Diante do atual contexto de crise econômica e política, pelo qual passa o Brasil, o Arcebispo de Belo Horizonte (MG), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, chamou a atenção para a necessidade de uma reconstrução que passa pelas instâncias governamentais, instituições políticas e os próprios cidadãos. “As pancadas nas panelas – como legítima manifestação de protesto cidadão – precisam ser martelos na consciência de todos”, alerta.

Em recente artigo, o Prelado classifica como “crítico” o atual momento vivido pelo país. De acordo com ele, a reconstrução política é prioridade e a necessidade de qualificação no âmbito dos partidos é “incontestável”.

“É lamentável quando o âmbito partidário torna-se um ‘quartel’ na defesa de interesses de poucos, na contramão da cidadania, para alimentar esquemas de corrupção e a depredação do erário”, afirma.

Dom Walmor observa, porém, que há “resistências de todo o tipo” às reconfigurações que se mostram necessárias e que certos políticos que deveriam exercer a missão de representar o povo não o fazem. “Hoje, por exemplo, no ‘olho do furacão’ da crise econômica, agravada pela crise política, alguns representantes da população, em causa própria, votam aumento de seus próprios salários”, constata.

Diante desse fato, aponta como “exemplar, cidadã e destemida” a mobilização “de uma comunidade que impediu a vereança do seu município de aumentar os próprios vencimentos”. O caso aconteceu em Santo Antônio da Platina, no interior do Paraná, onde após protesto de moradores, a Câmara de Vereadores da cidade – que estava prestes a aumentar os salários do prefeito e dos parlamentares – decidiu aprovar emenda que reduz os valores.

Segundo o Arcebispo, “há, na verdade, uma ‘ladainha’ de vícios no âmbito da política partidária que precisa de correções, retardadas pela falta de estatura dos que se oferecem à tarefa-missão de representar o povo, suas comunidades e seus interesses”.

Para fazer frente à esta situação, Dom Walmor recomenda uma reconstrução política que atinja as raízes da cidadania. “É hora de um pacto de reeducação cidadã”, expressa.

Neste sentido, convoca cada cidadão a refletir sobre o “peso próprio da crise” e, assim, pontua como necessárias atitudes que respondam ao consumismo, ao desperdício, à indiferença com os pobres, ao desrespeito ao bem comum e à busca desenfreada pelo lucro.

“Existem saídas para as crises. Porém, elas não são encontradas porque, de modo geral, não se quer abrir mão de privilégios, reconfigurar gastos, orçamentos e projetos”, constata o Arcebispo.

Ao ressaltar que das crises podem nascer consequências positivas, Dom Walmor finaliza o texto manifestando o desejo de “que o momento atual da sociedade brasileira torne-se oportunidade para as mudanças necessárias, particularmente em uma reconstrução política que ampare o exercício da cidadania”.