Pe. Vicente Martínez Bermúdez, sacerdote da Diocese de Matagalpa, Nicarágua, denunciou que durante o último fim de semana um grupo de 20 homens encapuzados o ameaçou de morte enquanto apontavam um fuzil AK47 para ele.

Segundo o jornal ‘La Prensa de Nicaragua’, os desconhecidos disseram ao sacerdote: “Você é a próxima vítima. Se cuida, porque você é a próxima vítima”.

O sacerdote, que é pároco da igreja de Santa Luzia, disse que não tem medo de morrer: “Disseram-me ‘Você está na nossa lista’, e eu respondi: ‘Lista de quê?’, ‘uma lista para te matar’, me responderam. Logo depois, disse-lhes ‘podem me matar, eu não tenho medo de vocês’”.

A violência do governo contra os cidadãos da Nicarágua já causou a morte de aproximadamente 140 pessoas, a maioria das quais morreu em protestos pacíficos reprimidos pela polícia, pela multidão e paramilitares ligados ao governo do presidente Daniel Ortega.

Os bispos participaram como mediadores do Diálogo Nacional que ocorreu em 16 de maio no Seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Manágua. Entretanto, diante do aumento da violência, os prelados suspenderam o diálogo em 23 de maio.

Segundo a agência Efe, em 11 de junho, a Nicarágua completou 55 dias de crise sociopolítica no país. Na última segunda-feira, as forças paramilitares ligadas ao governo entraram em diferentes bairros de Manágua, onde foram repelidas pela população que estava organizada em barricadas.

Os protestos contra Ortega começaram em 18 de abril, depois de uma reforma fracassada da previdência social.

Sobre a crise que afeta o país, o Bispo de Matagalpa, Dom Rolando Álvarez Lagos, pediu no último domingo aos nicaraguenses que não tenham medo e se unam “a esta grande maioria” da população que pede uma mudança urgente no país, pois a “Nicarágua não aguenta mais”.

Durante a homilia na Catedral de Matagalpa, Dom Álvarez disse que “o povo de Deus deve estar atento às mentiras que pretendem dividir”, explicando que “a expressão diabo – mencionada no Evangelho do dia – procedente do latim, significa divisor” e considerou que “este é o momento da unidade na Nicarágua”.

“Este é o momento que nós, nicaraguenses, temos que ser capazes de superar qualquer tipo de diferença religiosa”, assinalou o bispo.

Além disso, o Prelado disse que muitos policiais depuseram suas armas. O jornal ‘La Prensa’ divulgou que no caso de Matagalpa, um grupo de 14 membros das forças da ordem pediu demissão porque não queriam mais seguir as ordens de repressão contra a população.

“Eu quero dizer-lhes em nome de Cristo, com o coração de um pastor, queridos irmãos e irmãs, vocês têm uma oportunidade histórica, este é o momento de corrigir o caminho. Em nome de Deus, peço-lhes: retifiquem-no e a história reconhecerá vocês”, concluiu Dom Álvarez.

Por sua parte, o Bispo Auxiliar de Manágua, Dom Silvio José Báez, pediu por uma Nicaragua livre, “sem tiranos nem vítimas”.

“Minha Nicarágua, sinto dor ao ver-te ferida e saqueada! Sonho que esteja livre, sem tiranos nem vítimas, como uma casa grande onde todos vivam felizes, sem lágrimas nem sangue, com liberdade e justiça social, que fiquemos orgulhosos de ser nicaraguense por graça de Deus!”, assegurou o Prelado.

Confira também: