Evo Morales renunciou ontem à presidência da Bolívia, depois de mais de duas semanas de protestos após as eleições realizadas em 20 de outubro e em meio às acusações de fraude contra ele. Um bispo que serve na Bolívia explica o que vem a seguir para o país.

Dom Cristóbal Bialasik, Bispo de Oruro, conversou com ACI Prensa, agência em espanhol do Grupo ACI, após saber da notícia da renúncia de Morales ocorrida no mesmo dia em que a Organização dos Estados Americanos (OEA) apresentou as conclusões de uma auditoria que cita sérias irregularidades nas eleições.

"Renuncio meu cargo de presidente para que (Carlos) Mesa e (Luis Fernando) Camacho não continuem perseguindo os dirigentes sociais", disse Evo Morales em mensagem transmitida pela televisão.

Evo Morales disse que esta decisão "dói profundamente", mas que é algo que faz "para o bem do país".

Morales disse que enviaria sua carta de renúncia ao Congresso nas próximas horas. Segundo a Constituição, o vice-presidente deveria assumir o cargo. No entanto, o vice-presidente Álvaro García Linera também renunciou. De acordo com o artigo 169 da Constituição, o presidente do Senado deve ocupar o cargo até que haja novas eleições, mas não está claro se ocupará o cargo.

Morales renunciou ao anunciar na manhã de ontem que convocaria novas eleições e um dia depois de denunciar que a casa de sua irmã na cidade de Oruro havia sido queimada, bem como as casas dos governadores da região e Chuquisaca.

Um dia antes, na sexta-feira, 8 de novembro, diversas unidades da polícia se manifestaram contra Morales em cidades como Cochabamba, Sucre, Santa Cruz, Chuquisaca, Beni, Potosí, Oruro e La Paz, informando que não enfrentariam os civis nos protestos contra Morales.

Os confrontos ocorreram após a retomada do escrutínio depois das eleições, o que deu a Morales uma vantagem que não possuía antes da pausa na contagem, o que tornava desnecessário um segundo turno que devia ser realizado com o candidato Carlos Mesa.

Os protestos dos últimos dias deixaram pelo menos três mortos, dezenas de feridos e centenas de presos.

ACI Prensa conversou no domingo com Dom Bialasik, que acabava de voltar do campo onde havia mediado um confronto entre os mineradores de Potosí e o povoado de Cacachacas, que pertence à sua Diocese.

“Eles tinham armamento de guerra bastante forte lá. Fomos buscar uma saída, havia seis feridos. Estivemos neste momento tentando resolver esse problema e recebemos a notícia da renúncia de Morales quando os militares entraram nessa área, porque nenhum povoado ou pessoa pode ter armas desse tipo”, explicou o Prelado.

“Escutamos sobre a renúncia do presidente Evo Morales. Nesse momento, todo o povoado se reuniu para comemorar esse fato praticamente como uma vitória, porque já estávamos vivendo em uma ditadura e o povo era consciente de que não queria chegar à situação da Venezuela”, ressaltou o Bispo.

"Neste momento, há uma grande festa na praça principal Oruro, e acabam de me chamar para ir lá e rezar e agradecer a Deus por essa graça que nos deu liberdade", disse Dom Bialasik à ACI Prensa.

O que segue agora para a Bolívia, disse o Bispo, é “formar um tribunal eleitoral o mais rápido possível para as novas eleições. Isso tardaria cerca de 3 meses para buscar as pessoas, os líderes que possam dirigir o país nos próximos anos”.

Com esses líderes, concluiu o bispo de Oruro, a Bolívia pode ter "mais esperança e também se poderá respeitar a vida e a dignidade das pessoas, de todos os bolivianos e bolivianas”.

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