Uma Igreja com maior presença dos leigos para enfrentar a crescente secularização, mas também com traços próprios da cultura chinesa e chamada a redefinir suas relações com o partido comunista para encontrar soluções flexíveis e eficazes a fim de continuar seu trabalho evangelizador, são os desafios principais da Igreja na China para o século XXI segundo um artigo publicado em ‘La Civiltà Cattolica’.

O texto intitulado “O catolicismo na China no século XXI” é assinado pelo sacerdote jesuíta Joseph You Guo Jiang e foi publicado na edição 4007 da revista mensal da Companhia de Jesus, ‘La Civiltà Cattolica’, cujos artigos são revisados pela Secretaria de Estado do Vaticano.

“A Igreja Católica chinesa enfrenta hoje vários desafios” e , por isso, deve “adotar novas estratégias para alcançar o maior número de pessoas, para dialogar e comunicar em uma sociedade sempre mais secularizada”, assinalou o texto do Pe. Joseph You Guo Jiang.

Contrariamente ao que acontecia há uma década, afirmou, hoje a Igreja “goza, em muitas regiões, de uma relativa autonomia do controle do governo central e local. Embora na China a liberdade religiosa esteja condicionada, a Igreja Católica chinesa pode desenvolver um papel importante na missão e no serviço”.

Entretanto, reconheceu que o rápido aumento de vocações sacerdotais experimentado nos anos 1990 começou a diminuir.

Além disso, assinalou que junto ao crescimento econômico, acontece no país também uma maior secularização e crise espiritual que afasta “muitas pessoas das próprias tradições e cultura”, do que os católicos não estão isentos.

Diante disso, indicou que a Igreja tem o desafio de desenvolver uma eficaz formação do laicato, “que representa um recurso potencial e o núcleo da futura Igreja na China”. “A evangelização e a missão têm necessidade de um laicato bem preparado”, reforçando seu conhecimento do Concílio Vaticano II, particularmente “o referente è eclesiologia e à doutrina social da Igreja”, afirmou.

O sacerdote jesuíta, membro do centro de aconselhamento acadêmico do Boston College, assinalou que, embora o governo controle o que circula pela internet, a rede é também desafio para o trabalho missionário da Igreja.

Entretanto, o ponto mais destacado da análise do Pe. You Guo Jiang é o diálogo da Igreja com a cultura local e com o Partido Comunista, única organização política do país.

“Já que a China tem características próprias que a distinguem do resto do mundo”, afirmou, a Igreja é chamada a desenvolver – mantendo sua própria identidade – “‘uma Igreja Católica chinesa com traços chineses’, de modo a inculturar seus ensinamentos e valores do Evangelho”.

“‘Uma Igreja católica chinesa com traços chineses’ oferecerá a todos esperança, fé e estímulo”, contribuindo significativamente para o desenvolvimento cultural, espiritual e social da nação chinesa, assinalou.

Sobre as autoridades políticas, o sacerdote jesuíta expressou que, “enquanto o Partido Comunista Chinês permanecer como o único partido de governo, o marxismo seguirá sendo a referência ideológica da sociedade. Portanto, a Igreja Católica chinesa é chamada a redefinir seu papel e suas relações com o Partido Comunista e com sua ideologia”.

O sacerdote esclareceu que “isso não significa que a Igreja deve estar de acordo com a política e os valores do Partido, mas sim que ela deve encontrar soluções flexíveis e eficazes para continuar sua missão e seu ministério na China”.

“Uma vez instaurado este diálogo, a Igreja Católica e a sociedade chinesa não se chocarão mais. Porque os valores culturais e tradicionais chineses e os valores evangélicos e o ensinamento eclesial têm muitas coisas em comum”, afirmou.

Segundo o Pe. You Guo Jiang, a China e sua sociedade vão se abrindo mais às religiões e isso permitirá ao catolicismo encontrar um posto estável “se continuar sendo expressão de uma Igreja aberta e de uma Igreja com características e identidade chinesa. A sociedade chinesa e a Igreja devem aprender a apreciar os valores presentes em ambas as tradições e prosseguir seu diálogo em busca do bem comum”.

Indicou que “esta é a mensagem do Papa Francisco para a China”. Recordou que, na entrevista a ‘Asia Times’ em 28 de janeiro de 2016, o Pontífice disse que a China “é uma terra abençoada de muitos modos” e que a Igreja tem entre seus deveres o respeito a todas as civilizações, por isso, “tem mais do que nunca o dever de respeitar esta civilização. A Igreja tem um grande potencial ao receber cultura”.

“Aos católicos chineses digo: elevemos o olhar a Maria nossa Mãe, para que nos ajude a discernir a vontade de Deus sobre o caminho concreto da Igreja na China e nos sustente em acolher com generosidade o seu projeto de amor”, recordou o sacerdote citando as palavras do Papa no último dia 24 de maio.

Confira também:

Mais em