Comentando a passagem do Evangelho deste domingo, o Papa Francisco falou aos milhares de fiéis que se congregaram na Praça de São Pedro sobre o risco da auto-referencialidade e de que os fiéis busquem que a Igreja cresça “por medo da concorrência” e não pela força de atração que brota do coração convertido, que anuncia o Evangelho com autenticidade.

“O Evangelho deste domingo nos apresenta um daqueles particulares muito instrutivos da vida de Jesus com os seus discípulos”, disse o Santo Padre ao início do seu discurso prévio à oração do ângelus, publicado no site oficial de notícias do Vaticano em Português, o Vatican News.

“Eles tinham visto que um homem, que não fazia parte do grupo dos seguidores de Jesus, expulsava os demônios no nome de Jesus, e por isso queriam proibi-lo. João, com o entusiasmo zeloso típico dos jovens, refere o fato ao Mestre buscando o seu apoio; mas, Jesus, ao contrário, responde: «Não lhe proíbam, pois ninguém faz um milagre em meu nome e depois pode falar mal de mim. Quem não está contra nós, está a nosso favor»”, afirmou.

Segundo o Papa, “João e os outros discípulos manifestam um comportamento de fechamento diante de um acontecimento que não entra em seus esquemas, neste caso a ação, mesmo sendo boa, de uma pessoa ‘externa’ ao grupo de seguidores”.

“Em vez disso, Jesus parece muito livre, plenamente aberto à liberdade do Espírito de Deus, que não é limitado em sua ação por nenhum confim e por nenhum recinto. Com a sua atitude, Jesus quer educar os seus discípulos, e também a nós hoje, a esta liberdade interior” e acrescenta que “nos faz bem refletir sobre este episódio e fazer um pouco de exame de consciência”.

“O comportamento dos discípulos de Jesus é muito humano, muito comum, e podemos encontrá-lo nas comunidades cristãs de todos os tempos, provavelmente também em nós mesmos”, pontou o Santo Padre que ressaltou que esta atitude não é má em absoluto.

“De boa fé, aliás, com zelo, se gostaria de proteger a autenticidade de uma certa experiência, especialmente carismática, tutelando o fundador ou o líder dos falsos imitadores”, ressaltou.

Segundo o Papa, “ao mesmo tempo, existe o medo da ‘concorrência’ de que alguém possa atrair novos seguidores, e então não se consegue apreciar o bem que os outros fazem: não é bom porque ele “não é um dos nossos”. É uma forma de auto-referencialidade”.

“A grande liberdade de Deus em doar-se a nós é um desafio e uma exortação a mudar os nossos comportamentos e nossas relações. É um convite que Jesus nos faz hoje”, afirmou o Pontífice.

O Papa Francisco explicou que Jesus “nos convida a não pensar segundo as categorias do “amigo/inimigo”, “nós/eles”, “quem está dentro/quem está fora”, mas a ir além, a abrir o coração a fim de reconhecer a sua presença e a ação de Deus mesmo em âmbitos incomuns e imprevisíveis e em pessoas que não fazem parte de nosso círculo”.

“Trata-se de estar mais atentos à genuinidade do bem, do Belo e do verdadeiro que é realizado, do que ao nome e procedência de quem o faz. E - como nos sugere o restante do Evangelho de hoje -  em vez de julgar os outros, devemos examinar a nós mesmos e “cortar” sem pactos tudo o que pode escandalizar as pessoas mais fracas na fé”, acrescenta o Santo Padre.

O Papa Francisco concluiu seu discurso com um pedido à Virgem Maria, “modelo de acolhimento dócil das surpresas de Deus, para que nos ajude a reconhecer os sinais da presença do Senhor no meio de nós, descobrindo-o em todo lugar que Ele se manifestar, até mesmo nas situações mais impensáveis e incomuns. Que ela nos ajude a amar a nossa comunidade sem ciúmes e fechamentos, sempre abertos ao horizonte vasto da ação do Espírito Santo”.

Confira também: