No domingo, 1º de março, faleceu, aos 95 anos, Ernesto Cardenal, sacerdote e poeta ícone da teologia marxista da libertação, que foi suspenso a divinis pelo Papa São João Paulo II, em 1984, por fazer parte do governo sandinista da Nicarágua, algo que é proibido pela lei canônica.

Segundo o jornal local La Prensa, Cardenal – nascido em 20 de janeiro de 1925, em Granada, Nicarágua – morreu devido a complicações cardíacas depois das 15h, após ficar internado por quatro dias em um hospital devido a problemas respiratórios.

Informa-se que será velado na funerária Monte de los Olivos e na terça-feira, 3 de março, será celebrada uma Missa fúnebre na Catedral de Manágua.

Ernesto Cardenal e outros sacerdotes como seu irmão Fernando, Miguel D'Escoto e Edgard Parrales, foram suspensos a divinis por fazerem política partidária, algo incompatível com o ministério sacerdotal, conforme estabelecido pelo Código de Direito Canônico.

Cardenal foi repreendido publicamente por São João Paulo II quando este visitou a Nicarágua em 1983. Na foto que entrou para a história, vê-se o Papa polonês sério diante do nicaraguense em posição de genuflexão e sorridente.

Ernesto Cardenal, poeta e ativista da teologia marxista da libertação, diria algum tempo depois que, naquela ocasião, o Santo Padre lhe pediu que "regularizasse sua situação".

O nicaraguense colaborou ativamente como parte da revolução da Frente Sandinista de Libertação Nacional, que terminou com a ditadura de Anastasio Somoza. Foi nomeado ministro da Cultura no mesmo dia em que os sandinistas venceram, em 19 de julho de 1979. Ocupou esse cargo até 1987.

Em 19 de janeiro de 2017, entrevistado pelo jornalista argentino Enrique Vázquez, Ernesto Cardenal afirmou que apenas Miguel D'Escoto recebeu o levantamento da suspensão imposta em 1984 e que ele não queria receber essa graça.

"Isso é falso, isso aconteceu apenas no caso de Miguel D'Escoto! Nunca levantaram minha suspensão sacerdotal e eu não estou interessado em que isso aconteça", disse.

Em 17 de fevereiro de 2019, o Vaticano restabeleceu as funções sacerdotais a Ernesto Cardenal como um gesto de misericórdia, considerando sua saúde debilitada e o fato de que há anos estava desconectado das atividades de militância política, conforme comunicado pelo Núncio Apostólico na Nicarágua, Dom Waldemar Stanislaw Sommertag.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

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