Em seu discurso na Assembleia Geral da ONU na segunda-feira, 25 de setembro, em Nova York, o Secretário Pontifício para Relações com os Estados, Dom Paul Richard Gallagher, falou a respeito da relação entre a sustentabilidade do meio ambiente do planeta e a conservação da paz.

Em seu discurso, Dom Gallagher disse que “o Papa Francisco não se cansa de colocar as pessoas em primeiro lugar, especialmente aqueles que sofrem, que foram excluídos, marginalizados, deixados para trás”.

Explicou que “colocar as pessoas em primeiro lugar significa proteger, em todos os estágios e quaisquer circunstâncias, a dignidade da pessoa, os direitos humanos e as liberdades fundamentais. De maneira mais específica, os direitos pela vida e pela liberdade religiosa em que todos os outros direitos também vivem que são, portanto, os pilares da paz e segurança integral do desenvolvimento humano”. Por isso, pediu para “colocar as pessoas a as suas necessidades no centro das nossas ações”.

Em seu discurso à Assembleia Geral da ONU, falou sobre a degradação do meio ambiente, a instabilidade mundial devido às guerras, a gestão da chegada de refugiados e migrantes, o tráfico de seres humanos e as armas nucleares.

Degradação do meio ambiente

Dom Gallagher manifestou a sua preocupação, a da Igreja e a do Papa a respeito da degradação do meio ambiente e seus efeitos nas pessoas, especialmente nos mais desfavorecidos e expostos aos abusos.

“Todo dano provocado contra o meio ambiente é um dano à humanidade, hoje e amanhã”, advertiu. “Deste modo, o uso indevido e a destruição do meio ambiente sempre estão acompanhados por um implacável processo de exclusão, pois a deterioração do planeta afeta, principalmente, bilhões de prisioneiros da pobreza que vivem em todo o mundo em condições de grande estresse ambiental”.

Assinalou que “essa realidade dramática de exclusão e de desigualdade deve nos impulsionar a fazer um balanço das nossas responsabilidades comuns e individuais. O apelo urgente a cuidar da criação, convida toda a humanidade a trabalhar intensamente para o desenvolvimento sustentável e integral”.

“Só será possível melhorar as condições climáticas e o meio ambiente se aceitarmos a necessidade de mudar o modo como percebemos o mundo e se mudarmos a maneira como nos relacionamos com ele. Embora a nossa casa comum esteja em um estado grave de deterioração, ainda podemos reverter essa tendência de degradação do meio ambiente”, declarou.

Guerras e instabilidade mundial

Também abordou os principais pontos de conflito e violência no mundo. Em primeiro lugar, falou sobre a guerra no Iêmen, “uma catástrofe humanitária de proporções apocalípticas”. Citou ainda “a tragédia da guerra na Síria, que continua crescendo todos os dias”.

Sobre esses dois temas, assinalou que “os atores envolvidos deveriam se sentar em uma mesa de negociação das Nações Unidas com a única condição prévia de respeitar os direitos humanos e permitir o acesso à ajuda humanitária. Ao mesmo tempo, os Estados, especialmente aqueles que, em algum momento da história recente, foram envolvidos direta ou indiretamente no conflito, devem tomar todas as medidas necessárias para conseguir um cessar-fogo, o primeiro passo para a paz”.

Por outro lado, “a Santa Sé está particularmente preocupada com as divisões políticas e instabilidades na Venezuela com suas crises humanitárias. E também com a complexa situação política e as tensões diplomáticas na Península Arábica, além da violência junto às várias situações humanitárias no Oriente Médio que precisam ser direcionadas adequadamente pela comunidade internacional”.

“A violência contínua e a extrema tensão política na República Democrática do Congo exigem um compromisso urgente e eficiente assumido por todas as partes, a fim de conseguir uma solução para a atual crise constitucional. Do mesmo modo, existe a necessidade de promover uma conscientização pública autêntica de encontrar uma saída às constantes situações de conflito com o objetivo de encontrar soluções pacíficas e negociadas, especialmente na Ucrânia, no Sudão do Sul ou na República Centro-Africana, entre outros”.

A corrupção, o tráfico de drogas e o terrorismo são outros problemas graves que ameaçam a estabilidade e a paz em diversas regiões do mundo, segundo afirmou o Secretário Pontifício para as Relações com os Estados.

Refugiados e migrantes

Sobre a crise dos refugiados e migrantes, indicou que “a proteção completa das pessoas só é possível através de uma paz duradoura. Nesse sentido, a proteção da população civil também deve estar assegurada durante os conflitos de guerra. Os recentes e gangrenosos conflitos enfraquecem a ordem internacional, ao mesmo tempo em que o enfraquecem, e são causa de sofrimentos inexplicáveis, deslocamentos em massa, violações flagrantes de direitos humanos universais e fundamentais, e de extrema pobreza”.

“Não há pior crise causada pelo homem do que os conflitos violentos”, sublinhou. Os conflitos “impulsam as pessoas a emigrar ou a se tornarem refugiados. Engendram atrocidades em massa e crimes contra a humanidade. A situação lamentável de centenas de milhares de migrantes e refugiados devido às guerras, perseguições, desastres naturais e pobreza extrema, especialmente na Nigéria, Mianmar, Somália e outros países da região subsaariana, entre outros, é uma grande responsabilidade para todos sem exceção”.

Por esta razão, “a Santa Sé apela à comunidade internacional a superar o atual impasse político e os sentimentos negativos que enfrentamos, a abrir caminhos seguros, ordenados e regulamentados para a migração”.

Tráfico de pessoas

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Outro grande desafio para a comunidade internacional é o tráfico de seres humanos. “A raiz dessa outra forma de escravidão contemporânea estão as guerras, os conflitos, a pobreza extrema, o subdesenvolvimento e a exclusão, a falta de educação, a falta de oportunidades de trabalho e os desastres ambientais”.

Do mesmo modo, denunciou o “egoísmo exagerado que atinge níveis inimagináveis ??de irresponsabilidade moral, no caso de tráfico de crianças, órgãos, tecidos e embriões, e no chamado turismo de transplante, na origem do tráfico criminal”.

“O Papa Francisco convida todos, especialmente as autoridades competentes, a enfrentar este crime execrável com instrumentos jurídicos eficientes, que permitam condenar esse tipo de atividades e que permita ajudar e integrar as vítimas, assim como erradicar as raízes encontradas na origem deste mal”.

Desarmamento nuclear

Finalmente, Dom Gallagher pediu um compromisso com o desarmamento nuclear. “A proliferação de armas, incluindo as armas de destruição em massa, entre grupos terroristas e outros atores não estatais se tornou um problema real”, lamentou.

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