O Presidente da Conferência Episcopal da Venezuela (CEV), Dom José Luis Azuaje, afirmou que a história dará veredito sobre o juramento de Nicolás Maduro para um novo período de seus anos, mas advertiu que o desempenho do mandatário “foi ilegítimo e moralmente inaceitável”, pois continua levando o país ao precipício.

“Em três dias será realizado o juramento do presidente da República. Tantas são as dúvidas sobre esse juramento, é legítimo, é ilegítimo? A história, no momento apropriado, através dos atores que propiciaram eleições tão duvidosas em um quadro de vantagens, dará seu veredito”, assinalou o Prelado no dia 7 de janeiro.

Nesta quinta-feira, 10 de janeiro, Maduro será juramentado para seu segundo mandato como presidente, que deve durar até 2025. Entretanto, mais de 40 governos anunciaram que não o reconhecerão como mandatário pelas dúvidas que rondam a legitimidade das eleições de 20 de maio de 2018, nas quais houve um alto nível de abstenção e grande parte da oposição não participou.

“O que é certo é que no país se está vivendo uma crise sem precedentes em todas as áreas, mas infelizmente aqueles que guiaram o governo nestes últimos anos, produzindo uma deterioração humana e social da população e da riqueza da nação, continuam no mesmo caminho, sem mudanças significativas na economia e para a melhoria das condições de vida dos venezuelanos, por isso, seu desempenho foi ilegítimo e moralmente inaceitável. Prosseguir da mesma maneira significa levar as pessoas à beira do precipício”, advertiu Dom Azuaje.

O Prelado disse estas palavras no discurso de inauguração da Assembleia Ordinário da CEV, que acontece em Caracas.

O também Arcebispo de Maracaibo denunciou que na Venezuela continuam “os altos índices de pobreza”, de hiperinflação, corrupção que, entre outras coisas, causaram o colapso das instituições de saúde e a migração de milhões de pessoas.

Além disso, existe uma “maior ameaça e repressão, violência incontrolável com mais de 20.000 pessoas assassinadas em 2018”. Também há “centenas de prisioneiros políticos, civis e militares que clamam por justiça”.

As violações dos direitos humanos “tiveram seu ápice com o assassinato do jovem índio Pemon Charly Peñaloza, de 21 anos, e a repressão das comunidades indígenas e líderes comunitários, onde muitos interesses estão em jogo”, acrescentou.

“Com esse conjunto de deterioração, podemos imaginar os sofrimentos que as pessoas terão que passar em um novo período de governo, se não forem feitas as correções necessárias que passam por uma mudança integral de política e atores políticos”, advertiu.

Dom Azuaje assinalou que, em meio a esta situação, os bispos cumprem o chamado do Papa Francisco para que permaneçam próximos ao povo e não o abandonem. “Não nos pediu para estar próximos aos políticos e menos ainda do governo, mas do povo, porque é quem sempre perde em toda disputa política e nos desajustes econômicos”, indicou.

“Cada bispo, mesmo que não seja divulgado pela imprensa local ou nacional, está trabalhando a partir da missão evangelizadora e da promoção humana, cobrindo todo o território nacional; não o faz apenas com a sua presença, mas também com o trabalho dos párocos, dos religiosos e religiosas, dos diáconos permanentes, dos seminaristas e dos evangelizadores leigos”, afirmou.

Envolvimento dos fiéis na vida pública

Em seu extenso discurso, o presidente da CEV denunciou que, “no âmbito político, as pessoas estão como ovelha sem pastor, sem projeto comum, e lhes é difícil fortalecer a cidadania e a consciência da corresponsabilidade política”.

Diante disso, recordou aos fiéis que “nossa consciência cristã deve nos comprometer a cada dia mais”. O Papa Francisco “nos diz que ‘ninguém pode exigir de nós que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interessam aos cidadãos’”.

“Esta afirmação tem sustento e sentido porque ‘uma fé autêntica implica sempre um profundo desejo de mudar o mundo, de transmitir valores, de legar algo melhor depois da nossa passagem pela terra’. Assim, cada um carregue suas responsabilidades neste momento fatídico do país. Não joguemos o que não somos, em vez disso, brilhe a identidade e os valores de cada uma das instituições. É o melhor serviço para os venezuelanos”, afirmou.

Dom Azuaje indicou que “a política é ‘um meio fundamental para construir a cidadania e as obras do homem’, mas também é preciso advertir que quando ‘aqueles que a exercem não a vivem como serviço à coletividade humana, pode tornar-se instrumento de opressão, marginalização e até destruição’”.

O prelado também exigiu que sejam devolvidas suas competências à Assembleia Nacional, cuja direção foi confiada eleitoralmente à oposição, mas que foi substituída pelo governo por uma Assembleia Nacional Constituinte.

Nesse sentido, entre as reflexões que se realizam na Assembleia Ordinária, a CEV busca “incentivar a cultura do encontro entre os venezuelanos”, focando-se “na centralidade política que é impulsionada pela Doutrina Social da Igreja”, e “intensificar a missão evangelizadora da Igreja a partir de uma ‘nova etapa evangelizadora marcada pela alegria’, sendo uma Igreja em saída com as portas abertas”. “Esta não é qualquer saída, mas a missionária, pois este ‘é o paradigma de toda a obra da Igreja’”, afirmou.

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