Ernest Simoni é um sacerdote idoso que sobreviveu à pena de morte imposta pelo regime comunista da Albânia em 1963, salvou-se da morte e seu testemunho fez o Papa Francisco chorar durante a visita a este país em setembro 2014. Ontem, da Praça de São Pedro, o Pontífice anunciou que o Pe. Simoni será criado Cardeal no consistório de novembro.

O Santo Padre fez este anúncio no final da Missa do Jubileu Mariano, quando indicou que no dia 19 de novembro, durante a vigília de encerramento da Porta Santa da Misericórdia, criará 13 novos cardeais com direito a voto. Entretanto, também criará outros quatro cardeais que, devido à sua idade, não terão este direito, mas quer homenageá-los com este reconhecimento, pelo seu testemunho e trabalho apostólico nos anos anteriores.

“Eles representam muitos Bispos e sacerdotes que em toda a Igreja edificam o povo de Deus, anunciando o amor misericordioso de Deus no cuidado diário do rebanho do Senhor e na confissão de fé”, afirmou Francisco.

Entre eles, está o Pe. Simoni, sacerdote que sofreu a perseguição religiosa do ditador comunista Enver Hoxha, que proclamou a Albânia “o primeiro estado ateu do mundo”.

O sacerdote nasceu em Troshani em 1928 e foi ordenado sacerdote em 1956, doze anos depois que os comunistas tomaram o poder na Albânia.

O Código de Direito Canônico estabelece no artigo 351: “Os Cardeais a promover são escolhidos livremente pelo Romano Pontífice, pertencentes pelo menos à ordem do presbiterado, e que se distingam notavelmente pela doutrina, costumes, piedade e prudente resolução dos problemas; os que ainda não forem Bispos, devem receber a consagração episcopal”. Ou seja, qualquer sacerdote pode ser feito cardeal.

O martírio do Pe. Simoni

Conforme relatou o Pe. Simoni em setembro de 2014 – durante a visita do Papa Francisco –, em dezembro de 1944 o regime comunista ateu buscou eliminar a fé e o clero com “prisões, torturas e assassinatos de sacerdotes e leigos durante sete anos seguidos, derramando o sangue dos fiéis, alguns dos quais antes de ser fuzilados gritavam: ‘Viva Cristo Rei!’”.

Ao ver que não conseguiam alcançar o seu objetivo, em 1952, as autoridades comunistas reuniram os sacerdotes que sobreviveram ao regime e ofereceram a liberdade em troca de distanciar-se do Papa e do Vaticano, proposta que estes jamais aceitaram.

Assim, o Pe. Simoni relatou que antes de ser ordenado sacerdote estudou com os franciscanos de 1938 a 1948, mas, quando seus superiores foram fuzilados pelos comunistas, seguiu seus estudos clandestinamente. “Dois anos terríveis se passaram e no dia 7 de abril de 1956 fui ordenado sacerdote, um dia depois da Páscoa, e na Festa da Divina Misericórdia celebrei minha Primeira Missa”, indicou.

Em 24 de dezembro de 1963, ao concluir a Missa de Vésperas de Natal, quatro oficiais apresentaram o decreto de prisão e fuzilamento e o padre foi algemado e detido. No interrogatório, disseram-lhe que seria enforcado como um inimigo porque disse ao povo “que morreremos todos por Cristo se for necessário”.

As torturas o deixaram em um estado muito ruim. “O Senhor quis que continuasse vivendo”. Entre os cargos que lhe imputaram figurava celebrar uma Missa pela alma do Presidente John F. Kennedy, assassinado um mês antes de sua prisão, e por ter celebrado Missa, por indicação do Papa Paulo VI, por todos os sacerdotes do mundo.

“A Divina Providência quis que minha condenação à morte não fosse realizada imediatamente. Na sala, trouxeram outro prisioneiro, um querido amigo meu, com o propósito de me espiar, e começou a falar mal do partido”, relatou o sacerdote ao Papa Francisco.

“De todos os modos, eu respondia que Cristo tinha nos ensinado a amar os inimigos e a perdoá-los e que nós devíamos nos empenhar no bem do povo. Essas minhas palavras chegaram aos ouvidos do ditador que após alguns dias livrou-me da pena de morte”, explicou o Pe. Simoni.

Os comunistas trocaram sua sentença de morte por uma pena de 28 anos de trabalhos forçados. “Trabalhei nos canais de esgotos e durante o período da prisão celebrei a Missa, confessei e distribuiu a comunhão escondido”, relatou.

O sacerdote foi liberado quando caiu o regime comunista e começou a liberdade religiosa. “O Senhor me ajudou a servir tantos povos e a reconciliar muitas pessoas, afastando o ódio e o diabo dos corações dos homens”, assegurou antes de concluir seu testemunho diante do Papa Francisco.

“Santidade, seguro de poder expressar a intenção dos presentes, eu peço que pela intercessão da Santíssima Mãe de Cristo, o Senhor lhe dê vida, saúde e força na condução do grande rebanho que é a Igreja de Cristo, Amém”, concluiu o sacerdote antes de dar ao Papa um abraço que levou às lágrimas o Pontífice e os presentes.

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