O vaticanista do jornal Corriere della Sera da Itália, Luigi Acattoli, assinalou em um artigo publicado essa sexta-feira que, contrário ao que publicaram alguns meios informativos, a Papa João Paulo II em nenhum momento pensou em renunciar a seu cargo.

Em seu testamento, explica Acattoli, o Pontífice acrescentou no 2000 importantes comentários ao texto original escrito durante os Exercícios Espirituais de 1979, a poucos meses de iniciado seu pontificado.

Nessa passagem o Pontífice assinalava textualmente: “À medida que passa o Ano Aposentar do 2000, um dia atrás de outro, fecha-se atrás de nós o século XX e se abre o século XXI. Segundo os desígnios da Providência se me concedeu viver no difícil século que está acabando, que começa a pertencer ao passado e agora, no ano em que alcanço os 80 anos de vida ('octogesima adveniens'), é necessário perguntar-se se não é tempo de repetir com o bíblico Simeão: ‘Nunc dimittis’”.

Segundo Acattoli, a Papa, “não pensou jamais seriamente em renunciar, mas no 2000 lhe pediu ajuda a Deus para compreender até quando continuar”.

Em efeito, a oração do Nunc dimittis, que é rezada pela Igreja na oração de Completas –ao fim do dia–, não faz referência à renúncia, mas sim ao momento da morte, quando repete as palavras do Evangelho: “Agora Senhor, segundo a tua palavra, podes deixar ao teu Servo ir-se em paz…”.

“E estas palavras faziam referência, no Papa Wojtyla, não à paz do retiro, mas sim da eternidade”, explica Acattoli.

O Papa, dá a entender o Vaticanista, estava-se perguntando se não havia já chegado o momento no qual Deus o chamaria à sua presença e se preparava, portanto, para a morte, que chegaria recém cinco anos depois.

Isso explica que a adição feita a seu testamento no 2000 conclua assinalando: “Na medida em que se aproxima o limite da minha vida terrena volto com a memória ao princípio…”.