O Papa Francisco pronunciou neste sábado, 23 de novembro, seu primeiro discurso oficial no Japão, durante encontro que teve com os bispos, aos quais incentivou a seguir pastoreando a pequena comunidade católica e afirmou que “proteger toda a vida”, lema da viagem, “e anunciar o Evangelho não são duas coisas separadas nem contrapostas, mas uma reclama e exige a outra”.

Francisco disse essas palavras na Nunciatura apostólica localizada em Tóquio, depois de escutar a saudação do presidente da Conferência Episcopal Japonesa e Arcebispo de Nagasaki, Dom Joseph Mitsuaki Takami, o qual recordou que este ano a Igreja local também celebra os 470 anos da chegada do santo jesuíta São Francisco Xavier e seus companheiros, que levaram o cristianismo a este país.

Entretanto, recordou o Prelado, em 1614 “começou uma perseguição que durou 260 anos e muitos foram martirizados”. Porém, “durante esse tempo, e principalmente na região de Nagasaki, os fiéis mantiveram sua fé de seu modo e a transmitiram através do batismo, da oração e do ensinamento”, relatou.

Dom Takami disse que, “em reconhecimento deste importante fato histórico, no ano passado, igrejas e vilas da área de Nagasaki foram reconhecidas como Patrimônio da Humanidade”.

Estas palavras do presidente do Episcopado japonês foram recolhidas pelo santo Padre em seu discurso. “Sois uma Igreja que se manteve viva pronunciando o Nome do Senhor e contemplando como Ele vos guiava no meio da perseguição”, disse-lhes e recordou o jesuíta São Paulo Miki, crucificado em fevereiro de 1597, junto com outros dois jesuítas e 23 franciscanos depois de serem forçados a caminhar mil quilômetros de Kioto a Nagasaki.

Assim, após compartilhar que desde jovem queria ser missionário no Japão, Francisco convidou os bispos a se unir em ação de graças a Cristo por todos os que durante séculos semearam o Evangelho e serviram ao “povo japonês com grande unção e amor; tal dedicação conferiu uma fisionomia muito particular à Igreja japonesa”.

Proteger a vida

O Papa Francisco recordou aos bispos japoneses que esta viagem apostólica, que concluirá em 26 de novembro, “decorre sob o lema ‘proteger toda a vida’; lema este, que pode facilmente simbolizar o nosso ministério episcopal. O bispo é uma pessoa que o Senhor chamou do meio do seu povo, para lho devolver como pastor capaz de proteger toda a vida; isto define, em certa medida, o alvo para onde devemos apontar”.

“Proteger toda a vida significa, em primeiro lugar, ter um olhar contemplativo capaz de amar a vida de todo o povo que vos está confiado, para reconhecerdes nele, antes de mais nada, um dom do Senhor”, afirmou Francisco e recordou que toda vida é “um dom gratuito”.

“Proteger toda a vida e anunciar o Evangelho não são duas coisas separadas nem contrapostas, mas uma reclama e exige a outra. Ambas significam estar atentos e vigilantes relativamente a tudo aquilo que hoje possa impedir, nestas terras, o desenvolvimento integral das pessoas confiadas à luz do Evangelho de Jesus”, expressou.

O Papa também lhes disse que o fato de a Igreja no Japão ser pequena e os católicos uma minoria “não deve desmerecer o vosso compromisso com a evangelização, pois, na vossa situação particular, a palavra mais forte e clara que se pode oferecer é a de um testemunho humilde, diário, aberto ao diálogo com as outras tradições religiosas”.

O Pontífice assinalou que visitará Nagasaki e Hiroshima para rezar “pelas vítimas do catastrófico bombardeamento destas duas cidades e darei voz aos vossos próprios apelos proféticos em prol do desarmamento nuclear”.

“Desejo encontrar aqueles que sofrem ainda as feridas daquele trágico episódio da história humana, bem como as vítimas do ‘tríplice desastre’”, de março de 2011, quando um terremoto de 9 graus provocou um tsunami na costa nordeste do país, depois do qual ocorreu o acidente nuclear de Fukushima.

O Papa Francisco incentivou a encomendar “à misericórdia do Senhor os que morreram, os seus familiares e todos os que perderam a casa e bens materiais. Não tenhamos medo de realizar sempre, aqui e em todo o mundo, a missão de levantar a voz e defender toda a vida como dom precioso do Senhor”.

Realidade da sociedade japonesa

Em seu discurso, o Santo Padre também abordou os “vários flagelos que ameaçam a vida de algumas pessoas das vossas comunidades, por várias razões atingidas pela solidão, o desespero e o isolamento”.

Disse que o aumento de suicídios, assim como o “bullying” (ijime) “e várias formas de consumo estão a criar novos tipos de alienação e desorientamento espiritual”, que afetam especialmente os jovens.

Francisco lhes pediu para prestar “atenção especial a eles e às suas necessidades, procurando criar espaços onde a cultura da eficiência, do rendimento e do sucesso possa abrir-se à cultura de um amor gratuito e altruísta, capaz de oferecer a todos – e não só aos mais prendados – possibilidades de uma vida feliz e realizada”.

O Papa lhes assegurou que, “com o zelo, as ideias e a energia que conseguirdes comunicar-lhes, para além de uma boa formação e um bom acompanhamento, os vossos jovens podem ser uma fonte importante de esperança para os seus coetâneos e dar um testemunho vivo de amor cristão. Uma proposta criativa, inculturada e engenhosa do querigma pode ter um forte reflexo em muitas vidas sedentas de compaixão”.

O Santo Padre os estimulou a, apesar de serem poucos, buscarem e fomentarem “uma missão capaz de envolver as famílias e promover uma formação capaz de atingir as pessoas onde quer que estejam”.

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“O ponto de partida para todo o apostolado situa-se no lugar onde se encontram as pessoas, com os seus hábitos e ocupações. Aí devemos alcançar a alma das cidades, dos lugares de trabalho, das universidades, para acompanhar com o Evangelho da compaixão e da misericórdia os fiéis que nos foram confiados”, afirmou.

Finalmente, disse-lhes que, como Sucessor de Pedro, “quer confirmar-vos na fé, mas vem também para tocar e deixar-se renovar nos passos de tantos mártires testemunhas da fé; rezai ao Senhor para que me dê esta graça”.

Ao término de seu discurso, o Santo Padre respondeu a algumas perguntas dos bispos japoneses.

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