A tristeza de não poder comparecer presencialmente às celebrações do Tríduo marcou a Páscoa de milhares de brasileiros, especialmente dos que vivem fora do território nacional. Entretanto, graças às muitas iniciativas de paróquias e movimentos no país, as transmissões online terminaram por ser também motivo de reencontro e consolo para muitos destes fiéis.

“É o olhar para a cruz que nos ajuda a viver essa quarentena”, afirmou a brasileira Helena Sineiro, que há dois anos mora em Portugal e que, em meio à tristeza de não poder comparecer às celebrações, teve a alegria de acompanhar as celebrações da Páscoa pelas transmissões realizadas na sua comunidade de origem, a Paróquia Nossa Senhora de Fátima, no Rio de Janeiro.

Na foto (capa) o neto de Helena, Samuel de 3 anos, olhando fixamente para a cruz da paróquia da avó, simbolizou o olhar de esperança de muitos brasileiros.

“Nós não estávamos preparados para o que está acontecendo. Espero que quando tudo isso passar nós possamos ser pessoas melhores. Jesus nunca nos abandona, nós é que abandonamos o Senhor. Esse momento é para que a gente cresça não só espiritualmente, mas também humanamente. Devemos olhar para tudo o que está acontecendo e crer que a mão de Deus está nos conduzindo”, destacou.

Em meio à saudade de não poder receber a Sagrada Eucaristia, Helena destaca a alegria de ter podido participar da missa junto com a paróquia na qual serviu durante tantos anos.

“Está sendo uma grande alegria, pois eu deixei uma parte do meu coração na minha comunidade. Eu sentia uma saudade muito grande e essa possibilidade de acompanhar pela televisão é de muita valia para mim. Minhas talhas estão sendo cheias de um vinho novo. Ver a celebração na igreja na qual sempre participei é muito bom”, celebrou.

O pároco da antiga comunidade de Helena, padre Antonio José Afonso da Costa, também destacou que sempre é possível tirar coisas boas de situações como as que vivemos. Segundo ele, mesmo no sofrimento, Deus continua agindo e fazendo coisas surpreendentes.

“De algum modo uma crise como essa nos obriga a enfrentar desafios novos como a utilização dos meios digitais para alcançar e alimentar o povo com a fé. Nesse momento todas as comunidades estão tendo que ir um pouco além, aprendendo a usar melhor esses meios, otimizar o pouco de recursos que possuem para levar adiante o Evangelho”, disse o sacerdote da Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

Saudade da missa fez famílias rezarem ainda mais

Ainda segundo Pe. Antonio, “é óbvio que não podemos esconder a tristeza das comunidades não se reunirem para celebrar a Páscoa, já que o Cristianismo é uma religião da reunião, de pessoas que caminham juntas, se vêem, se abraçam e se ajudam. É muito doloroso não poder vivenciar isso e que as pessoas não possam receber os sacramentos nesse Tempo da Páscoa”.

Entretanto, destaca o pároco, “temos ouvido muitas coisas interessantes de pessoas que tinham familiares que não iam à Igreja e que em casa quiseram participar de todas as celebrações da Semana Santa.

Muitos também têm aproveitado esse tempo para evangelizar e transmitir uma mensagem de esperança e fé para aqueles que se encontram assustados com tudo o que está acontecendo no mundo.

“Eu tenho 65 anos e nunca imaginei ficar sem receber a Eucaristia. Vejo tudo isso como um grande sinal de Deus, é um tempo de reflexão”, testemunhou a aposentada Eliane Suarez, que tem enviado os links das missas para amigos brasileiros que residem na Espanha. “Eles também estão sentindo muita falta da participação presencial na missa”, relatou.

Helena reforçou que só a fé em Deus ajuda a superar a dor dessa ausência física dos sacramentos.

“Só Jesus nos ajuda a passar por tudo isso. Precisamos viver tudo isso com fé, olhando para Cristo. Sabemos que Jesus está vivo para sempre, mas Ele passou pela cruz. Olhando para o crucificado vemos quanto Ele nos amou. O preço que Cristo pagou por nós foi muito caro, nós agora só precisamos olhar para a cruz e crermos nesse imenso amor de Jesus por nós”, finalizou a brasileira.

Segundo dados do Itamaraty, estima-se que aproximadamente 3.5 milhões de brasileiros residem no exterior. Cerca de 100 mil vivem na Espanha e mais de 40 mil na Itália, países fortemente atingidos pela COVID-19. A religião da maioria dos cidadãos brasileiros é o catolicismo e o Brasil segue sendo segundo os números mais recentes divulgados pela Santa Sé, o país com mais católicos no mundo.

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