A Sala Clementina do Palácio Apostólico do Vaticano recebeu na manhã de hoje a comemoração dos 65 anos da ordenação sacerdotal do Papa emérito Bento XVI. Estiveram presentes o Papa Francisco, vários cardeais e bispos.

O Papa emérito dirigiu ao final umas emotivas palavras de agradecimento a Francisco e a outros participantes e desejou que o mundo mude e se encha de amor e de vida, um mundo “no qual o amor venceu a morte”.

 

A cerimônia se desenvolveu em um ambiente alegre e muito emotivo, com o Papa emérito sentado perto do Papa Francisco.

Na celebração, Francisco e vários membros da cúria de Roma pronunciaram alguns discursos sobre a herança que o Papa alemão deixou e recordaram sua renúncia em 2013.

“Hoje, festejamos a história de um chamado iniciado há 65 anos com a sua Ordenação sacerdotal ocorrida na Catedral de Frisinga (Alemanha) em 29 de junho de 1951”, começou Francisco sua intervenção.

O Papa recordou que Bento XVI “em uma das mais belas páginas que o senhor dedica ao sacerdócio, sublinha como, na hora do chamado definitivo de Simão, Jesus, olhando para ele, no fundo pergunta-lhe somente uma coisa: ‘Me amas?’. Como é bonito e verdadeiro isto!”, assegurou.

“Porque é aqui – o senhor nos diz –, é neste ‘me amas’ que o Senhor funda o apascentar, porque, somente se existe amor pelo Senhor, Ele pode apascentar por meio de nós: ‘Senhor, tu sabes tudo, sabes que te amo’”.

O Papa assegurou que isto “domina uma vida inteira dedicada ao serviço sacerdotal e à teologia que o senhor não por acaso definiu como a ‘busca do amado’; é isto que o senhor sempre testemunhou e testemunha ainda hoje”.

Enfim, “que a coisa decisiva nos nossos dias – de sol ou de chuva – a única com a qual vem também todo o resto, é que o Senhor esteja realmente presente, que o desejemos, que interiormente sejamos próximos a ele, que o amemos, que realmente acreditemos profundamente nele e acreditando o amemos verdadeiramente”.

“É este amar que realmente nos preenche o coração, este acreditar é aquilo que nos faz caminhar seguros e tranquilos sobre as águas, mesmo em meio à tempestade, precisamente como acontece a Pedro; este amar e este acreditar é o que nos permite olhar ao futuro não com medo ou nostalgia, mas com alegria”.

Dirigindo-se ao Papa emérito, Francisco disse: “O senhor, Santidade, continua servindo a Igreja, não deixa de contribuir realmente com o vigor e a sabedoria para o crescimento dela. E o faz daquele pequeno Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano, que se revela desta forma ser bem diferente do que um daqueles cantinhos esquecidos nos quais a cultura do descarte de hoje tende a relegar as pessoas quando, com a idade, as suas forças começam a faltar”.

“É bem ao contrário – continuou Francisco – e isto permite que o diga com força o seu Sucessor que escolheu chamar-se Francisco".

O argentino recordou que “o caminho espiritual de São Francisco iniciou em São Damião, mas o verdadeiro lugar amado, o coração pulsante da ordem, lá onde o fundou e onde no final rendeu sua vida a Deus foi a Porciúncula, a ‘pequena porção’, o cantinho junto à Mãe da Igreja; junto a Maria que, pela sua fé tão firme e pelo seu viver tão inteiramente do amor e no amor com o Senhor, todas as gerações chamarão bem-aventurada”.

“Assim, a Providência quis que o senhor, caro irmão, chegasse a um lugar por assim dizer propriamente ‘franciscano’ do qual emana uma tranquilidade, uma paz, uma força, uma confiança, uma maturidade, uma fé, uma dedicação e uma fidelidade que me fazem tão bem e dão força para mim e para toda a Igreja”.

Francisco concluiu: “Que o senhor, Santidade, possa continuar sentindo a mão do Deus misericordioso que o sustenta, que possa experimentar e nos testemunhar o amor de Deus; que, com Pedro e Paulo, possa continuar exultando de alegria enquanto caminha rumo à meta da fé”.

Depois de uma breve intervenção do Cardeal alemão Gerhard Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e outra do Cardeal Angelo Sodano, Decano do Colégio de Cardeais, Bento XVI pronunciou as seguintes palavras de maneira improvisada:

Santo Padre, queridos irmãos,

Mais em

65 anos atrás, um irmão ordenado comigo me convenceu de escrever no santinho da primeira missa somente, exceto o nome e as datas, uma palavra, em grego: "Eucharistomen", convencido que com esta palavra, nas suas múltiplas dimensões, já está dito tudo o que pode se pode dizer neste momento. "Eucharistomen" diz um agradecimento humano, obrigado a todos. Obrigado especialmente ao senhor, Santo Padre! A sua bondade, desde o primeiro momento da eleição, em cada momento da minha vida aqui, me toca, me leva, realmente, interiormente. Mais do que nos Jardins do Vaticano, com a sua beleza, a Sua bondade é o lugar onde eu moro: Sinto-me protegido. Obrigado também pela palavra de agradecimento, por tudo. E esperamos que o senhor possa seguir em frente com todos nós neste caminho da Divina Misericórdia, mostrando o caminho de Jesus, para Jesus, para Deus.

Graças também ao senhor, [Cardeal Sodano], por suas palavras que realmente me tocaram o coração: Cor ad cor loquitur. O senhor fez presente quer a hora da minha ordenação sacerdotal, quer  também a minha visita em 2006 em Frisinga, onde eu revivi tudo isso. Eu só posso dizer que assim, com estas palavras, o senhor interpretou a essência da minha visão do sacerdócio, do meu agir. Lhe sou grato pelo laço de amizade que até agora continua por um longo tempo, de telhado a telhado [refere-se a suas casas que estão próximas]:  é quase presente e palpável.

Obrigado, Cardeal Müller, pelo o seu trabalho que faz para a apresentação dos meus textos sobre o sacerdócio, nos quais procuro também ajudar os confrades a entrarem sempre de novo no mistério em que o Senhor se dá em nossas mãos.

"Eucharistomen": naquele momento o amigo Berger queria mencionar não somente à dimensão da gratidão humana, mas naturalmente à palavra mais profunda que se esconde, que aparece na Liturgia, nas Escrituras, nas palavras gratias agens benedixit Fregit deditque. "Eucharistomen" lembra-nos da realidade de ação de graças, àquela nova dimensão que Cristo deu. Ele transformou em gratidão e assim em bênção, a cruz, o sofrimento, todo o mal no mundo. E então basicamente ele transubstanciou a vida e do mundo e deu-nos e nos dá a cada dia o pão da verdadeira vida, que supera o mundo graças à força do Seu amor.

No final, queremos inserir-nos neste "obrigado" do Senhor, e assim receber realmente a novidade de vida e ajudar para a transubstanciação do mundo: é um mundo não de morte, mas de vida; um mundo em que o amor venceu a morte.

Obrigado a todos vocês. Que o Senhor abençoe a todos nós.

Obrigado, Santo Padre!

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