O Santuário de Fátima apresentou na quinta-feira, 8, nova edição que traz um estudo das Memórias da Irmã Lúcia, uma das videntes da Virgem em Portugal. A obra foi realizada pela docente e pesquisadora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Cristina Sobral, para quem a religiosa escreveu seus textos como uma “testemunha privilegiada”.

“É evidente que ao longo do processo de escrita e de divulgação do conteúdo das quatro primeiras memórias, Lúcia viu a sua tarefa não como a de uma autora, mas sim como a de uma informante, testemunha privilegiada que estava em condições de contar o que mais ninguém podia contar e que entregava essas narrativas nas mãos de quem poderia encontrar a melhor maneira de divulgá-las”, disse durante o 24º Congresso Mariológico Mariano Internacional, que acontece até o próximo domingo no Santuário de Fátima.

Sobral sublinhou que “as memórias são constituídas por um conjunto de 6 textos escritos como unidades autônomas, embora fortemente relacionadas, com datas diferentes, mas compreendidas em dois períodos da vida da autora”.

A pesquisadora explicou, conforme assinala o site do Santuário, que os primeiros quatro textos das Memórias foram escritos em Tuy entre 1935 e 1941 e foram publicados na íntegra pela primeira vez em 1973, mas parcialmente já tinham sido tornados públicos em 1938.

Por outro lado, as últimas duas memórias foram escritas entre 1989 e 1993, no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.

De acordo com a docente, a vidente de Fátima “escreve por obediência e caridade e não por gosto”, além disso, ela “escreveu sem saber que destino iam ter os seus textos”.

“Lúcia fez uma entrega total da sua obra, não guardou cópia para si”, afirmou Cristina Sobral.

Segundo ela, este livro “oferece uma leitura conservadora da escrita de Lúcia, das suas características linguísticas e gráficas importantes, sobretudo quando ela deixa registados no papel traços de língua e de grafia não padronizados”.

Desse modo, acrescentou, oferece “material de estudo a linguistas, a historiadores da cultura, a sociólogos, a estudiosos do fenômeno Fátima e a estudiosos do contato entre os diversos universos culturais”.

Para o reitor do Santuário de Fátima, Pe. Carlos Cabecinhas, um estudo como este era o que faltava, tornando-se “documento fundamental para o estudo de Fátima e da sua mensagem”.

“Os dois mais jovens videntes, o Francisco e a Jacinta, desapareceram muito cedo, ficando a Lúcia como única testemunha do que tinham experimentado. O seu testemunho torna-se, por isso, fundamental e justifica a enorme atenção que suscitaram os seus escritos, sobretudo as Memórias, que conheceram um êxito notável e estão publicadas em 19 línguas”, disse durante o Congresso Mariológico.

Para o sacerdote, “as Memórias foram um dos mais eficazes instrumentos de divulgação dos acontecimentos de Fátima e da sua mensagem”.

O reitor do Santuário explicou que um dos principais objetivos dessa obra é ser “referência não apenas para os investigadores que se ocupem de Fátima, mas igualmente para as futuras edições de divulgação das Memórias”.

A curadora da obra, Cristina Sobral, adiantou que entre as novidades dessa edição estão a publicação de um questionário de 315 perguntas enviadas pelo Santuário de Fátima à Ir. Lúcia e a divulgação da chamada “quinta memória” em uma versão que “não estava publicada”, com “variantes”, a partir do manuscrito que estava no Carmelo de Santa Teresa, em Coimbra.

“Não quer dizer que sejam coisas de grande dimensão, que alterem a Mensagem de Fátima”, salientou. “Não vale a pena esperar isso, são pequenas coisas que podem ter imenso interesse para os estudiosos da escrita e para os estudiosos da cultura”.

Entre esses pormenores se encontram elementos do universo mais íntimo da vidente, dos seus tempos de criança no ambiente rural da Cova da Iria, no início do século XX.

A obra estará à venda na Livraria do Santuário de Fátima.

Confira também:

Mais em