O governo irlandês anunciou na segunda-feira, 29 de janeiro, que o referendo que poderia liberar as leis de aborto da Irlanda será submetido à votação no final de maio ou no início de junho, o que provocou um pedido de respeito à vida humana dos bispos do país.

“A dignidade inata de toda a vida humana, desde a concepção até a morte natural, é um valor para toda a sociedade, enraizada tanto na razão como na fé”, disse o Arcebispo de Armagh e Primaz de toda a Irlanda, Dom Eamon Martin, em uma recente mensagem pastoral.

“A Igreja Católica, junto com outras pessoas de boa vontade, ensina que pôr fim à vida de um nascituro, assim como tirar a vida de outra pessoa inocente, é sempre algo ruim e nunca pode ser justificado”, continuou o Arcebispo.

O referendo decidirá se a Oitava Emenda da Constituição irlandesa que reconhece o direito à vida dos nascituros será revogada. A emenda foi aprovada em referendo em 1983 com aproximadamente 67% dos votos.

Uma parte da ementa diz que “o direito à vida dos nascituros e, com a devida consideração ao igual direito à vida da mãe, garante em suas leis respeitar e, na medida do possível, defender e reivindicar este direito em sua leis”.

Entretanto, a revogação da emenda poderia permitir o aborto durante as primeiras 12 semanas de gravidez. O aborto só é permitido na Irlanda quando a saúde ou a vida da mãe estão em perigo.

De acordo com o ministro da Saúde irlandês, Simon Harris, 3.265 mulheres irlandesas viajaram ao Reino Unido para praticar abortos em 2016.

Em uma recente carta pastoral, o Bispo de Elphin, Dom Kevin Doran, disse que “a referência ao direito à vida (da criança e da mãe) seria eliminada da Constituição e não seria substituída por outra coisa”.

“Quando se trata do direito de escolher, há uma tendência a esquecer que há outra pessoa envolvida; uma pessoa vulnerável que não tem outra opção e que depende completamente dos outros para o protegerem”, acrescentou o Bispo.

Nesse sentido, o Prelado advertiu que, “se a sociedade aceitar que um ser humano tem o direito de acabar com a vida do outro, já não será mais possível exigir o direito à vida como um direito humano fundamental para ninguém”.

Por sua parte, Dom Martin também argumentou que uma revogação constitucional teria efeitos prejudiciais para o futuro da Irlanda.

“A revogação deste artigo deixará os nascituros indefesos e completamente à mercê das leis abortistas que são introduzidas na Irlanda, que inevitavelmente aumentarão ainda mais nos próximos anos”, disse Dom Martin.

Nesse sentido, acrescentou que “o aborto acaba com a vida humana de um nascituro. Engana as mulheres e os homens, gerando uma cultura na qual a decisão de acabar com a vida de um nascituro é apresentada simplesmente como uma questão de ‘escolha’ individual”.

Uma pesquisa realizada por Ipsos / MRBI para o ‘Irish Times’, informou que 56% do país apoiaria a mudança na Constituição, permitindo o aborto de até 12 semanas de gravidez. A pesquisa também mostrou que 29% da população é contra esta mudança, enquanto 15% das pessoas permanecem indecisas.

Entretanto, a porta-voz de Pro-Life Campaign , Cora Sherlock, disse que o número provavelmente mude ao longo do tempo, quando as pessoas começarem a pensar e discutir a respeito do tema.

“Quando isso acontecer, eu tenho certeza de que as pesquisas se moverão em uma direção pró-vida”, disse Sherlock, segundo o ‘Irish Times’.

Dom Doran incentivou o diálogo sobre o próximo referendo, dizendo que os cidadãos pró-vida deveriam discutir abertamente seus pontos de vista.

“Não se trata de debater ou ser conflitivo. No nível mais básico, trata-se simplesmente de deixar que outras pessoas vejam que não estão sozinhas e que é perfeitamente razoável acreditar no direito à vida”, afirmou o Arcebispo.

Tanto Dom Doran quanto Dom Martin encorajaram o país a rezar a fim de que a Irlanda “escolha a vida” e chamaram os fiéis a escrever aos políticos irlandeses para lhes pedir que defendam os nascituros.

Além disso, os bispos disseram que a Igreja deve continuar buscando maneiras de apoiar as mulheres e as famílias.

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“Independente do que acontecer com a Constituição, continuará sendo necessário apoiar as mulheres, especialmente aquelas que enfrentam momentos difíceis durante a gravidez. Que Deus abençoe a todos e lhe dê sabedoria e coragem para testemunhar, com amor, o Evangelho da vida”, concluiu Dom Kevin Doran.

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