Nesta quinta-feira, 21 de novembro, em seu segundo dia de visita à Tailândia, o Papa Francisco teve um encontro com as autoridades locais, a sociedade civil e o corpo diplomático credito no país.

Em seu discurso, o Papa fez um chamado aos países a criar os mecanismos necessários para proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e indicou que liberdade só é possível se “formos capazes de nos sentir corresponsáveis uns pelos outros e superar toda e qualquer forma de desigualdade”.

A seguir, o discurso completo do Santo Padre:

Senhor Primeiro-Ministro,
Membros do Governo e do Corpo Diplomático,
Distintos Responsáveis políticos, civis e religiosos,
Senhoras e senhores!

Agradeço a oportunidade de estar no vosso meio e poder visitar esta terra detentora de tantas maravilhas naturais e guardiã esplêndida de antigas tradições espirituais e culturais, como esta da hospitalidade que hoje me é dado experimentar pessoalmente e me apraz propor para estender e aumentar laços de maior amizade entre os povos.

Muito obrigado, senhor Primeiro-Ministro, pela sua recepção, pelas suas palavras de boas-vindas e pelo seu gesto de humildade responsável. Obrigado, porque, de tarde, terei ocasião de realizar uma visita de cortesia a Sua Majestade o Rei Rama X e à família real. Reitero a minha gratidão a Sua Majestade pelo amável convite a visitar a Tailândia e renovo-lhe meus venturosos votos pelo seu reinado, acompanhando-os com uma sincera homenagem à memória do seu falecido pai.

Alegro-me por poder saudar-vos e encontrar-me convosco, autoridades do Governo, das religiões e da sociedade civil, e nas vossas pessoas saúdo todo o povo tailandês. Os meus respeitosos cumprimentos também ao Corpo Diplomático. Aproveito esta ocasião para lhes desejar as maiores venturas, depois das recentes eleições que marcaram o regresso à normalidade do processo democrático.

Obrigado a todos aqueles que trabalharam para a realização desta visita.

Como sabemos, hoje os problemas que enfrenta o nosso mundo são realmente problemas globais; envolvem toda a família humana e exigem que se desenvolva um decidido esforço em prol da justiça internacional e da solidariedade entre os povos. Considero importante ressaltar que, nestes dias, a Tailândia concluirá o seu período de presidência da ASEAN, expressão do seu histórico empenhamento com os problemas mais amplos que enfrentam os povos de toda a região do sudeste asiático e também do seu interesse constante em promover a cooperação política, económica e cultural na região.

Há muito que a Tailândia, como nação multicultural e caraterizada pela diversidade, reconhece a importância de construir a harmonia e a convivência pacífica entre os seus numerosos grupos étnicos, mostrando respeito e apreço pelas diferentes culturas, grupos religiosos, filosofias e ideias. A época atual está marcada pela globalização, considerada com demasiada frequência em termos estritamente econômico-financeiros e propensa a cancelar as notas essenciais que configuram e geram a beleza e a alma dos nossos povos; ao contrário, a experiência concreta duma unidade que respeite e salvaguarde as diferenças serve de inspiração e incentivo para quantos têm a peito o mundo tal como o desejamos legar às gerações futuras.

Congratulo-me com a iniciativa de criar uma «Comissão Ético-Social», na qual convidastes a participar as religiões tradicionais do país a fim de acolher as suas contribuições e manter viva a memória espiritual do vosso povo. Neste sentido, terei oportunidade de me encontrar com o Supremo Patriarca Budista, como sinal da importância e urgência de promover a amizade e o diálogo inter-religioso e ainda como serviço à harmonia social na construção de sociedades justas, compassivas e inclusivas. Desejo assegurar-vos pessoalmente todos os esforços da pequena mas vivaz comunidade católica, para manter e promover as caraterísticas tão peculiares dos tailandeses, evocadas no vosso Hino Nacional: pacíficos e carinhosos, mas não covardes. E com o firme propósito de abordar tudo aquilo que ignore o grito de tantos nossos irmãos e irmãs que anelam por ser libertados do jugo da pobreza, da violência e da injustiça. Esta terra tem como nome «liberdade». Sabemos que esta só é possível se formos capazes de nos sentir corresponsáveis uns pelos outros e superar toda e qualquer forma de desigualdade. Por isso, é necessário trabalhar para que as pessoas e as comunidades possam ter acesso à educação, a um trabalho digno, à assistência sanitária, e assim alcançar os níveis mínimos indispensáveis de sustentabilidade que tornem possível um desenvolvimento humano integral.

A este respeito, quero deter-me brevemente nos movimentos migratórios, que constituem um dos sinais caraterísticos de nosso tempo; faço-o não tanto pela mobilidade em si mesma, como sobretudo pelas condições em que a mesma se desenrola e que representa um dos principais problemas morais colocados à nossa geração. Não se pode ignorar a crise migratória mundial. A própria Tailândia, conhecida pela hospitalidade que tem oferecido aos migrantes e refugiados, viu-se perante esta crise devido à fuga trágica de refugiados dos países vizinhos. Almejo – uma vez mais o digo – que a comunidade internacional atue com responsabilidade e clarividência, possa resolver os problemas que levam a este êxodo trágico e promova uma migração segura, ordenada e regulamentada. Oxalá cada nação desenvolva mecanismos eficazes para proteger a dignidade e os direitos dos migrantes e refugiados, que enfrentam perigos, incertezas e exploração na sua busca da liberdade e duma vida digna para as suas famílias. Não se trata apenas de migrantes, trata-se também da fisionomia que queremos dar às nossas sociedades.

E, nesta linha, penso nas mulheres e nas crianças de hoje que são particularmente feridas, violentadas e expostas a todas as formas de exploração, escravidão, violência e abuso. Expresso o meu agradecimento ao Governo tailandês pelos seus esforços para extirpar este flagelo, bem como a todas as pessoas e organizações que trabalham incansavelmente para erradicar este mal e proporcionar um caminho de dignidade. Neste ano em que se comemora o trigésimo aniversário da Convenção sobre os Direitos da Infância e da Adolescência, somos convidados a refletir e trabalhar, com determinação, perseverança e rapidez, para proteger o bem-estar das nossas crianças, o seu desenvolvimento social e intelectual, o acesso à educação, bem como o seu crescimento físico, psicológico e espiritual (cf. Discurso ao Corpo Diplomático, 7/I/2019). O futuro de nossos povos depende, em grande parte, do modo como garantirmos aos nossos filhos um futuro na dignidade.

Senhoras e senhores, hoje mais do que nunca as nossas sociedades precisam de «artesãos da hospitalidade», homens e mulheres que cuidem do desenvolvimento integral de todos os povos, no seio duma família humana que se empenhe a viver na justiça, solidariedade e harmonia fraterna. Vós, cada qual a partir da própria posição, dedicais vossas vidas a ajudar para que o serviço ao bem comum possa chegar a todos os cantos desta nação: esta é uma das tarefas mais nobres duma pessoa. Com estes sentimentos e almejando que possais cumprir a missão que vos está confiada, invoco a abundância das bênçãos divinas sobre esta nação, sobre as suas autoridades e os seus habitantes. E peço ao Senhor que guie cada um de vós e vossas famílias pelas sendas da sabedoria, da justiça e da paz.

Muito obrigado!

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