O Cardeal Antonio Cañizares, Arcebispo de Valência, na Espanha, respondeu aos ataques dos quais foi objeto desde que criticou energicamente a ideologia de gênero. Ele disse que não é “homofóbico”, “xenófobo” ou “sexista” como afirmaram algumas pessoas nos últimos dias.

A ideologia de gênero pretende afirmar que no mundo moderno a diferença entre homem e mulher é um fato social ou uma construção antes de ser algo biológico ou natural. Dessa forma, a orientação sexual contaria mais do que o sexo biológico.

No último dia 13 de maio, durante o encerramento do Curso do Instituto João Paulo II de Estudos sobre a Família, o Cardeal Cañizares pronunciou um discurso no qual denunciava diversas ameaças para a célula básica da sociedade como “legislações contrárias à família, a ação de forças políticas e sociais, as quais se somam movimentos e ações do império gay, de ideologias como o feminismo radical ou a mais insidiosa de todas, a ideologia de gênero”.

No domingo, 29 de maio, logo depois da procissão de Corpus Christi, o Cardeal reiterou sua crítica à ideologia de gênero e exortou os cristãos a desobedecer as “leis iníquas” que se baseiam nela.

Estas e outras afirmações do Cardeal geraram múltiplos ataques e diversos coletivos do lobby LGBT anunciaram uma denúncia “por incitação ao ódio” contra o Purpurado.

Entre os grupos que se somaram à denúncia estão ‘València en Comú’, ‘Compromís ou Verds Equo València’, ‘Comissione Obreras del País Valenciano’, ‘Intersindical Valenciana’ e ‘UGT del País Valenciano’.

Além disso, diversos membros dos Tribunais de Valência (Parlamento) atacaram o Cardeal Cañizares e o acusaram de “homofóbico”, “machista” e “xenófobo”, recordando com isto algumas declarações do Cardeal sobre os refugiados do Oriente Médio na Europa, as quais foram manipuladas para arremeter contra ele.

Mas nem tudo foram ataques. A agência AVAN informou que a Federação Católica de Associações de Pais de Alunos de Valência (FCAPA), que reúne mais de 55.000 famílias na província, assinalou na quinta-feira que “não só apoia, como agradece ao senhor Cardeal pela defesa da família e da educação”, segundo indicou seu presidente, Vicente Focinho.

Sobre os ataques recebidos, o Cardeal Cañizares questiona na carta que enviou à Arquidiocese se são “casualidade, pura coincidência, ou plano e estratégia preestabelecidos”. “Sou um estorvo, incomodo-os e querem acabar comigo? Não sou homofóbico, xenófobo, nem sexista. Aceito todos e não excluo ninguém, porque acredito firmemente no Senhor”.

“Para mim, todos são filhos de Deus, queridos por Deus, irmãos, como prego constantemente: a tolerância, melhor ainda, a caridade me conduz ao respeito de todos e me leva a não excluir ninguém e, se alguma vez não agisse deste modo, estou convencido de que estaria pecando (…) Mas acredito, pelo menos tento, que procuro a verdade e a justiça, proclamá-la e defendê-la, embora me prejudique”, insistiu.

Na missiva, o Purpurado afirma que “retira as palavras da homilia que possam ter ferido ou incomodado” em relação à ideologia de gênero, mas também pediu que quem o criticou e julgou “retifique-se por respeito” e “deixem de acossar a Igreja, pessoas e instituições”.

Na quinta-feira, 26 de maio, durante a sessão ordinária de controle ao Conselho de Valência, um dos membros do partido político Compromis fez referência à homilia que o Cardeal Antonio Cañizares pronunciou no dia 13 de maio na Universidade Católica de Valência, que, conforme explica o Cardeal, “foi uma exposição da beleza, da grandeza da família, onde está o futuro da humanidade, e fiz uma defesa da mesma”. 

Entretanto, durante essa sessão parlamentar e em relação a tal pergunta sobre a homilia, o Cardeal afirma que foi submetido “a um julgamento, sem que me houvessem escutado e sem que eu pudesse me defender, pois foi em minha ausência, e me condenaram violando todo direito”.

“Condenaram-me, além disso, levados pelos preconceitos e de leituras parciais tiradas de alguns meios de comunicação social e de suas interpretações”, denunciou.

O Arcebispo de Valência assegura que a homilia “não havia sido lida integralmente em seu conjunto pelos acusadores” e, portanto, fizeram julgamentos acerca dele e sobre um texto que não conheciam, “sem me dar a oportunidade de me defender: converteram as Cortes (Parlamento) em um tribunal popular, de tão más lembranças históricas”.

“Insultaram-me gravemente, acusaram-me – dando lições de cristianismo, que paradoxo! – de que não sou ‘nada cristão’; contrapuseram o Papa à minha pessoa – o que, como podem supor, fiquei profundamente triste –, em uma ignorância total da minha relação como Bispo com o Papa e, além disso, como amigo do Papa que sou; utilizaram e manipularam o Papa contra mim a fim de me desprestigiar; o Papa não merece tal utilização, está em outro nível, muito mais digno e elevado”, sublinhou o Cardeal na carta.

Em seguida, o Cardeal questionou: “Sou eu quem fomentei o ódio ou fomentaram contra mim outros em outros âmbitos, como agora nas Cortes com sessões como a realizada na última quinta-feira, com julgamentos e palavras de consequências imprevisíveis e não desejáveis?”.

“Só me importa o julgamento de Deus, não me preocupa o dos homens. Não me preocupo pelos insultos, principalmente se forem por defender a justiça e a verdade do Evangelho, preocupo-me por vós, povo de Deus, que lhes possam danificar, ferir e dispersar”, afirmou.

Comunicado da Arquidiocese

Ante os ataques contra o Cardeal, a Arquidiocese de Valência recordou que a postura da Igreja Católica frente à ideologia de gênero pode se encontrar no número 56 da Exortação Apostólica Amoris Laetitia.

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Esse texto assinala que “outro desafio surge de várias formas de uma ideologia genericamente chamada gender, que nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Prevê uma sociedade sem diferenças de sexo e esvazia a base antropológica da família”.

A Arquidiocese recorda também que o direito do Cardeal de opinar sobre estes temas está “amparado pela Constituição Espanhola” e indica que lhes consta que em nenhum momento o Arcebispo “teve a intenção de ofender nenhuma pessoa”.

Por isso, a acusação de “homofobia”, da qual o Cardeal foi vítima, “deve ser provada razoavelmente ante um juiz. Caso contrário, não deixa de ser uma afirmação subjetiva e gratuita”.

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