamente não silenciar as vítimas”, acrescentando que “há pessoas que estão olhando nas sombras” como a Igreja trata as vítimas de abuso por parte do clero ou vítimas de abuso em geral.

Em 13 de outubro, o testemunho de Barthel foi finalmente republicado no Facebook e site da paróquia, junto com uma declaração de Dom Hebda.

O Prelado indicou que o novo pároco, Padre Brian Park, pediu que o ajudasse “a cumprir a promessa que o Padre Richard (sacerdote que estava encarregado da paróquia anteriormente) fez a esta sobrevivente” e explicou a importância deste fato.

"Quando um sacerdote faz uma promessa a um sobrevivente de abuso do clero, sou da opinião de que nós, como clero, devemos fazer tudo ao nosso alcance para garantir que seja cumprida", assinalou.

Dom Hebda indicou que esta situação reflete a necessidade de “justiça, responsabilidade, compaixão e cura” com os sobreviventes de abusos sexuais pelo clero e em geral.

Do mesmo modo, acrescentou que nos últimos anos a Arquidiocese de Saint Paul e Minneapolis fez "um progresso significativo e potencialmente duradouro" em sua resposta de compaixão e apoio aos sobreviventes de abuso clerical.

“Não devemos retroceder. É importante para a vida de qualquer sobrevivente, especialmente dentro da Igreja, que todos nós permaneçamos firmes nas abordagens baseadas nos princípios agora vigentes”, assinalou.

Dom Hebda indicou que o Pe. Richards lhe comunicou que planejava republicar o artigo e organizar alguns eventos educativos sobre o abuso, antes de ser transferido para outra paróquia.

O Prelado acrescentou que a Igreja tem o dever de "apoiar as vítimas em seus caminhos para a justiça e a cura" e destacou que "é universalmente reconhecido como um momento essencial no processo de cura" que os sobreviventes de abuso possam contar suas histórias.

“Tornar público muitas vezes significa para eles que não estão mais sujeitos à manipulação do abusador. Este também pode ser um momento importante de justiça”, destacou.

Dom Hebda assinalou que as histórias de abuso são compartilhadas “não por vingança, mas por veracidade”, dando um passo positivo de cura para uma comunidade inteira e pode fazer com que os abusadores prestem contas por suas ações.

Ao falar sobre a resistência encontrada dentro da paróquia para publicar a história de Barthel, o Prelado pediu aos paroquianos que se juntassem a ele para "rezar pela cura de tais divisões".

“Juntem-se a mim também para rezar por todos os sobreviventes de abuso, bem como por suas famílias e por aqueles que os apoiam em sua cura e busca por justiça. Maria, Desatadora de nós, leve o amor do seu Filho às dificuldades da nossa vida”, concluiu.

O Bispo Auxiliar de Saint Paul e Minneapolis, Dom Andrew Cozzens, indicou à CNA que está feliz que a história de Barthel tenha sido compartilhada, porque em cada comunidade paroquial existem sobreviventes de abusos, seja por parte do clero ou outros.

“Existem vítimas de abusos em todas as paróquias e por isso devemos estar sempre vigilantes. E às vezes é difícil levantar essa realidade porque ninguém gosta de falar sobre isso”, frisou.

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Dom Cozzens acrescentou que espera que qualquer vítima de abuso que tenha seguido a história de Barthel veja que “a Igreja está empenhada em apoiá-los, mesmo que demore muito para fazê-lo, mesmo que ainda tenhamos uma mudança de cultura a fazer. Estamos empenhados em apoiar os sobreviventes e esperamos que eles entendam".

Finalmente, Barthel disse que é grata pelo apoio de sua arquidiocese, e agora de sua paróquia, em compartilhar sua história.

“Ter a voz do bispo Hebda é muito importante porque acredito que envia a mensagem correta, saudável e esperançosa à Igreja”, concluiu.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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