O Bispo de Jinotega (Nicarágua), Dom Carlos Enrique Herrera, entregou a uma mãe o corpo de seu filho que morreu durante os protestos que ocorreram na sexta-feira à noite e pediu às autoridades que não exerçam violência contra os manifestantes para evitar mais mortes no país.

“Dom Carlos Enrique Herrera, às 2h30, entregou em sua casa o corpo sem vida do jovem Abraham Antonio Castro Jarquín. O jovem foi entregue a sua mãe e família que vivem no bairro Carlos Rizo”, informou no sábado a Diocese de Jinotega em sua conta de Facebook.

Durante a noite de sexta-feira, 8 de junho, e a madrugada de sábado, 9, ocorreram novos protestos em Jinotega, a 142 quilômetros de Manágua, contra o governo de Daniel Ortega.

Em um comunicado no qual relatou os fatos, Dom Herrera indicou que, por volta das 7h30 de sexta-feira, o chefe da Polícia Nacional, Marvin Castro, lhe pediu que intercedesse para que a população que estava nas barricadas não seguisse avançando “e se mantivesse em paz”. “Ao me retirar, conseguiu um acordo para que os manifestantes nos bloqueios não avançariam mais”, indicou.

Entretanto, “informaram-me com provas que grupos paramilitares controlados pelo governo municipal, vindos de fora da cidade, atacaram as barricadas que se mantiveram pacíficas até que foram atacadas”.

“Do mesmo modo, moradores assinalaram insistentemente que a tropa de choque atacou com armas de fogo os civis que estavam nos bloqueios e donos de negócios que estavam em seus locais”, denunciou.

Dom Herrera indicou que, diante dos pedidos de “ajuda e socorro”, chamou Castro e o prefeito Leónidas Centeno para solicitar a eles o “fim da violência e que mostraram vontade de paz autêntica”.

“Ambos os senhores negaram sua participação em atos repressivos e não me restou outra alternativa a não ser sair pessoalmente (acompanhado de alguns sacerdotes e fiéis) às 23h, para socorrer feridos e levar o corpo do jovem Abraham Antonio Castro Jarquín, que tristemente faleceu por causa desses enfrentamentos”, assinalou.

O Bispo explicou que, devido à ansiedade e aos ânimos exaltados dos manifestantes, “o corpo não podia ser identificado”.

Entretanto, algumas horas depois, o corpo do adolescente de 17 anos foi entregue à sua mãe. “Pedimos à população que se puder, colabore com esta família que é muito necessitada”, pediu a Diocese em sua conta do Facebook.

Diante destes acontecimentos, o Prelado pediu aos manifestantes para “manter a prudência, a tolerância e agir com respeito”, e às autoridades municipais para “não agirem com violência”, porque “provocarão mais dor e uma espiral de violência incontrolável a qual todos lamentaremos”. “Peço para que respeitem as pessoas feridas que estão no hospital”, acrescentou.

Dom Herrera convidou os fiéis a continuar rezando pela paz, “a serem coerentes com seus pedidos e viverem a misericórdia com todos os necessitados, especialmente nos momentos de urgência. Todos nós somos responsáveis por ajudar em tempos de crise, para dar a melhor responder esta crise”.

“Espero que todos nós contribuamos para construir a paz e a estabilidade em nossa cidade, onde tenhamos as garantias de manifestar as nossas opiniões livremente”, expressou.

Os protestos na Nicarágua começaram em abril de 2018, depois que Ortega anunciou um aumento da contribuição dos trabalhadores ao Instituto Nicaraguense de Seguridade Social (INSS), medida que foi revogada devido às manifestações.

Alguns dias depois, foi criada uma mesa de diálogo da qual a Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN) participa como mediadora. Entretanto, as conversas foram suspensas.

Diante desta situação, em 7 de junho, os bispos se reuniram com Ortega para manifestar “a dor e a angústia das pessoas ante a violência sofrida nas últimas semanas” e entregar-lhe “a proposta que manifesta os sentimentos de muitos setores da sociedade nicaraguense e expressa o desejo da maioria da população”.

Os Prelados indicaram que, quando o presidente “nos responder formalmente, convocaremos a Mesa Plenária do Diálogo Nacional, para avaliar a resposta e, deste modo, a viabilidade de continuar com o mesmo Diálogo Nacional”.

Entretanto, os protestos não terminaram e, segundo o Centro Nicaraguense dos Direitos Humanos, mais de 130 pessoas já morreram.

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