“Embora especialista em cultivar a opinião pública, o Papa Francisco não se deixa aprisionar por ela”, afirmou recentemente o vaticanista Sandro Magister em uma de suas colunas, onde destacou a fidelidade do Pontífice argentino à doutrina da Igreja, especialmente no que se refere à defesa da vida ao tomar como referência a encíclica Humanae Vitae de Paulo VI.

Em seu artigo, Magister advertiu que o Santo Padre terá para 2015 ou 2016 –quando abordar as conclusões do Sínodo da Família-, “a enorme pressão exercida por uma opinião pública que, previsivelmente, estará quase toda ela à espera de um sim” à comunhão aos divorciados em nova união.

Uma pressão, recordou, que Paulo VI enfrentou em seu momento, nos anos sessenta quando “tinha que decidir sobre a licitude dos anticoncepcionais com teólogos, bispos e cardeais alinhados em sua maioria a favor”.

“Mas, em 1968, Paulo VI decidiu contrariamente com a encíclica ‘Humanae Vitae’”. Uma encíclica que foi amargamente respondida por parte de episcopados inteiros e com a desobediência de inúmeros fiéis. Mas que hoje o Papa Francisco, como sempre também aqui surpreendente, já disse que quer assumir como seu próprio parâmetro de referência”, assinalou.

Nesse sentido, Magister recordou as declarações de Francisco ao “Corriere della Sera”, no dia 5 de março, quando disse que “tudo depende de como seja interpretado o texto da 'Humanae Vitae'. O próprio Paulo VI, para o final, recomendava aos confessores muita misericórdia e atenção às situações concretas. Mas a sua genialidade foi profética, pois teve a coragem de ir contra a maioria, de defender a disciplina moral, de aplicar um freio cultural, de opor-se à teoria populacional neomalthusiana presente e futura. O tema não é mudar a doutrina, mas ir a fundo e assegurar-se de que a pastoral leve em consideração as situações de cada pessoa e o que essa pessoa pode fazer”.

“O enigma Francisco está todo ele contido neste formidável elogio da ‘Humanae Vitae’. Porque deste Papa ‘que vem do fim do mundo’ podemos certamente esperar de tudo, também que sobre a questão dos divorciados recasados tome ao final uma decisão ‘contra a maioria’: quer dizer, uma decisão que reconfirme de maneira intacta a doutrina do matrimônio indissolúvel, embora esteja cheia da misericórdia dos pastores de almas diante das situações concretas”, expressou Magister.

Nesse sentido, recordou durante a canonização de São João Paulo II, Francisco “sabia com segurança o que o Papa emérito havia dito umas semanas antes sobre este grande predecessor dele: ‘João Paulo II não pedia aplausos e tampouco olhava ao seu redor preocupado por como seriam acolhidas suas decisões. Ele atuou partindo de sua fé e de suas convicções e estava disposto a assumir os golpes. A coragem da verdade é um critério sobressalente da santidade’”.

O texto completo pode ser lido em italiano no site:

http://chiesa.espresso.repubblica.it/articolo/1350783?sp=y