Ante a grave crise econômica que atinge o país, a Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) exortou nesta quarta-feira o governo de Nicolás Maduro que permita à Igreja – através da Cáritas –, e outras organizações privadas “trazer alimentos, remédios e outros materiais necessários” para poder satisfazer as necessidades mais urgentes da população.

A Venezuela enfrenta há mais de dois anos uma crescente crise econômica, refletida na escassez de alimentos, remédios e outros produtos de primeira necessidade. O episódio mais recente foi o corte do serviço elétrico quatro horas por dia em várias regiões do país, inclusive em alguns setores de Caracas. Além disso, como consequência, Maduro ordenou que os trabalhadores do setor público trabalhem somente duas vezes por semana.

O estudo ‘Condiciones de Vida en Venezuela’ (Encovi), elaborado em agosto e setembro de 2015 pelas universidades públicas Central e Simón Bolívar e a universidade privada Católica Andrés Bello, revelou que para 87% dos venezuelanos seus salários são insuficientes para comprar alimentos. Enquanto 12% dos pesquisados disse que apenas comem duas vezes ou menos ao dia. Este relatório foi divulgado em março deste ano.

Em seu comunicado, os bispos advertiram que a Venezuela – o país com as maiores reservas de petróleo –, nunca havia sofrido “a extrema carência de bens e produtos básicos para a alimentação e a saúde”, junto ao “recrudescimento da delinquência assassina e desumana, o racionamento instável da luz, da água e a profunda corrupção em todos os níveis do Governo e da sociedade”. “A ideologização e o pragmatismo manipulador pioram esta situação”, advertiram.

As mídias locais e estrangeiras informaram que nos últimos dias foram registrados roubos em cidades como Caracas e Maracaibo. Segundo o jornal ‘El Nacional’, em Maracaibo houve pelo menos seis roubos na segunda-feira, 25, durante os protestos pelos cortes de eletricidade.

Na madrugada da quarta-feira também aconteceram roubos em Caracas. Ontem à noite, Maduro ordenou reprimir qualquer ato de violência e protesto.

Ante esta situação, os bispos recordaram ao governo seu dever de “favorecer todas as formas de ajuda aos cidadãos” para superar a escassez. Nesse sentido, assinalaram que “é premente a autorização das instituições privadas do país, como Cáritas e outros programas de diferentes confissões religiosas (...), a fim de que possamos trazer alimentos, remédios e outros materiais necessários, provenientes de ajudas nacionais e internacionais, e organizar redes de distribuição para satisfazer as necessidades mais urgentes das pessoas”.

Além disso, fizeram um apelo “a todos os que se aproveitam da situação de escassez e carência pela qual os venezuelanos estão passando”, especulando com os preços, ou aqueles que, “abusando de sua autoridade, exigem pagamentos que não lhes correspondem”.

“Tal proceder é moralmente inaceitável e torna evidente a falta de valores éticos em suas vidas. Aproveitar-se da necessidade alheia para lucrar é um crime e um pecado mortal”, advertiram.

Lei de anistia

Em seu comunicado, a CEV também abordou a lei de anistia aprovada pela Assembleia Nacional –liderada pela oposição –, para liberar os presos políticos. O texto que é rechaçado por Nicolás Maduro. “A Lei de anistia é um clamor nacional e internacional e uma contribuição à distensão social. Desconhecer a Assembleia Nacional é desconhecer e pisotear a vontade da maioria do povo”, afirmou o Episcopado.

Os bispos exortaram os poderes públicos a escutar “com respeito a voz do povo, as várias expressões de suas diversas necessidades e suas justas reclamações”.

“Tanto os líderes do oficialismo como os da oposição devem expressar sua séria preocupação por todo o povo, sem deixar-se levar por interesses partidários e particulares. É hora de demonstrar que estamos em uma atitude de defesa do bem comum e dos verdadeiros interesses de cada um dos cidadãos da Venezuela”, acrescentaram.

Nesse sentido, exortaram a população a não se deixar “manipular por quem lhe ofereça uma mudança de situação por meio da violência social, nem por quem lhe exorta à resignação e por aqueles que obrigam com ameaças ao silêncio (...). A violência, a resignação e a desesperança são graves perigos para a democracia”.

“Nunca devemos ser cidadãos passivos e conformistas, mas sujeitos conscientes de nossa própria e calamitosa realidade; sujeitos pacíficos, mas ativos e, em consequência, atuar como protagonistas das transformações de nossa história e cultura. O Evangelho nos pede eficácia!”, afirmaram.

Finalmente, depois de exortar os católicos a iluminar a realidade venezuelana com a Doutrina Social da Igreja, a CEV convidou a ver e sentir “o passo do Senhor em meio de nós” nestas “dificuldades do presente e das sombras que obscurecem o futuro”.

“Descobri-lo ajudará a atuar como ‘Testemunhas’ do Ressuscitado e edificar na Venezuela o Reino de Deus, de justiça, amor e paz, conscientes de que ‘se o Senhor não construir a casa em vão se cansam os pedreiros’. Para isso, contamos com a intercessão de Maria de Coromoto, a Mãe que nos acompanha, consola e é ‘estrela da evangelização’”, concluíram.

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