O Cardeal Jaime Ortega y Alamino, Arcebispo Emérito de Havana (Cuba) apresentou em Madri o seu livro "Encontro, diálogo e acordo. O Papa Francisco, Cuba e Estados Unidos" no qual fala sobre a colaboração "fundamental" do Santo Padre para a restauração das relações diplomáticas entre os dois países.

"O Papa acredita que todos os problemas podem ser superados através do diálogo, mas não entre nações ou governos, mas com o diálogo entre as pessoas. Por isso conseguiu realizar estes acordos entre Raúl Castro e Obama, e eles dialogaram. No dia anterior do anúncio ao povo, ambos conversaram por mais de 40 minutos", assegurou o Purpurado no encontro com a imprensa.

As negociações foram "muito secretas e, por isso, tiveram tanto êxito", declarou o Arcebispo Emérito. Durante estas, explicou, ele foi um elemento essencial, pois, a pedido do próprio Papa, o prelado foi responsável por entregar as cartas a Barack Obama e a Raúl Castro para iniciar as conversações.

"Não só tive a possibilidade extraordinária de ser o portador de uma carta do Papa para cada presidente, como também de conhecer e transmitir a ambos a mensagem enviada. Deste modo, estava acontecendo um encontro triangular, cuja linha primordial e básica era o Papa Francisco", apontou e destacou que "o Papa encontrou uma resposta aberta de Obama e de Raul”, assegurou o Cardeal.

Entretanto, logo depois da restauração das relações entre ambos os países, o governo dos Estados Unidos mudou de sinal e o atual Presidente, Donald Trump, manifestou em várias ocasiões que poderia revisar os termos de relações com a ilha.

"Não acredito que a revisão total (pelos Estados Unidos) seja para revogar os acordos, mas para modificar alguns aspectos", assegurou o Purpurado, e precisou que "não é fácil que rompam as relações diplomáticas agora, depois deste acordo. Existem passos que às vezes têm certa irreversibilidade".

"Na revisão, de repente poderia haver algo relacionado aos direitos humanos, a abordagens ou outros temas, tais como as propriedades que os norte-americanos perderam no começo da revolução das intervenções estatais. Tudo isso já tinha sido mencionado anteriormente. Neste diálogo podem ser até mesmo anunciadas mudanças. Não me surpreende tanto e eu acho que haverá uma pausa”, declarou.

A respeito do futuro da ilha, o Purpurado assegura que “é muito difícil falar sobre o futuro. Podemos imaginar possíveis cenários, mas a realidade nos supera".

Além disso, assegurou que "existe uma vontade política de continuar realizando o processo de mudanças na ilha" e sublinhou que a Igreja acompanhará estas mudanças porque "sempre esteve presente em Cuba, acompanhando o povo em cada etapa".

Visita ad limina dos bispos cubanos

O Cardeal Ortega y Alamino participou do encontro dos bispos cubanos com o Papa Francisco no Vaticano no dia 7 de maio.

Segundo explicou ao Grupo ACI nesta ocasião, os bispos explicaram ao Papa que "em Cuba houve muitas mudanças no setor econômico, no serviço dos trabalhadores no setor privado, com relação à propriedade e que esperávamos que essas mudanças continuem sendo realizadas".

Também enfatizou que durante o encontro com o Santo Padre os Bispos cubanos "nos referimos às mudanças que ocorreram na vida da Igreja em relação ao passado, as suas possibilidades na prática pública do culto, a sua presença mais frequente nos meios de comunicação. Evidentemente delimitando as insuficiências das mudanças, mas desejando que estas continuem".

Confira também: