Uma foto que se tornou viral na semana passada mostrando uma menina síria “rendendo-se” diante da lente de uma câmara pensando que era uma arma, é por si só uma mostra da situação dramática que vivem as crianças refugiados no Meio Oriente.

“No que diz respeito às crianças, eles vivem uma situação muito complexa e atemorizante. Suas circunstâncias não são nada boas.”, declarou Zerene Haddad, a chefe do Escritório Regional de Advocacia e Comunicações do Serviço Jesuíta para os Refugiados no Meio Oriente e no Norte da África à CNA, a agência em inglês do Grupo ACI.

Haddad comentou que as crianças que vivem no campo de refugiados costumam estar caladas, é como se estivessem “vazios por dentro”, e explicou que as crianças afetados pela guerra e a violência têm problemas para expressar o que sentem.

Esta dificuldade para expressar suas emoções e a carência de maturidade emocional requerida para superar os traumas vividos produzem um efeito negativo na recuperação das crianças.

A BBC contatou o fotógrafo Osman Sagirli, quem comentou à agência que ele tomou a fotografia em dezembro do ano passado no acampamento de refugiados de Atmeh, Síria.

Sagirli comentou que Hudea, a menina de 4 anos que fotografou, tinha percorrido aproximadamente 145 quilômetros desde a Hama, seu lar, com sua mãe e seus dois irmãos para chegar ao acampamento de refugiados.

“Ela estava assustada porque mordeu os lábios e levantou as mãos quando tomei a foto. Usualmente as crianças saem correndo, tampam a cara ou até sorriem quando veem uma câmara, mas quando tirei a lente a minha câmara ela pensou que era uma arma”, declarou o fotógrafo.

Sagirli explicou que as fotografias das crianças nos campos de refugiados são mais impactantes que as dos adultos. “Sabemos que há muitos deslocados. O sofrimento se percebe mais através das crianças que dos adultos. Sua inocência reflete melhor seus sentimentos”.

Sobre o comportamento das crianças refugiadas, Haddad comentou que há diferentes reações.

“Alguns estão visivelmente traumatizados e outros são capazes de lutar com o sofrimento, parece que o estão superando mas demoram em sanar suas feridas internas. Também há crianças que se tornam muito agressivas, outras que continuam em estado de choque e não podem falar”, indicou.

Todos eles perderam amigos, família ou experimentaram algum tipo de violência extrema. Inclusive o fato de fugir de casa, chegar a um lugar onde as condições de vida são difíceis e lutar com a perda de suas famílias, converte-se em um trauma que muda totalmente suas vidas, mesmo se não passaram por situações violentas. Além disso, este trauma se incrementa quando as crianças são obrigadas a viver em condições mais rígidas que o normal.

Também há problemas quanto à educação das crianças porque é complicado que um menino que morre de fome consiga concentrar-se e que aprenda. A maioria das crianças que vão à escola do campo de refugiados têm transtornos alimentícios ou estão desnutridos. Do mesmo modo, há mais probabilidades de contrair enfermidades devido à falta de saneamento e a pobreza dos campos.

Mas, apesar das terríveis circunstâncias, Haddad disse que se impressionou com a fortaleza das crianças para sobreviver.

Outro problema na educação das crianças é que muitos não vão à escola há anos devido à guerra civil na Síria que já dura 4 anos. Os líderes políticos sírios qualificaram as crianças sírias que cresceram sem educação, devido aos estragos da guerra, como “a geração perdida”.

Haddad assinalou que se estabeleceu um sistema no campo de refugiados para gerar uma disciplina de hábitos nas crianças. Até agora os resultados na vida das crianças foram favoráveis.

Entretanto, a encarregada destacou que há uma iniciativa que contribuiu a melhorar a situação das crianças. Trata-se de uma relação de correspondência escrita.

Um menino do Alaska teve a ideia de fazer postais para as crianças refugiadas. Ele pediu a seus companheiros de classe que desenhassem em um lado e que escrevessem uma mensagem no outro. Quando as crianças receberam os postais começaram a responder com desenhos e palavras positivas.

“As crianças só querem ser crianças e o desenho é uma maneira de recuperar do trauma”, comentou Zerene Haddad.

A Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre, AIS, por meio dos pedidos que chegam dos religiosos locais, fornece ajuda de emergência às famílias na Síria e outras áreas afetadas pela guerra civil e o terrorismo. Desde 2011 a Fundação enviou mais de 65 milhões de Reais para projetos no Oriente Médio, ajudando a fornecer alimentos, medicamentos, cuidados médicos, ajuda financeira para aluguel das famílias, combustível, aquecimento e eletricidade.

Para conhecer os projetos da Fundação e saber como ajudar, visite:
http://ais.org.br/

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