A situação econômica na Síria está se agravando e é “tão grave” que “quase não se pode comprar comida”, denunciou Irmã Maria Lúcia Ferreira (conhecida como Irmã Myri), em uma carta enviada à Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) Lisboa.

A religiosa portuguesa pertence à Congregação das Monjas de Unidade de Antioquia e vive no mosteiro de São Tiago Mutilado, em Qara. Segundo a Fundação ACN, na carta, Irmã Myri lamenta que, devido ao agravamento da situação econômica na Síria, até mesmo os projetos de ajuda humanitária que a comunidade religiosa desenvolve estão em causa.

A religiosa afirma que “as coisas estão piorando bastante” e aponta a crise que se vive no vizinho Líbano como uma das causas para esta situação.

A crise econômica enfrentada pela Síria é, conforme indica ACN, resultado não só do estado de guerra que atinge todo o país, mas também do embargo imposto pelas potências ocidentais. E a consequência dessa situação é que as populações estão confrontadas com diversos tipos de racionamento.

“Por exemplo, o gás é por senhas e para cada família há [só] um botijão por mês”, explica a Irmã Myri, acrescentando que “é necessário ir para as filas de manhã muito cedo”, pois não chega para todos. “Os últimos já não têm direito a gás…”.

Além disso, denunciou que há escassez de combustível para o aquecimento das casas, a eletricidade falta quase todos os dias e o dinheiro vale cada vez menos. “A lira tem estado a desvalorizar”, disse, reconhecendo que “tem sido através do Líbano, dos bancos do Líbano, que chegava muito financiamento” à Síria.

“Agora é impossível”, lamentou a religiosa, ao se referir especialmente à ajuda humanitária enviada de vários países do mundo, da Europa aos Estados Unidos, e que serve para implementar projetos de desenvolvimento local.

Um desses projetos, assinala a Fundação ACN, é organizado através do Mosteiro, no qual buscam dar trabalho através da produção de gorros de lã e, com isso, algum apoio financeiro às mulheres que vivem na vila de Qara.

Porém, no início de dezembro de 2019, Irmã Myti já havia se queixado de que os projetos de solidariedade “estavam ficando comprometidos” com o agravamento da crise econômica.

Os gorros de lã, destinados a serem distribuídos na Síria “pelas regiões em conflito”, ficaram quase todos para  produzir. Segundo a religiosa, em 2019, foram feitas “duas mil peças”, enquanto “em 2018, fizemos 16 mil”. “E tudo isto por causa do financiamento. Não temos dinheiro para poder comprar o material e pagar os salários. E isto é apenas um pequeno exemplo”, declarou.

A Fundação ACN também tem procurado diminuir o sofrimento da população local através de projetos de desenvolvimento. Como exemplo, cita a campanha “Uma Gota de Leite”, que tem merecido grande acolhida por parte dos benfeitores portugueses da Ajuda à Igreja que Sofre.

Realizado pelo Centro de Desenvolvimento Social na Arquidiocese Ortodoxa em Homs, o projeto “Uma Gota de Leite” é destinado a apoiar a alimentação de crianças oriundas de famílias mais carentes que vivem em Homs, Hama e Damasco.

Esta iniciativa abrange 298 crianças dos 0 aos 6 meses; 850 crianças de 7 meses a 1 ano; e 5.795 crianças até 10 anos de idade. A Fundação ACN pagou 266 mil euros pela distribuição de leite durante 6 meses.

Confira também: