Em uma entrevista realizada no dia 7 de novembro pelo fundador do jornal italiano ‘La Repubblica’, Eugenio Scalfari, o Papa Francisco assinalou que não faz “julgamentos sobre pessoas e políticos”, em referência ao então candidato e atualmente presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump.

O conteúdo da entrevista foi publicado hoje. Antes de apresentar as respostas de Francisco, Scalfari faz um longo levantamento político sobre o resultado dos comícios de 8 de novembro no país norte-americano; e assinala que o encontro da segunda-feira foi o primeiro depois de mais de um ano, embora nesse período recebesse frequentes ligações telefônicas do Papa.

Scalfari, que não costuma gravar as suas entrevistas ou anotá-las, perguntou ao Santo Padre: “O que pensa sobre Donald Trump?”.

“Eu não faço julgamentos sobre pessoas ou figuras políticas. Só quero entender quais são os sofrimentos que eles causam aos pobres e excluídos por seu modo de agir”, assinalou o Santo Padre.

Segundo Scalfari, o Papa indicou que a sua principal preocupação são os refugiados e os imigrantes. “As causas da imigração são muitas e é necessário fazer tudo o que for possível para solucioná-la”. Francisco fez referência ao círculo vicioso no qual se encontram os refugiados e imigrantes e que muitas vezes os impede de sair de sua situação de exclusão social.

“É um círculo vicioso que deve ser interrompido. Temos que derrubar os muros que nos dividem: tentar aumentar o bem-estar das pessoas e, para isso, é necessário construir pontes que permitam a diminuição das desigualdades e acrescentam a liberdade e os direitos. Mais direitos e mais liberdade”, indicou.

Em um momento da conversa, o jornalista perguntou o que opinava sobre o fato de que em muitas ocasiões o acusem de comunista ou marxista. O Pontífice recordou: “A minha resposta sempre foi que, em todo caso, são os comunistas os que pensam como os cristãos”.

“Cristo falou de uma sociedade onde os pobres, os frágeis e os excluídos sejam os que decidam. O povo, os pobres, que têm fé no Deus transcendente ou não, mas são eles a quem temos que ajudar a obter a igualdade e a liberdade”, disse.

O Bispo de Roma também se referiu aos cristãos mártires que morrem pela sua fé em todo o planeta, como na Síria ou no Iraque. “Nós, cristãos, sempre fomos mártires – indicou –, e nossa fé, ao longo dos séculos, conquistou grande parte do mundo. É verdade que houve guerras apoiadas pela Igreja contra outras religiões e sofremos guerras inclusive dentro da nossa religião”.

Mas estas guerras, assinalou, chegam quando “as várias religiões e a nossa, como às vezes mais as outras, antepunham o poder temporal à fé e à misericórdia”.

Nesse sentido, para o Papa Francisco o sangue derramado dos mártires está unindo os cristãos hoje: “Os católicos são 1,5 bilhão, os protestantes das diferentes confissões são 800 milhões, os ortodoxos são 300 mil, em seguida temos outras confissões cristãs, como anglicanos, coptos… No total, os cristãos são 2,5 bilhões, talvez até mais. Estamos pegando em armas para ir à guerra? Não. Estamos tendo mártires? Sim, e muitos”.

O Papa recordou que “difundimos a fé seguindo o exemplo de Jesus Cristo. Ele foi o mártir dos mártires e entregou à humanidade a semente da fé”.

As “entrevistas” de Scalfari ao Papa

Esta não é a primeira vez que Scalfari publica suas conversas com o Pontífice.

No dia 1º de outubro de 2013 o jornal de esquerda publicou uma “entrevista” com o Santo Padre atribuindo declarações controversas sobre o bem e o mal. Em 22 de novembro, em meio à controvérsia, Scalfari reconheceu ante a imprensa estrangeira que algumas destas palavras “não foram ditas” pelo Pontífice e que todas as suas entrevistas foram feitas sem um aparelho de gravação, nem anotava enquanto a pessoa falava.

“Tento entender a pessoa que estou entrevistando e depois disso escrevo as suas respostas com as minhas próprias palavras”, explicou.

Por sua parte, o então porta-voz vaticano, Pe. Federico Lombardi, indicou que o texto não podia ser considerado como parte do Magistério de Francisco.

Em 13 de julho de 2014, Scalfari publicou novamente um artigo baseado supostamente em uma entrevista com o Papa, afirmando que Francisco estava decidido a encontrar “soluções” para o problema do celibato sacerdotal e que “2% dos pedófilos são sacerdotes e inclusive bispos e cardeais”.

No dia seguinte, o Pe. Lombardi desmentiu rotundamente que tenha sido realizada uma nova “entrevista”, pois Scalfari atribuiu ao Papa palavras, entre aspas, “fruto de sua memória de perito jornalista, mas não de uma transcrição precisa de uma gravação”. “Não se pode e não se deve, portanto, falar de jeito nenhum de uma entrevista”, esclareceu.

No dia 1º de novembro de 2015, o jornal italiano publicou outro artigo baseado em uma conversa telefônica entre Scalfari e o Papa, na qual o jornalista assegurava que o Pontífice admitiria a comunhão para os divorciados em nova união. O Pe. Lombardi declarou que esta afirmação feita por Scalfari “não é confiável de jeito nenhum” e “não se pode considerar como algo que o Papa pensa”.

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Em declarações ao ‘National Catholic Register’, o então porta-voz vaticano advertiu que “como já ocorreu anteriormente, Scalfari cita o que o Papa supostamente lhe disse, e que muitas vezes não corresponde à realidade, pois ele não grava nem transcreve as palavras exatas do Papa, como ele já disse várias vezes”.

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