Reconstruamos nossas comunidades em torno de Jesus, foi o apelo do Arcebispo de Ferrara-Comacchio (Itália), Dom Luigi Negri, aos fiéis para responder ao atentado em Nice (França), porque, apesar de o mundo de hoje ter optado por remover a presença de Deus, sabemos com certeza que Ele “venceu” e esta vitória “não será eliminada por nenhuma força diabólica”.

O Prelado italiano fez este apelo no dia seguinte à tragédia de Nice, quando um simpatizante do Estado Islâmico (ISIS) se lançou com um caminhão sobre a multidão que, no dia 14 de julho, comemorava o feriado nacional da França, deixando 84 mortes e dezenas de ferido.

Em um texto publicado no site da Arquidiocese, o Prelado expressou sua proximidade e oração aos feridos e às famílias das vítimas e indicou que, embora seja consciente de que nestes dias se diriam “muitos discursos circunstanciais” por parte das autoridades, “da minha parte queria simples e brevemente dirigir-me às pessoas” cujos rostos se veem na televisão e que “se sentem profundamente perdidas e abandonadas”.

Dom Negri recordou que durante séculos “se disse a várias gerações que havia uma presença em nossa vida, uma presença que nunca falharia, aquela amorosa de nosso Senhor Jesus Cristo, à luz da qual todas as circunstâncias – também a mais terrível que caracterizou a vida de nossos povos nos últimos séculos – puderam ser vividas com dignidade exemplar, uma dignidade que fez as grandes gerações passadas também na tragédia”.

No entanto, hoje, “tendo negando tal Presença para afirmar o homem como absoluto, e tendo negado a Igreja para afirmar a autonomia da razão humana e do progresso científico – que culminam nas horrendas manipulações genéticas que estão constantemente sob nossos olhos –, não resta mais do que constatar que o homem é deixado sozinho”, advertiu.

Não resta mais do que constatar, acrescentou, que “não há verdadeiramente ninguém a ele e, acima de tudo, a incomensurável dor pelas perdas humanas e familiares não resta mais que a companhia da solidão e do silêncio”.

“Mas então, o que devemos fazer?”, questionou o Prelado. “Pessoalmente não posso falar, mas sim para aqueles que creem em Deus ou que ao menos o esperam. A eles, digo que é preciso retornar ao que afirmou em um lúcido estudo sobre a Igreja das origens o Beato Cardeal J. H. Newman, e confirmado pelo então Cardeal Ratzinger (Bento XVI): necessita-se simplesmente fazer o cristianismo”.

“Neste mundo onde tudo se dissolve e a solidão domina a vida dos indivíduos e da sociedade, condenando-a a um processo marcado por diversas patologias – a mais terrível das quais é a violência – necessita-se decidir a não afiançar o império”.

Dom Negri explicou que, durante a dominação romana, “os primeiros cristãos não afiançaram o império, mas simplesmente fizeram outra coisa: fizeram o cristianismo. Afirmaram que Cristo, vivendo entre eles no mistério da Igreja, era a única resposta verdadeira sobre a vida do homem e do mundo”.

“Fortes nesta certeza, testemunharam-na com sua vida, não falando simplesmente sobre Deus, porque de Deus os ateus também falam, nem mesmo falando genericamente do transcendente, mas sim do Deus de Jesus Cristo, que em Cristo se fez carne e história”, assinalou.

“Portanto, reconstruamos nossas comunidades em torno de Jesus Cristo”, exortou o Prelado. “Invistamos o mundo de uma tal presença que é forte e suave. Forte, porque é certo que Deus venceu, já venceu em Cristo – e esta vitória não será eliminada por nenhuma força diabólica –, mas também suave, porque esta nossa nova vida é uma proposta de liberdade que apresentamos à liberdade de cada homem e mulher que vive conosco”, assinalou.

“Não sei o que acontecerá no futuro – indicou Dom Negri –, mas sei que quanto mais se dilate a experiência autêntica da Igreja em sua própria natureza, tanto mais aumentará, em muitos homens e mulheres, a esperança e o sorriso, porque terão reconhecido aquela Presença que nunca falha”.

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