Teve início na manhã desta sexta-feira, 7 de dezembro, no Vaticano, as pregações de Advento, com a presença do Papa Francisco e dirigidas pelo Pregador da Casa Pontifícia, Frei Raniero Cantalamessa, o qual refletiu sobre a existência de Deus.

O tema das homilias de Avdento de Pe. Cantalamessa será o versículo “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (Sl 41,3) e esta primeira pregação teve como título “Deus existe!”.

O franciscano ressaltou que “o divino é uma categoria absolutamente diferente de qualquer outra, que não pode ser definida, mas apenas insinuada; só se pode falar dele por analogias e opostos”.

Neste sentido, indicou que “poucos títulos bíblicos são capazes de criar em nós um sentimento tão vivo de Deus – especialmente do que Deus é para nós – como este do Deus-rocha”.

“Rocha- assinalou o pregador – não é um título abstrato; não diz apenas o que é Deus, mas também o que nós devemos ser. A rocha é feita para ser escalada, para buscar refúgio, não só para ser contemplada de longe. A rocha atrai, apaixona. Se Deus é rocha, o homem deve se tornar um ‘alpinista’”.

Segundo o franciscano, como os primeiro tradutores da Bíblica “ficaram assustados perante uma imagem tão material de Deus que parecia rebaixá-lo”, então “sistematicamente substituíram o concreto ‘rocha’ por abstrações, como ‘força’, ‘refúgio’, ‘salvação’. Mas, com razão, todas as traduções modernas devolveram a Deus o título original de rocha”.

Assim, ao convidar a olhar para os alpinistas, Pe. Cantalamessa ressaltou como, “se cai a noite ou vem uma tempestade, eles não cometem a imprudência de tentar descer, mas se agarram mais anda à rocha e esperam a tempestade passar”.

“A insistência da Bíblia no Deus-rocha – acrescentou – visa incutir confiança na criatura, afastando o medo do seu coração”.

Deus existe e isso basta

Logo no início de sua reflexão, o pregador da Casa Pontifícia assinalou que, “na Igreja, estamos tão pressionados por tarefas a serem executadas, problemas a serem resolvidos, desafios a serem superados, que corremos o risco de perder de vista” “a nossa relação pessoal com Deus e com Cristo”.

Entretanto, “acima de tudo, sabemos por experiência que um relacionamento pessoal genuíno com Deus é a primeira condição para enfrentar todas as situações e problemas que surgem, sem perder a paz e a paciência”.

“Quantas vezes somos obrigados a dizer a Deus, com Santo Agostinho: ‘Você estava comigo, mas eu não estava com você’. De fato, ao contrário de nós, o Deus vivo nos busca. É o único que Ele faz desde a criação do mundo. Continua a dizer: ‘Adão, onde está você?’”, acrescentou.

Meditando sobre as palavras de Jesus, “Buscai e achareis. Batei e vos será aberto” (Mt 7, 7), Frei Cantalamessa pontuou que, assim, Jesus “promete dar a si mesmo, muito além das coisas triviais que lhe pedimos, e essa promessa é sempre infalivelmente mantida. Quem o busca, o encontra; quem bate, ele abre e uma vez encontrado, todo o resto vai para o segundo lugar”.

Nesse sentido, questionou o pregador, “o que significa e como se define o Deus vivo?”, ao que ele mesmo indicou que “querer descrever o Deus vivo, delinear um perfil, até mesmo fundamentando-se na Bíblia, é recair na tentativa de reduzir o Deus vive à ideia do Deu vivo”.

“Não se pode encerrar a vida em uma ideia. Por isso é possível ter Dele mais facilmente o sentimento, ou o pressentimento, do que a ideia, porque a ideia circunscreve a pessoa, enquanto que o sentimento revela a presença Dele, deixando-a na sua totalidade e indeterminação”, afirmou.

Por fim, citou um episódio da vida de São Francisco de Assis, sobre “um tempo de escuridão e quase de desespero que o santo viveu no final de sua vida, por causa dos desvios que via em torno a si sobre o estilo de vida primitivo dos seus frades”.

Certo dia, em oração, o santo ouviu do Senhor, conforme relata seu biógrafo Tomás de Celano: “Por que tu, pequeno homem, te perturbas? Talvez eu o tenha designado pastor da minha Ordem de tal forma que esquecestes que eu continuo sendo o patrono principal? [...] Não te preocupes, portanto, mas esperes a tua salvação, porque se a Ordem fosse reduzida a apenas três frades, minha ajuda sempre permanecerá estável”.

Sobre tal episódio, o estudioso franciscano francês Pe. Eloi Leclerc “diz que o santo foi, de tal forma, reconfortado pelas palavras de Cristo que repetia para si mesmo uma exclamação”: “Deus existe e isso basta!”.

Assim, concluiu Pe. Cantalamessa, “aprendamos, também nós, a repetir estas simples palavras quando, na Igreja ou em nossa vida, nos encontramos em situações semelhantes às de Francisco e muitas nuvens se dissiparão”.

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