No encontro na cidade de Colônia, com os representantes da comunidade muçulmana na Alemanha, o Papa Bento XVI assinalou que é necessário extirpar dos corações o “sentimento de rancor, contrastar toda forma de intolerância e nos opor a cada manifestação de violência, para frearmos a onda de fanatismo cruel, que põe em perigo a vida de tantas pessoas, obstaculizando o progresso da paz no mundo. A tarefa é árdua, mas não impossível”.

“Meu querido predecessor –recordou o Pontífice– o Papa João Paulo II, disse um dia aos jovens muçulmanos reunidos no estádio de Casablanca, em Marrocos: «Os jovens podem construir um futuro melhor se colocam em primeiro lugar sua fé em Deus e se empenham em edificar com sabedoria e confiança um mundo novo segundo o plano de Deus». Esta é a perspectiva desde a qual me dirijo a vós, queridos amigos muçulmanos, para compartilhar as minhas esperanças e fazer-vos partícipes de minhas preocupações, nestes momentos particularmente difíceis da história do nosso tempo”.

Seguidamente indicou estar seguro de “interpretar também seu pensamento ao sublinhar, entre as preocupações, a que nasce da constatação do difundido fenômeno do terrorismo”. “O terrorismo, seja qual for a sua origem, é uma opção perversa e cruel, que desdenha o direito sacrossanto à vida e corrói os fundamentos de toda convivência civil”, acrescentou.

Do mesmo modo, o Papa precisou que a vida de cada ser humano “é sagrada, tanto para os cristãos como para os muçulmanos” e por essa razão “temos um grande campo de ação no qual devemos  nos sentir unidos no serviço aos valores morais fundamentais. A dignidade da pessoa e a defesa dos direitos que de tal dignidade se derivam devem ser o objetivo de todo projeto social e de todo esforço por levá-lo adiante. Esta é uma mensagem confirmada de maneira inconfundível pela voz suave, porém clara, da consciência”.

“Uma mensagem que deve escutar e fazer escutar: se cessasse seu eco nos corações, o mundo estaria exposto às trevas de uma nova barbárie. Só se pode encontrar uma base de concordància reconhecendo a centralidade da pessoa, superando eventuais contraposições culturais e neutralizando a força destruidora das ideologias”, enfatizou o Papa.

De outro lado, o Santo Padre fez memória das ocasiões em que cristãos e muçulmanos se enfrentaram em nome de Deus e demarcou que “nós queremos procurar as vias da reconciliação e aprender a viver respeitando cada um a identidade do outro. A defesa da liberdade religiosa, neste sentido, é um imperativo constante, e o respeito das minorias um sinal indiscutível de verdadeira civilização”.

Logo citou o que a declaração Nostra Aetate, do Concílio Vaticano II, diz sobre os muçulmanos. “«A Igreja olha também com aprecio aos muçulmanos que adoram ao único Deus, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, Criador do céu e da terra, que falou com os homens, a cujos ocultos desígnios procuram submeter-se por inteiro, como se submeteu a Deus Abraão, a quem a fé islâmica se refere de bom grau”.

Além disso, Bento XVI assegurou, referindo-se à liderança dos encarregados de outros muçulmanos, que “o ensino é o veículo pelo que se comunicam idéias e convicções. A palavra é a via mestra na educação da mente. Têm, portanto, uma grande responsabilidade na formação das novas gerações. Juntos, cristãos e muçulmanos, temos que confrontar os numerosos desafios que nosso tempo nos coloca. Não há espaço para a apatia e o desinteresse, e menos ainda para a parcialidade e o sectarismo. Não podemos ceder ao medo nem ao pessimismo”.

“Devemos mas bem fomentar o otimismo e a esperança. O diálogo inter-religioso e inter-cultural entre cristãos e muçulmanos não pode reduzir-se a uma opção temporânea. Certamente, é uma necessidade vital, da qual depende em grande parte nosso futuro”, asseverou o Santo Padre.

Ao finalizar seu discurso, o Papa desejou “de todo coração que Deus misericordioso e compassivo vos proteja, vos abençoe e vos ilumine sempre. O Deus da paz conforte nossos corações, alimente nossa esperança e guie nossos passos pelos caminhos do mundo”.