“Autor, pai, doutor, apóstolo, promotor e propagandista da devoção litúrgica aos sagrados Corações de Jesus e Maria”. Assim o São Pio X definiu São João Eudes, cuja memória litúrgica a Igreja celebra nesta quarta-feira, 19 de agosto.  O sacerdote francês é o fundador da Congregação de Jesus e Maria e da Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor. Também foi ele quem, pela primeira vez introduziu a festa pública do Sagrado Coração.

João Eudes nasceu em 14 de novembro de 1601, na Normandia, França. Era o primogênito dos seis filhos do casal Isaac e Marta. Desde menino, deu sinais de grande inclinação ao amor de Deus. Aos 14 anos, João ingressou no colégio dos jesuítas de Caen. Seus pais desejavam que se casasse e seguisse trabalhando na granja da família. Mas João, que tinha feito voto de virgindade, recebeu as ordens menores em 1621 e estudou Teologia em Caen com a intenção de consagrar-se aos ministérios paroquiais. Entretanto, pouco depois ingressou na congregação do oratório, que tinha sido fundado em 1611. Depois de solicitar com grande dificuldade a permissão paterna, foi recebido em Paris pelo superior geral em 1623. A finalidade da congregação do oratório consistia em promover a perfeição sacerdotal. Dois anos depois, recebeu sua ordenação, dedicando-se integralmente à pregação entre o povo.

Em 1627, ocorreu na Normandia uma violenta epidemia de peste e João se ofereceu para assistir a seus compatriotas. O Pe. Eudes passou dois meses na assistência espiritual e material aos doentes. Depois, foi enviado ao oratório do Caen, onde permaneceu até que uma nova epidemia se desatou nessa cidade, em 1631. Para evitar o perigo de contagiar seus irmãos, João se separou deles e viveu no campo, onde recebia a comida do convento.

Passou os dez anos seguintes na pregação de missões ao povo. São João Eudes se distinguiu entre todos os missionários. Assim que acabava de pregar, sentava-se para ouvir confissões, já que, segundo ele, “o pregador agita os ramos, mas o confessor é o que caça os pássaros”.

Uma das experiências que adquiriu durante seus anos de missionário, foi que as mulheres de má vida que tentavam converter-se, encontravam-se em uma situação particularmente difícil. Durante algum tempo, buscou resolver a dificuldade alojando-as provisoriamente nas casas das famílias piedosas, mas se deu conta de que esse remédio não era de todo adequado. Madalena Lamy, uma mulher de origem humilde, que tinha dado albergue a várias convertidas, disse um dia ao santo: “Agora vão tranquilamente a uma Igreja para rezar com devoção diante das imagens e com isso creem cumprir com seu dever. Não lhes enganem, seu dever é alojar decentemente a estas pobres mulheres que se perdem porque ninguém lhes estende a mão”.

Estas palavras produziram profunda impressão em São João Eudes, que alugou em 1671, uma casa para as mulheres arrependidas, na qual podiam albergar-se, desde que encontrassem um emprego decente. Mais tarde, as religiosas que atendiam às mulheres arrependidas formaram Congregação das Irmãs de Nossa Senhora da Caridade do Refúgio, ordem que deu origem, no século XIX, à Congregação de Nossa Senhora da Caridade do Bom Pastor, conhecida como as Irmãs do Bom Pastor.

Em 1643, depois de muito orar, refletir e consultar, São João Eudes abandonou a congregação do oratório. A experiência lhe ensinou que o clero precisava reformar-se antes que os fiéis e que a congregação só poderia conseguir seu fim mediante a fundação de seminários.

Decidiu formar uma associação de sacerdotes diocesanos, cujo objetivo principal seria a criação de seminários para a formação de um clero paroquial zeloso. A nova associação foi fundada no dia da Anunciação de 1643, em Caen, com o nome de “Congregação de Jesus e Maria”. São João Eudes e seus cinco primeiros companheiros se consagraram à “Santíssima Trindade, que é o primeiro princípio e o último fim da santidade do sacerdócio”. O distintivo da congregação era o Coração de Jesus, no que estava incluído misticamente o de Maria; como símbolo do amor eterno de Jesus pelos homens.

Em 1671, publicou um livro intitulado “A Devoção ao Adorável Coração de Jesus”. Já antes, o santo tinha instituído em sua congregação uma festa do Santíssimo Coração da Maria. Em seu livro incluiu uma Missa e um ofício do Sagrado Coração de Jesus. Em 31 de agosto de 1670, celebrou-se pela primeira vez a dita festa na capela do seminário de Rennes e logo se estendeu a outras Dioceses. Assim, embora São João Eudes não tenha sido o primeiro apóstolo da devoção ao Sagrado Coração em sua forma atual, foi ele “quem introduziu o culto do Sagrado Coração de Jesus e do Santo Coração da Maria”, como o disse Leão XIII em 1903. O decreto de beatificação acrescentava: “O foi o primeiro que, por divina inspiração lhes tributou um culto litúrgico”.

Clemente X publicou seis bulas nas que concedia indulgências às confrarias dos Sagrados Corações de Jesus e Maria, instituídas nos seminários de São João Eudes.

Durante os últimos anos de sua vida, o santo escreveu seu tratado sobre “O Admirável Coração da Santíssima Mãe de Deus”; trabalhou na obra muito tempo e a terminou um mês antes de morrer. Sua morte ocorreu em 19 de agosto de 1680.

Foi canonizado em 1925 e sua festa foi incluída no calendário da Igreja do ocidente em 1928.