Nos Estados Unidos, gerou-se uma onda de comentários depois que o canal de televisão HBO Max removeu o filme clássico "E o vento levou" de seu catálogo e anunciou que será disponibilizado novamente em um futuro, junto com informações sobre o seu contexto histórico e denunciando seus aspectos racialmente carregados.

O filme de 1939, adaptado do romance de sucesso de Margaret Mitchell sobre a Guerra Civil Americana, é o primeiro filme em que uma artista afro-americana, Hattie McDaniel, ganha um Oscar. Ainda assim, os críticos dizem que o filme perpetua estereótipos prejudiciais sobre afro-americanos e glorifica a posse de escravos no Sul antes da guerra.

Embora é provável que o filme seja objeto de debate atualmente, poucas pessoas fora da Geórgia – estado onde ocorre o filme- sabem sobre sua conexão com a Igreja Católica.

Em 2011, um sobrinho de Mitchell doou metade da marca registrada e direitos literários do romance "E o vento levou" para a Arquidiocese de Atlanta, Geórgia.

Joseph Mitchell, filho do irmão de Margaret, Stephens, morreu em outubro de 2011, aos 76 anos. Os direitos do romance foram concedidos juntamente com uma herança de cerca de 15 e 20 milhões em outros ativos, e esperava-se que gerasse um dividendo anual para a arquidiocese.

"A Arquidiocese de Atlanta foi abençoada com um presente generoso através da bondade de Joe Mitchell", disse Dom Wilton Gregory, então Arcebispo de Atlanta, em 16 de agosto de 2012.

“Esse presente é uma reserva dos fundos arrecadados através do gênio de Margaret Mitchell e sua descrição das duras lutas da vida do sul durante e após a Guerra Civil. A família Mitchell tem um legado católico orgulhoso, e esse presente permitirá que esse legado e esse orgulho sejam compartilhados com muitas outras pessoas na arquidiocese”, disse.

“E o vento levou”, publicado em 1936, vendeu dois milhões de cópias em 1939 e continua vendendo milhares de cópias por ano nos Estados Unidos. Os direitos do filme foram vendidos em 1939.

Joseph Mitchell foi o último parente vivo de Margaret. Ele e seu irmão Eugene herdaram os direitos do famoso romance de sua tia.

Mitchell era membro da paróquia da Catedral de Cristo Rei (Atlanta) e pediu que parte de sua doação ajudasse a catedral, disse a arquidiocese.

Em 2012, Gregory designou 7,5 milhões de dólares do legado para o fundo de construção da catedral. Destinou 1,5 milhão à Catholic Charities Atlanta para uso imediato e outros 2 milhões de dólares para criar um fundo para as necessidades de longo prazo da instituição.

Joseph Krygiel, então CEO da Catholic Charities, disse que a agência estava "extremamente grata" pelo presente. Disse que a doação lhes permitiria expandir seus serviços para novas comunidades no norte da Geórgia.

Também se esperava que os fundos ajudassem a modernizar o sistema de banco de dados da Catholic Charities e substituíssem seus caminhões e caminhonetes antigos para o seu programa de refugiados.

"Estaremos em condições de comprar alguns equipamentos que precisamos desesperadamente durante os últimos anos", disse Krygiel.

Mais de 1 milhão de dólares da herança de Mitchell foi designado para um fundo de caridade, que deverá oferecer 10 mil dólares para as paróquias, missões e escolas católicas da arquidiocese através da Fundação Católica da Geórgia do Norte.

Além disso, outros 150 mil dólares seriam destinados ao Fundo de Assistência de Diáconos da Arquidiocese.

Mitchell também forneceu à arquidiocese uma coleção de primeiras edições autografadas de "E o vento levou", publicadas em vários idiomas, e uma história inédita da família Mitchell, escrita à mão pelo pai de Margaret, Eugene Muse Mitchell.

Dom Gregory disse, nesse então, que cada paróquia e escola da arquidiocese iria compartilhar os benefícios do presente.

"Todos devemos ser gratos pela bondade de Joe e recordar toda a família Mitchell em nossas orações", disse em 2012.

Publicado originalmente em CNA. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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