Frente a recente onda de confrontos no Sudão do Sul, que já deixou cerca de 300 mortos, um membro da Igreja no país alertou que “há o risco de um genocídio” nesta que é a mais jovem nação do mundo.

“Escrevam-no com letras maiúsculas para que alguém da comunidade internacional intervenha antes que seja tarde demais”, disse à agência vaticana Fides esta fonte cujo nome foi mantido em sigilo por questões de segurança.

Após um acordo de paz que durava onze meses, na quinta-feira, 7, eclodiram novos confrontos na capital do Sudão do Sul, Juba, entre as tropas leais ao presidente Salva Kiir e ao vice-presidente Riek Machar, que já haviam se confrontado entre dezembro de 2013 e agosto de 2015.

O confronto entre as tropas teve início na quinta-feira, após cinco militares do Exército, leais a Kiir, morrerem por tiros da guarda pessoal do líder da oposição, Machar, em um posto de controle. No dia seguinte, houve tiroteio perto da residência oficial, onde o presidente e o vice estavam reunidos para negociações.

Após o ocorrido, os dois políticos concederam coletiva de imprensa juntos no sábado, 9. Durante o encontro, porém, jornalistas tiveram que se proteger de tiros próximos ao local. E, no domingo, a casa do vice-presidente foi atacada com o uso de tanques e helicópteros, duas vezes.

“Quando os combates com armas pesadas cessam, começam os massacres contra membros da etnia rival. Nós o vimos muitas vezes em outras cidades do Sudão do Sul durante a guerra civil que se acreditava acabada com os acordos de paz de agosto de 2015, mas agora os combates começaram na capital, Juba, e o risco é que o país naufrague em um verdadeiro genocídio”, relataram as fontes da Igreja do Sudão do Sul à agência vaticana Fides.

Estas mesmas fontes assinalaram que neste país, “o pertencente da etnia adversária é visto como inimigo”, por isso, dizem temer “um genocídio com base étnica”. Acrescentaram ainda esperar “que amanhã os jornalistas não sejam obrigados a escrever, já inutilmente, sobre o ‘genocídio sul-sudanês’. Temos ainda a possibilidade de impedi-lo, mas é preciso fazê-lo rapidamente. É preciso também que a comunidade internacional intervenha, inclusive com a força, antes que seja tarde demais”.

Na noite se segunda-feira, 11, o presidente Salva Kiir e o vice-presidente Riek Machar declararam um cessar-fogo. “Machar deu uma entrevista numa localidade que não quis revelar, mas que se supõe estar em Juba ou na vizinhança, na qual reafirmou seu compromisso com o cessar-fogo”, disseram.

Este mesmo cessar-fogo foi o apelo lançado pela Ong Médicos com a África Cuamm diante da situação trafica vivida no país. Uma nota divulgada pela instituição informava que existia “o alerta elevado para a população civil, que, como sempre, é a principal vítima da guerra” e que estavam enfrentando o racionamento de gasolina, tecnologia e comunicações.

 “As pessoas estão aterrorizadas, com medo. Não há nenhuma garantia de futuro. Cuam continua mantendo o compromisso com a saúde da população que, infelizmente, é a principal vítima nestes casos”, concluiu Pe. Dante Carraro, diretor da Ong.

Diante do anúncio do cessar-fogo, as fontes eclesiais locais constataram que “o saque que acompanhou e seguiu os combates foi de grandes proporções”.

Assinalando que de um lado estavam “as forças de Marchar com pouco menos de 1500 combatentes” e, de outro, “os soldados do governo são muito mais numerosos e equipados com armas pesadas, incluindo veículos blindados e helicópteros”, estas mesmas fontes indicaram que o ocorrido “foi um massacre”.

“A questão mais urgente é a humanitária, com a falta de água potável. Milhares de pessoas se refugiaram em igrejas e se organiza para oferecer-lhes assistência, apesar de mil dificuldades. A Cruz Vermelha Internacional conseguiu enviar suas equipes nos dois principais hospitais que recebem os feridos dos últimos dias de combates”, contam.

Estes confrontos fizeram com que diversas embaixadas determinassem a evacuação de seus cidadãos e alguns de seus funcionários. Dentre os países que deram ordens para evacuar os seus cidadãos está o Japão que há alguns anos deu início a importantes projetos humanitários e de desenvolvimento no Sudão do Sul.

“A fuga de estrangeiros é devida à falta de segurança em primeiro lugar, mas também pela falta de alimentos e outros bens devido o saque das lojas. É uma situação que já foi vivida em outras áreas do Sudão do Sul. Os combates causam consequências a longo prazo que afetam profundamente a população depredada e privada de assistência”, concluem as fontes da agência vaticana Fides.