No Ângelus de domingo, 8, o Papa Francisco afirmou que a caridade está em dar do que é indispensável, não do supérfluo, por isso “você pode ter tanto dinheiro, mas ser vazio, não há plenitude no seu coração”.

Da janela do apartamento pontifício, o Santo Padre comentou o Evangelho de domingo antes de rezar o Ângelus. Assinalou que o cristão deve confiar na providência de Deus e servir aos irmãos mais pobres sem esperar nada em troca. Por sua vez, advertiu que uma enfermidade é estar apegado aos bens, o que faz com que o coração se ‘baixe’ à carteira.

“O critério de julgamento não é a quantidade, mas a plenitude; há uma diferença entre quantidade e plenitude”. “Pensem, nesta semana – convidou aos fiéis – na diferença que existe entre quantidade e plenitude. Não é questão de carteira, mas sim de coração. Há diferença entre a carteira e o coração… Há enfermidades cardíacas, que fazem o coração ‘baixar’ à carteira… e isto não faz bem!”, exclamou.

“Amar a Deus ‘com todo o coração’ significa confiar nele, em sua providência, e servi-lo nos irmãos mais pobres sem esperar nada em troca”.

Continuando, Francisco contou uma história ocorrida na Diocese de Buenos Aires (Argentina) da que foi Arcebispo: “Uma mãe e seus três filhos, enquanto que o pai estava no trabalho, se colocaram à mesa diante de bifes à milanesa. Batem à porta e mamãe pergunta quem é. A criança que tinha ido abrir a porta responde que havia um mendigo que pede algo para comer. E a mãe, que era uma boa cristã, pega uma faca e diz às crianças: ‘O que vamos fazer? Vamos dar metade de cada bife'. 'Não mãe, não assim! Pegue da geladeira’, respondem as crianças. ‘Não, vamos fazer três sanduíches’, responde a mãe. E as crianças aprenderam. A verdadeira caridade se faz assim. Estou certo de que naquela tarde elas tiveram um pouco de fome. Devemos nos privar de algo como essas crianças se privaram da metade do bife”.

Por isso, “diante das necessidades dos outros, somos chamados a nos privar de algo essencial, não apenas do supérfluo; somos chamados a dar o tempo necessário, não só aquilo que avança; somos chamados a dar imediatamente e sem reserva alguns de nossos talentos, e não depois de tê-los usados para nossas finalidades pessoais ou de grupo”.

Ao comentar o Evangelho deste domingo, Francisco explicou que se compõe de duas partes: “uma em que se descreve como não devem ser os seguidores de Cristo” e outra “em que se propõe o exemplo ideal de cristão”.

“Na primeira parte Jesus critica os escribas, mestres da lei, por três defeitos que se manifestam em seu estilo de vida: soberba, cobiça e hipocrisia”.

“Sob sua aparência solene se escondem falsidades e injustiças”, explicou o Papa.

Assim, “enquanto se vangloriam em público, usam sua autoridade para ‘devorar as casas das viúvas’ que eram consideradas, junto aos órfãos e estrangeiros, as pessoas mais indefesas e menos protegidas”. 

O Papa advertiu que “também hoje existe o risco de assumir estas atitudes”, por exemplo “quando se separa a oração da justiça, porque não se pode render culto a Deus e causar feridas aos pobres, ou quando a gente diz que ama Deus, mas antepõe a Ele a própria vangloria, o próprio lucro”.

Retomando o Evangelho, o Santo Padre explicou que “a cena está ambientada no templo de Jerusalém, precisamente no lugar onde as pessoas lançavam as moedas como oferta”.

“Há muitos ricos que atiram muitas moedas e há uma pobre mulher, viúva, que dá apenas duas moedinhas. Jesus observa atentamente esta mulher e chama a atenção dos discípulos sobre o grande contraste que há na cena”.

“Os ricos deram, com grande ostentação, aquilo que para eles era supérfluo, enquanto a viúva, com discrição e humildade, deu ‘tudo o que tinha para viver’ e por isso – diz Jesus –, ela deu mais que os outros”.

Francisco assinalou que “por motivo de sua extrema pobreza, teria podido oferecer uma só moeda para o templo e ficar com a outra para ela. Mas não quis ir à metade com Deus: priva-se de tudo. Em sua pobreza, compreendeu que, tendo Deus, tem tudo; sente-se amada totalmente por Ele e, por sua vez, ama-O totalmente”.

“Peçamos ao Senhor de nos admitir à escola desta pobre viúva que Jesus, entre a perplexidade dos discípulos, faz subir à cátedra e apresenta como mestra do Evangelho vivo. Por intercessão de Maria, a mulher pobre que deu a sua vida a Deus por nós, peçamos o dom de um coração pobre, mas rico em uma generosidade alegre e gratuita”, concluiu.