A dramática situação no Iraque e na Síria se agrava e aumenta também a preocupação do Papa Francisco pelos cristãos e membros de outras minorias religiosas que se viram obrigadas a fugir de suas casas para proteger sua vida do fundamentalismo do Estado Islâmico (ISIS).

A confirmação vem da parte de Mons. Segundo Tejado, Subsecretário do Pontifício Conselho Cor Unum –conhecido por ser o organismo vaticano que canaliza a ajuda caridosa do Papa no exterior-, que acaba de retornar de uma viagem ao Iraque encabeçando uma delegação da Santa Sé.

Durante três dias a delegação buscou levar esperança aos cidadãos de Erbil e Duhok, transmitindo as palavras de ânimo e carinho do Papa Francisco.

Mons. Tejado contou ao grupo ACI que antes de partir no dia 26 de março, participaram da Audiência Geral com o Papa, e o saudaram ao final. “Pedimos ao Santo Padre que abençoasse as imagens da Virgem Desatadora dos Nós, da qual ele é muito devoto”, explica. “Pensamos que o problema do Oriente Médio são muitos nós entrecruzados que vão surgindo ao longo dos anos e só quem é testemunha da Ressurreição, como a Virgem, podem desatá-los”.

O Pontífice “nos abençoou e animou; pediu-nos que levássemos a estas pessoas da Igreja local sua proximidade, amor e sua preocupação”.

O sacerdote quis destacar ainda outro motivo da viagem: “Estamos em tempo de Páscoa e nossa viagem quis ser o início de uma preocupação que o Papa tem e que está manifestando nos últimos Ângelus, intervenções, etc: o drama que se vive nesta zona. É o que vimos ali”.

Mons. Tejado explica que “nossa missão é animar, ajudar e coordenar as agências católicas que muitas vezes são as esquecidas nestes lugares. Temos nossos braços que são as Cáritas e as organizações humanitárias”. “Fomos animar estas pessoas que estão trabalhando em condições muito difíceis”, sublinha.

O que durante três dias viveu esta delegação do Vaticano no Iraque foi muito duro. “Existe o perigo de que os cristãos desapareçam no Oriente Médio. É um perigo real. Constatamo-lo. Muitas famílias foram expulsas de Mossul e outros povos com milenária tradição cristã; foram expulsas e exiladas”, recorda o Subsecretário do Cor Unum.  

Sobre a situação atual, o sacerdote indica acredita que “a Igreja sempre tem um ponto de vista muito real da situação. São dois milhões e meio de deslocados do Iraque, sem contar os da Síria. É uma catástrofe de dimensões enormes”. Ao mesmo tempo, alerta que “possivelmente a atenção internacional tenha diminuído”. “A Igreja tem informação privilegiada porque a Igreja local informa constantemente sobre a situação”, pontuou.

“Tivemos uma reunião muito interessante com o responsável pelas Nações Unidas, que nos disse que também estão caindo os recursos enviados e devido a isto terá que ir fechando projetos e programas. Estamos preocupados porque a emergência não desceu de nível, está crescendo”.

Em sua opinião, todos devem ser conscientes de que “é muito duro ter que pegar a sua família de noite e fugir. Tomar seus filhos, a sua mulher, a sua avó e ter que sair de sua terra, deixar o trabalho e a escola e irem a um lugar no qual não se sabe se os irão acolher ou não, se terão o que comer ou não”.

Durante esta viagem, Mons. Tejado diz que conheceu “histórias muito variadas” mas que todas têm algo em comum: “a situação de ira, dor, humilhação; deixar a própria casa, a escola, o trabalho, sua vida, sua cidade, seu povo, é muito duro”, repete.

Uma das coisas que mais lhe chamaram a atenção é que “muitos com os que falamos tinham preocupação pela volta, pois diziam ter sido denunciados pelos seus próprios vizinhos e se perguntam como vão voltar a conviver com aqueles que os delataram e ameaçaram quando chegavam os milicianos”.

“O Arcebispo de Erbil nos disse que o grande problema destas pessoas é que não têm esperança. Por isso organizou uma evangelização nos campos com membros do Caminho Neocatecumenal e outras comunidades para levar esperança, algo que lhes possa ajudar. O Bispo se preocupa muito pelo aspecto espiritual”, relata Monsenhor Tejado.

No último 27 de março, a Santa Sé comunicou que o Papa Francisco tinha decidido enviar novamente ao Iraque o Cardeal Fernando Filoni, Prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, “como sinal de proximidade, de afeto e de união em oração” com as vítimas.

No comunicado, o Vaticano assinalava que “é constante a preocupação do Papa Francisco pela situação das famílias cristãs e de outros grupos, vítimas da expulsão de suas próprias casas e de seus próprios povos”.

A Santa Sé sublinhou que “o Papa reza por eles e espera que possam retornar e reatar suas vidas nas terras e nos lugares onde, durante centenas de anos, viveram e tiveram relações de boa convivência com todos”.

“Na Semana Santa, estas famílias compartilharão com Cristo a injusta violência da que são vítimas, e participarão da dor do próprio Cristo”, indicava o texto.