A partir de sábado, 14 de novembro, a Igreja no Brasil terá mais um beato vindo do Sul de Minas Gerais – como Nhá Chica. Trata-se de Padre Francisco de Paula Victor, da Diocese de Campanha (MG). A cerimônia de beatificação acontecerá no Campo de Aviação da cidade de Três Pontas, às 16h, presidida pelo prefeito da Congregação para a Causa dos Santos, Cardeal Angelo Amato.

Negro, filho de escravos, Padre Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha, no dia 12 de abril de 1827, sendo batizado apenas oito dias depois. Exercia a profissão de alfaiate, mas, em seu coração, Deus o chamava ao sacerdócio.

A oportunidade para responder a este anseio aconteceu em 1848, que o Bispo de Mariana (MG), Dom Antônio Ferreira Viçoso, visitou Campanha. Victor logo procurou o Prelado e manifestou-lhe o desejo de ser padre, pedido que foi aceito e o alfaiate ingressou no seminário em 05 de junho de 1849.   

Foi ordenado em 14 de junho de 1851 e permaneceu em Campanha como coadjutor até o ano seguinte, quando foi transferido para Três Pontas como vigário e mais tarde pároco. Só saiu de lá 53 anos depois, quando partiu para a Casa do Pai, no dia 23 de setembro de 1905.

Seu ministério foi marcado pela catequese e instrução do povo, edificando a Escola Sagrada Família para crianças e jovens.

Padre Victor pregou não só com as palavras, mas pelo seu testemunho de amor a Deus e aos semelhantes, de modo especial os mais pobres. “Vivia de esmolas e dava esmolas”, contam.

Quando faleceu, toda a cidade, que já o venerava, foi tomada por grande comoção. Segundo relatos, seu corpo ficou exposto por três dias e exalava agradável perfume. Padre Victor foi enterrado Igreja Matriz de Nossa Senhora D’Ajuda, construída por ele.

O processo de beatificação de Pe. Victor teve início em 1993 e, em junho deste ano, o Papa Francisco autorizou a Congregação para a Causa dos Santos a promulgar Decreto concernente ao milagre atribuído à intercessão do sacerdote.

O milagre aconteceu com uma moradora de Três Pontas, a professora Maria Isabel de Figueiredo, que sonhava em ser mãe. Mas, descobriu que tinha uma das trompas obstruída e, após uma gravidez ectópica (fora do útero), teve que retirar a trompa que estava boa.

Mas, isso não a desviou de seu sonho e ela pediu a intercessão de Padre Victor durante uma novena em 2009. Um ano depois, engravidou e deu à luz a pequena Sofia, hoje com 4 anos, fato que foi confirmado como milagre. Atualmente, a professora tem também a sua segunda filha, Alice, que nasceu a pouco mais de um mês.

Com isso, Padre Francisco de Paula Victor se tornará o segundo beato da Diocese de Campanha (MG), de onde é também a beata Francisca de Paula de Jesus, a Nhá Chica, que foi beatificada em maio de 2013 em Baependi (MG), local em que passou a vida.

Em recente artigo no qual aborda a beatifica de Pe. Victor, o Arcebispo de Aparecida (SP), Cardeal Raymundo Damasceno Assis, expressa o desejo de “que o exemplo de vida destes dois santos campanhenses nos ajude a viver a santidade”.

“Nhá Chica e Padre Victor representam, sem sombra de dúvida, um tributo a todos os afrodescentes que vivendo as dificuldades próprias do tempo da escravidão demostraram com a força invencível da fé que Deus quebra todos os grilhões”, afirmou o Purpurado, aso sublinhar que Nhá Chica foi “a leiga forte que evangelizou” e Padre Victor, “o negro sacerdote, que edificou quebrando o preconceito pela sua cor e pela sua condição”.

“Deus destrona os grandes e eleva os humildes. Agora a centenária e amada Diocese da Campanha doa a Igreja no Brasil dois santos que falam a linguagem do povo”, expressa.

Dom Raymundo pontua que “para o clero, Padre Victor, é a luz maravilhosa que nos chama a humildade, ao desprendimento e ao gastar a sua vida por todos os homens e mulheres de boa vontade”.

“Pobre no meio dos pobres sempre em favor das periferias existenciais. Padre Victor fundou escolas, edificou hospitais e santificou pela coerência de vida. Não tinha vergonha de sua cor e edificou porque fez de sua pobreza material a riqueza do seu caráter e da sua santidade. Padre Victor entendeu a mentalidade agrícola e rural de seu tempo. Valorizou os trabalhadores rurais e os proprietários, pregando a harmonia e a justiça social”, afirma.