O Vaticano apresentou nesta manhã a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma deste ano, com o título “Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13), “As obras de misericórdia no caminho jubilar”.

No texto, Francisco assegura que por meio das obras de misericórdia é possível mostrar ao próximo o amor de Deus, capaz de transformar “o coração do homem” e fazer-lhe “experimentar um amor tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia”.

“É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradiar-se na vida de cada um de nós, estimulando-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual”.

Além disso, explica que a Quaresma “é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia”.

O Pontífice indicou que “por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar”.

“A misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo; mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente experiência de tal anúncio. Por isso, no tempo da Quaresma, enviarei os Missionários da Misericórdia a fim de serem, para todos, um sinal concreto da proximidade e do perdão de Deus”, explica o Papa.

O Santo Padre indica que “Maria, por ter acolhido a Boa Notícia que Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta profeticamente, no Magnificat, a misericórdia com que Deus A predestinou”, tornando-se assim em “ícone perfeito da Igreja que evangeliza porque foi e continua a ser evangelizada por obra do Espírito Santo, que fecundou o seu ventre virginal”.

Francisco expõe que “o mistério da misericórdia divina desvenda-se no decurso da história da aliança entre Deus e o seu povo Israel”.

“Na realidade, Deus mostra-Se sempre rico de misericórdia, pronto em qualquer circunstância a derramar sobre o seu povo uma ternura e uma compaixão viscerais, sobretudo nos momentos mais dramáticos quando a infidelidade quebra o vínculo do Pacto e se requer que a aliança seja ratificada de maneira mais estável na justiça e na verdade”.

A seu parecer, trata-se de “um verdadeiro e próprio drama de amor, no qual Deus desempenha o papel de pai e marido traído, enquanto Israel desempenha o de filho/filha e esposa infiéis”.

“Jesus de Nazaré enquanto homem é, para todos os efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de encarnar aquela escuta perfeita de Deus que se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro ainda hoje da aliança de Deus com Israel: ‘Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças’”.

O Santo Padre explica que “o Filho de Deus é o Esposo que tudo faz para ganhar o amor da sua Esposa, à qual O liga o seu amor incondicional que se torna visível nas núpcias eternas com ela”.

“Este é o coração pulsante do querigma apostólico, no qual ocupa um lugar central e fundamental a misericórdia divina”, destaca.

De fato, “em Jesus crucificado, Deus chega ao ponto de querer alcançar o pecador no seu afastamento mais extremo, precisamente lá onde ele se perdeu e afastou d'Ele. E faz isto na esperança de assim poder finalmente comover o coração endurecido da sua Esposa”.

Sobre as chamadas obras de misericórdia, o Papa pede refletir durante este Ano Santo porque é um modo “de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”.

Na Mensagem, o Papa também manifesta a existência de pessoas que se acreditam ricas, mas na realidade são pobres. “E isto porque é escravo do pecado, que o leva a utilizar riqueza e poder, não para servir a Deus e aos outros, mas para sufocar em si mesmo a consciência profunda de ser, ele também, nada mais que um pobre mendigo”.

“E quanto maior for o poder e a riqueza à sua disposição, tanto maior pode tornar-se esta cegueira mentirosa”, afirma.

A seu julgamento, este ofuscamiento leva a um “soberbo delírio de omnipotência, no qual ressoa sinistramente aquele demoníaco ‘sereis como Deus’ que é a raiz de qualquer pecado”.

“Tal delírio pode assumir também formas sociais e políticas, como mostraram os totalitarismos do século XX e mostram hoje as ideologias do pensamento único e da tecnociência que pretendem tornar Deus irrelevante e reduzir o homem a massa possível de instrumentalizar”, adverte o Pontífice.

“E podem atualmente mostrá-lo também as estruturas de pecado ligadas a um modelo de falso desenvolvimento fundado na idolatria do dinheiro, que torna indiferentes ao destino dos pobres as pessoas e as sociedades mais ricas, que lhes fecham as portas recusando-se até mesmo a vê-los”.

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O Papa também assinala que “por esta estrada, também os ‘soberbos’, os ‘poderosos’ e os ‘ricos’, de que fala o Magnificat, têm a possibilidade de aperceber-se que são, imerecidamente, amados pelo Crucificado, morto e ressuscitado também por eles”.

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