O vigário episcopal da Diocese de Ratisbona (Regensburg) escreveu uma reflexão intitulada "A situação é dramática", na qual destaca os principais pontos da carta que o Papa Francisco enviou aos católicos na Alemanha, onde enfrenta a "erosão" e "a declínio da fé" no país europeu.

O texto foi originalmente publicado em alemão na CNA Deutsch e depois em inglês na CNA, agências irmãs da ACI Digital, após a difusão em 29 de junho da carta do Santo Padre.

Mons. Fuchs ressalta que a carta de Francisco "é uma palavra de advertência e ao mesmo tempo de encorajamento. É uma intervenção séria".

"Os antecedentes da carta são uma série de eventos na Igreja Católica na Alemanha nos últimos anos, particularmente nos últimos meses, diversas ações e cartas de protesto, sobre os planos atuais do chamado 'processo sinodal', assim como das exigências e expectativas associadas. Seu direcionamento e sua veemência devem ter feito com que o Papa Francisco nos dirija algumas palavras".

O "processo sinodal" citado por Mons. Fuchs foi anunciado pelos bispos alemães no início deste ano, como um debate amplo sobre o que alguns consideram que seja a origem dos abusos sexuais: o celibato sacerdotal, os ensinamentos da Igreja sobre moral sexual e a “redução do poder clerical”.

Em sua carta, explica o vigário de Ratisbona, "Francisco não responde a pontos específicos nem se concentra nos detalhes. A crise da Igreja na Alemanha é muito mais profunda e, portanto, a carta tem uma abordagem mais fundamental" e remete-se em várias ocasiões ao discurso dirigido aos bispos alemães no Vaticano, em 20 de novembro de 2015. “Esta carta deve ser lida e entendida com base nesse discurso", ressalta Mons. Fuchs.

Em ambos os textos, continua o sacerdote, "o Papa, depois de elogiar as conquistas na Alemanha, identifica claramente os sintomas da crise atual: poucos católicos vão à missa aos domingos ou se confessam. A essência da fé de muitos evaporou e o número de sacerdotes está caindo. Francisco nos assegura a sua proximidade e seu apoio em nossos esforços para superar essa crise e encontrar novas maneiras de fazê-lo. Ele quer nos encorajar".

Em sua carta, o Papa Francisco "identifica várias tendências que lhe concernem sobre a busca alemã de soluções (...). A primeira é a preocupação de que a Igreja na Alemanha possa romper seus laços com a Igreja universal e se separar da comunidade global da fé".

O Pontífice, em seguida, alertou para a "tentação dos promotores do gnosticismo", que "buscavam dizer sempre algo novo e diferente do que a Palavra de Deus lhes dava", e acrescenta que há "uma tentação do mestre da separação (...) que acaba fragmentando de fato o corpo do santo Povo fiel de Deus".

Mons. Fuchs indicou que o Papa Francisco também adverte sobre uma mera "mudança estrutural, organizacional ou funcional", que constituiria "um novo pelagianismo", uma heresia "rechaçada pela Igreja no século V que alegava que não era necessário que Cristo nos salvasse do pecado, mas que o homem era suficientemente bom e forte para fazer isso sozinho".

Em seguida, o vigário episcopal de Ratisbona destacou que o Papa Francisco fala várias vezes em sua carta de "tensão" e "adaptação" quando adverte sobre a tendência da Igreja na Alemanha de ceder à pressão de grupos privados em vez de continuar retamente a tarefa da evangelização.

"Muito do que foi dito antes do ‘processo sinodal' prega-se como uma necessidade angustiante de não deixar de estar em contato com a pluralidade do mundo, assim como com a intenção de preencher o espaço que existe entre a Igreja e a realidade da vida. O Papa Francisco descarta este argumento de modo decisivo”.

Mons. Fuchs explicou que o que a Igreja deve fazer, como disse o Santo Padre, é recuperar a primazia da evangelização com uma atitude de "vigilância e conversão" com as armas da oração, do arrependimento e da adoração.

"Abandonamos a primazia da evangelização na Alemanha e perdemos, por meio da obstinação e do desafio, a alegria da fé? O Papa Francisco nos fala claramente sobre o que quer dizer com evangelização e encontrar os pobres; e critica qualquer redução ou mera adaptação, bem como reformas administrativas e a tendência ao isolamento".

O vigário de Ratisbona recordou que o Papa foi enfático em seu não à ordenação sacerdotal de mulheres e à abolição do celibato, duas tendências na Alemanha defendidas por alguns, incluindo alguns bispos. Também criticou que no país tenham rejeitado o recente documento publicado pelo Vaticano sobre a ideologia de gênero na educação.

Mons. Fuchs também ressaltou que "a carta do Papa exige reescrever completamente o 'processo sinodal', que deve tender à evangelização e à renovação espiritual, dirigindo-se ao povo das periferias".

Este processo, concluiu o vigário, "não se adapta, mas confia em Deus que pode renovar e converter e nos dar a alegria do Evangelho".

Os números da crise

“As últimas cifras da Conferência Episcopal Alemã pintam um quadro negativo: mais de 160.000 fiéis deixaram a Igreja Católica em 2016, enquanto apenas 2.547 pessoas se converteram (a maioria do luteranismo)”, escreveu em 2017 Christoph Wimmer, editor da CNA Deutsch, agência em alemão do Grupo ACI.

“O número total de sacerdotes na Alemanha em 2016 foi de 13.856, uma queda de 200 comparado com o ano anterior. Matrimônios, crismas e outros sacramentos estão em queda”, assinalou.

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Além disso, “o sacramento da Confissão, sobre o qual a Conferência Episcopal não disponibiliza números, desapareceu, para todos os efeitos, de muitas, se não da maioria, das paróquias”, lamentou.

Em 2015, apenas 2,5 milhões de católicos, de um total de 24 milhões, iam à missa aos domingos.

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